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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Femicídio: uma culpa da revolução sexual

Estudos recentes nos EUA sugerem que o fenómeno de 1968, combinado com a ampla difusão da pornografia, intensificou o processo de redução da mulher a mero objecto de desejo


Roma, 26 de Junho de 2013


Quando se fala em femicídio, é preciso mencionar duas notícias. A primeira é que o fenómeno, embora ainda generalizado, está sofrendo uma diminuição, apesar de a cobertura da media fazer parecer o contrário. A segunda é ainda mais surpreendente: a revolução sexual é cúmplice da propagação da violência contra as mulheres.

Mas não era o contrário? Não foi a "liberalização dos costumes" que estabeleceu a paridade, o advento de uma era em que a relação homem-mulher é marcada pelo respeito mútuo? Nem um pouco. Esse mito de 68, sedimentado na cultura dominante, está destinado a cair diante de uma realidade bem diferente.

A realidade revela, por exemplo, que existe uma correlação entre a indústria pornográfica, cujo motor foi a revolução sexual, e a violência contra as mulheres. Um estudo recente, realizado pela Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, e publicado pela revista Violence and Victims, aponta que a pornografia estimula nos homens uma agressividade de tipo misógino. A tese, ignorada por aqueles que se afanam para disparar o alarme social do femicídio, é assumida e compartilhada por Vincenzo Puppo, médico e sexólogo do Centro Italiano de Sexologia (CIS).

Em entrevista ao jornal La Stampa, alguns meses atrás (1), Puppo declarou que a pornografia é viciante e, por isso, tem consequências preocupantes. De acordo com o sexólogo, “a visão contínua e repetida dos órgãos genitais masculinos e femininos induz lentamente, sem que o homem ou a mulher percebam, a uma inibição da capacidade de excitar-se mentalmente: o mesmo estímulo sensorial, repetido continuamente, é excitante no início, mas, depois de um certo tempo, não é mais. E o cérebro precisará de estímulos mais fortes ainda".

Daí que o "salto" para um nível maior de perversão seja curto. “Dos sites, revistas e filmes pornográficos ‘normais’, passa-se para aqueles que contêm, por exemplo, estupros e outros tipos de violência sexual, sadomasoquismo, ou com animais, com crianças, etc”. E quando o cérebro fica viciado em certas abominações, numa viagem infernal do instinto rumo ao abismo, “há quem vá buscar seus desafogos fora desse ‘ambiente’ e acabe por explodir em episódios de violência, não só contra as mulheres, mas, ainda mais grave, também contra meninos e meninas”.

Muita gente deveria escutar bem as palavras deste especialista. Em particular aquelas pessoas que, em nome do "direito ao prazer", ao longo dos anos, nada fizeram além de pisotear o pudor com o auxílio de ferramentas como imprensa, TV, arte, política (2). O resultado é que, pelos modelos propostos ao público, a mulher se reduz a mero objecto de desejo. De guardiã do lar, ela se tornou vítima de própria "emancipação".

É surpreendente que essas pessoas, hoje, sejam as mesmas que rasgam as vestimentas diante da violência contra as mulheres e apontem o dedo para o "modelo arcaico da sociedade", que se basearia no abuso do macho contra a fêmea.

Na verdade, foi precisamente para destruir esse "modelo arcaico da sociedade", ninho de obscurantismos reaccionários, que, algumas décadas atrás, teve impulso o movimento social silencioso, mas devastador, que responde pelo nome de revolução sexual. E os efeitos nefastos, agora, incluindo a violência contra as mulheres, estão sob os olhos de quem for capaz e quiser enxergar.

NOTAS



(2) O Partido Comunista italiano apresentou, em Dezembro de 1977, um projecto de lei com o significativo título "Novas normas para proteger a liberdade sexual".



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