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quarta-feira, 24 de abril de 2013

A França não se rende ao matrimónio gay: terceira grande manifestação em Paris e veladas com bispos

A imprensa coincide: a lei crispa e divide

Recebem com protestos os ministros de Hollande por todo o país; celebram veladas junto aos municípios, há concentrações em cada cidade. A França leva uma semana em pé de guerra.

Actualizado 22 de Abril de 2013

P. J. G./ReL


Se estas manifestações, com a sua extensão e insistência, se dessem na Rússia contra Putin, em vez de na França contra Hollande e a sua redefinição do matrimónio, a imprensa as traria na capa com tons épicos (como analisam em Polemia.com) e o chamariam "a Primavera russa".

Os manifestantes pró-família queixam-se do bloqueio que faz a imprensa. "Médios franceses, mostrai a verdade", é um mantra repetido no Twitter.

Depois de duas manifestações com centenas de milhares de pessoas em Paris, o movimento pró-família organizou centenas de actos em toda a França, para romper parte do silêncio mediático a partir da imprensa regional (bastante forte em França).

Contudo, ontem domingo saíram pelo menos umas 45.000 pessoas na grande manifestação de Paris (70.000 segundo os manifestantes), às que há que somar outra manifestação na passada sexta-feira também na capital com outras 10.000 pessoas.

Além disso, durante toda a semana multiplicaram-se os protestos locais, que tem vários formatos:

1) As veladas de oração e silêncio: fazem-se pela noite, em lugares ou perante os municípios; às vezes basta com que acudam 19 pessoas, as justas para não requerer permissão municipal. Muitas vezes as protagonizam jovens, porque se tenta permanecer toda a noite. Na sexta-feira o bispo de Bayona, Marc Aillet, participou como um mais na velada da sua cidade. Vinha de Paris, de participar na velada mais numerosa.

O bispo de Toulon, Dominique Rey, provavelmente o bispo que mais sabe sobre a Nova Evangelização na Europa, esteve na velada nocturna de Toulon, animando os participantes, bastante numerosos e jovens.


Marc Aillet, bispo de Bayona (à esquerda),
sentado na velada na passada
sexta-feira na sua cidade
Velada com oração pró-família em Toulon;
de pé, o bispo Dominique Rey


2) A concentração ou manifestação perante perfeitos e julgados, os lugares onde terão lugar os "matrimónios redefinidos". Basta juntar um grupo de pessoas com bandeiras para estar ali, fazer ruído e mandar as fotos por Twitter, Facebook e as redes de blogues pró-família. Multiplicadas por muitas cidades, dá uma sensação de país animado.

3) A foto testemunhal: umas quantas famílias e activistas vão a um sítio simbólico da sua região, ondeiam as faixas, fazem-se fotos, e a mandam para a rede pró-família e à imprensa local. "O protesto chegou aqui", é a sua mensagem.


Protesto pró-família perante
a prefeitura de Nancy, uma
de tantas ao longo de todo o país
Manifestação do domingo em Paris, a terceira
marcha massiva contra a redefinição
do matrimónio

4) A recepção a políticos. A rede pró-família inteira-se de que o Ministro da Agricultura (ou qualquer outro) visita para um acto público tal ou qual cidade de província (Perpignan, por exemplo) e as famílias aparecem ali no acto, com as suas bandeiras e faixas e buzinas. Desde há uma semana resulta muito difícil ao gabinete de ministros de Hollande não ser saudados, dia após dia, por manifestantes ao longo de todo o país. A ministra da justiça, Christiane Taubira, que dá nome à lei, é especialmente vaiada ali onde vai.

Todos os analistas, de esquerdas e direitas, coincidem numa coisa: a redefinição do matrimónio de Hollande crispou e dividiu o país. Certa esquerda acusa de "nazis" e "ultradireitistas" os manifestantes, aqueles por sua vez respondem com fotos e vídeos de rabinos e muçulmanas com véu sustendo as faixas pró-família.

Como já difundiu ReL, há suspeitas generalizadas de que há policias infiltrados em alguns actos procurando provocar incidentes violentos para deslegitimar o movimento pró-família, no qual participam famílias inteiras, com crianças e carrinhos de bebé.

Nos protestos costuma haver raparigas disfarçadas de "Mariannes", com gorro frígio, como símbolo de que os valores republicanos foram sequestrados por Hollande, ainda que o historiador Jean Seville considera que é um símbolo equívoco: o gorro frígio representou as autoridades sanguinárias que desencadearam o Grane Terror nos finais do século XIX, com milhares de execuções sumárias.

A política pró-família Christine Boutin insistiu: "este movimento não é um tema de partido, é o povo da França que se levanta, são as pessoas que não querem os valores do 68 e dos liberal-libertários; isso é o que digo ao presidente da República".

Mais fotos e vídeos em "Le Salon Beige": lesalonbeige.blogs.com/my_weblog/




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