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quarta-feira, 27 de março de 2013

O que significa ter um papa jesuíta

De acordo com o director da Civiltá Cattolica, padre Antonio Spadaro, SJ, a eleição de Bergoglio deve ser entendida como o mais alto serviço à Ecclesia universa.


Roma,


Um evento "realmente único" para toda a Companhia de Jesus. Dessa forma Antonio Spadaro SJ, director da Civiltá Cattolica, comentou a eleição de Jorge Mario Bergoglio a Romano Pontífice, com o nome de Francisco.

O estudioso jesuíta falou esta manhã como moderador na sede da Civiltá cattolica, na apresentação dos dois istant book, Guarire dalla corruzione e Umiltá, strada verso Dio, (Curar da corrupção e Humildade, caminho para Deus), editora EMI, que reúne discursos e homilias do cardeal Bergoglio, durante o seu ministério como arcebispo de Buenos Aires.

Um jesuíta que se torna papa, de acordo com Spadaro, é um fato que pode ser explicado da seguinte forma: "Nós fazemos um voto especial de obediência ao Papa - disse o director da Civiltá Cattolica – porque ele tem uma visão mais universal da Igreja e sabe quais são as fronteiras às quais enviar-nos. Se um de nós se torna Papa, este fato deve ser compreendido como o mais elevado serviço à Ecclesia universa”.

A visão da Igreja do Papa Bergoglio é "inclusiva", disse Spadaro. Para usar as palavras do então arcebispo de Buenos Aires, na conferência dos bispos latino-americanos em Aparecida de 2007, a Igreja deve evitar a "doença espiritual" da autoreferencialidade, que a torna fechada em si mesma e a faz envelhecer.

Naquela ocasião o cardeal Bergoglio foi muito claro: "Entre uma Igreja acidentada que sai pelas ruas e uma Igreja doente de autoreferencialidade, não tenho dúvidas em preferir a primeira”.

No livro Umiltà. La strada verso Dio (Humildade. O Caminho em direcção a Deus), Bergoglio define a autoreferencialidade como a “muralha de uma ideologia defensiva”: a atitude oposta é portanto “aquela de quem sabe ser humilde – comentou Spadaro – de quem não vê o mundo como um inimigo mas “sabe aproximar-se dos outros”. Na sua capacidade de aproximar-se dos outros “Papa Francisco parece um mestre”, acrescentou o director da Civiltá Cattolica.

A outra mini-antologia, Guarire dalla corruzione (Curar da corrupção), foi definida por Spadaro “uma verdadeira bomba, especialmente nos nossos dias”. Nesta última publicação, o Papa explica como a ideologia e a presunção de não questionar-se, sejam “o fruto de um coração corrompido”.

Torna-se corrupto, acrescenta Bergoglio, quando existe “cansaço da transcendência” que leva à "frivolidade", uma atitude muito mais grave do que a luxúria ou do que a avareza, justamente porque mancha a própria ideia da transcendência e, portanto, do pecado.

O corrupto é aquele que “vive enredado dentro de si mesmo” e “não tem amigos mas cúmplices, “idiotas úteis”, continuou Spadaro, explicando o pensamento do Papa.

Além disso, quando Bergoglio fala de "pobreza", refere-se à "pobreza jesuítica", um conceito muito diferente da "ideologia da pobreza" e oposto à "burguesia do espírito” e ao “clericalismo hipócrita”. “Ser realmente pobres é ser realmente livres - disse Spadaro -. Ser corrupto é estar enroscado numa armadilha infernal".

Uma maneira de pensar, que de vários ângulos, segue a do seu antecessor, o beato João XXIII, que em 1960 tinha confiado ao então director da Civiltá Cattolica, padre Roberto Tucci SJ (mais tarde criado cardeal), que os rígidos protocolos do Vaticano o colocavam numa posição desconfortável e o faziam sentir-se “como um preso”. Papa Roncalli aspirava ser um “bonus pastor para todos, próximo do povo”.

Tal como o seu antecessor imediato Bento XVI, o Papa Francisco está lutando "contra as raízes da crise do Ocidente" e "contra a corrupção". Ambos os papas, ainda tão diferentes, aparecem como baluartes "contra a crise da liberdade no momento da crise do Ocidente, que é também económica, mas não só".

Papa Francesco, disse Spadaro, não pode portanto ser assimilado a alguma “categoria política ou sociológica”, mas apresenta uma “profundidade de conteúdo que deve ser compreendida”.

Os seus livros apresentados hoje não são de “pura devoção” e nem sequer de “pura denúncia”. O compromisso social que o Papa encoraja, parte de “categorias espirituais” e a sua pregação conduz de modo inequívoco a uma “reflexão sobre nós mesmos”.

Papa Francesco, disse Spadaro, em uma conversa com ZENIT, vai “direto ao coração das pessoas” e une uma “personalidade de governo” com as “capacidades pastorais” mas, ao mesmo tempo, se apoia em “conteúdos muito fortes”.

Não é um papa "intelectual" no sentido de que não é "abstracto", mas a sua reflexão nasce da "ciência do espírito". Ele se baseia em um método, o da espiritualidade inaciana que implica “grande reflexão, também em categorias culturais de compreensão”.

O seu poder de comunicação, é a capacidade de transmitir mensagens sem as "barreiras comunicativas clássicas dos discursos intelectuais”. O seu "ritmo" é aquele típico dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, portanto, um “ritmo ternário” que ajuda a compreensão e a memorização, por meio das canónicas três palavras-chave para entender, ampliar e aprofundar.

Papa Francisco, acrescentou Spadaro, sabe usar "imagens" e "metáforas" muito fortes que impactam a imaginação e que ajudam a memorização. Tem também uma grande capacidade de comunicar não verbalmente, usando a “mímica”, a “gestualidade” e o “contato físico”.



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