Páginas

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O homem que venceu o regime chinês depois de roubar-lhe a sua vida «Perdi tudo mas aumentei a minha fé»

Revolucionou o campo de prisioneiros com a sua fé


Li JF era um importante juiz, mas católico. Depois de ajudar os pobres, o regime chinês encerrou-o num campo de trabalho, tirou-lhe a sua família e os seus bens. Mas ele curvou a ditadura.

Actualizado 1 de Junho de 2013

Javier Lozano / ReL

Tinha uma vida cómoda e inclusive poderia ter feito fortuna na China, dado o seu importante cargo. Era juiz de um tribunal de uma província da costa Este chinesa. Sem dúvida, Li JF era católico e mais concretamente da perseguida Igreja clandestina.

Não podia continuar vendo como a injustiça crescia e se espalhava ao seu redor sem que ele fizesse nada, pelo que arriscou tudo o que tinha para assim cumprir as palavras do Evangelho. Ser fiel a Jesus Cristo fê-lo perder tudo. Mas não o essencial.

Detido, espancado e despojado dos seus bens
Li esteve 11 anos num campo de trabalho, de "reeducação" para o regime, o Governo vendeu a sua casa, obrigaram a sua mulher a divorciar-se, não viu a sua filha desde a sua detenção e o seu irmão teve que fugir para a Tailândia pelas ameaças. Nem inclusive a sua grande deterioração física pelas catorze horas de trabalho diário conseguiram que este firme católico renegasse a sua fé.

Conta que fez tudo isto porque ouvia uma e outra vez nos seus ouvidos a citação de Isaías 30, 21: “Esse é o caminho, ide por ele”. E assim o fez. Apesar dos sofrimentos e perdas materiais, Li está exultante pois o regime pode arrancar-lhe tudo mas não a sua fé.

O presidente da China Aid, Bob Fu, conta que Li saiu da prisão revelou as cartas que este lhe enviava e nas quais ficava impressionado pela fé de um prisioneiro que nunca perdeu a esperança.

“Ele não foi encarcerado devido à corrupção ou por actividades delituosas, mas sim porque proporcionou assessoria jurídica gratuita aos mais débeis e vulneráveis”, conta Bob Fu.

“Escolheu um caminho diferente”
Na sua explicação da situação, o representante da China Aid relata que “Li poderia facilmente ter ganhado uma fortuna se tivesse decidido continuar a sua cómoda carreira legal, poderia ter evitado a detenção, os espancamentos e as torturas por permanecer em silêncio perante a injustiça. Mas escolheu um caminho diferente”. Um caminho marcado pela fé.

Sem dúvida, Li vê o bom de todos estes anos em vez de centrar-se em tudo o que padeceu. “Perdi tudo, mas aumentei a minha fé em Deus”, afirma orgulhoso. Isso é o que lhe fica e recorda assim as palavras de São Paulo aos Romanos quando disse: “tenho por certo que os padecimentos do tempo presente não são nada em comparação com a glória que tem de manifestar-se em nós”.

No campo de trabalho para onde foi enviado pela sua pertença à Igreja clandestina Li trabalhou durante catorze horas ao dia e passava até três nas aulas de “reeducação”, que passavam por ser uma lavagem ao cérebro. Nem com essas conseguiram curvá-lo.

Conseguiu as bíblias para os presos
E mais, longe de abandonar a sua fé esta ia aumentando entre barras. Tanto que nem os guardas podiam com ele pois a Li não lhe importavam os castigos nem as condenações, só cumprir com o mandato de Jesus Cristo.

De facto, dentro do campo de trabalho conseguiu fazer contrabando para assim poder comprar no exterior Bíblias, as quais eram utilizadas para que ele mesmo ensinasse dezenas de prisioneiros. Nestas aulas lançava perguntas aos seus companheiros, sempre relacionadas sobre “em quem pões a tua verdadeira esperança”.

Evidentemente, as autoridades chinesas não podiam permitir que Li e o resto dos presos lessem e tivessem Bíblias pelo que as confiscaram. Mas ainda com estas, este convencido católico enfrentou o sistema e aproveitando o seu domínio do sistema legal chinês conseguiu reverter a situação.

“Nenhum bem material pode substituir isto”
Li apresentou-se perante o oficial do campo perguntando porque não podiam ter as Bíblias. Este arguiu as suas desculpas mas não pode com Li, que lhe deu uma autêntica lição de leis e conhecimentos. No final, os presos conseguiram voltar a ter as Bíblias.

O resume que o próprio Li faz de todos estes anos encerrado e realizando penosos trabalhos assemelha-se ao dito por São Paulo nas suas cartas. “O meu pai celestial decidiu deixar-me segui-lo levando a minha Cruz. Com dificuldade, escolhi um caminho no qual fico mais pobre em bens materiais e no qual seria mais difícil a comutação da pena. Ainda assim continuei espalhando as sementes do Evangelho. Sou uma pessoa escolhida do Senhor e tal glória não pode ser substituída por nenhum bem material”.

A difícil situação da China
A Igreja clandestina chinesa continua sendo duramente reprimida pelo Governo pois escapa do seu controle. Sem dúvida, os intentos do regime comunista são vãos pois o número de católicos não para de aumentar. A perseguição e o sangue dos mártires inflamam ainda mais a chama do Evangelho em terras chinesas. E o exemplo de Li o põe de manifesto.

Precisamente a semana passada o próprio Papa Francisco oferecia a missa pelos católicos chineses. Na capela de Santa Marta celebrou a Eucaristia em honra de Nossa Senhora de Shesan. Presentes havia uns vinte chineses, entre laicos e sacerdotes. Ali o Papa iniciou a celebração: “oremos pelo nobre povo chinês” e na sua homilia falava de “suportar com paciência” e “ganhar com o amor”. O Papa não esquece este povo lutador e a esta minoria perseguida.

No entanto, a China aparece nos primeiros postos nas classificações de países que mais perseguem os cristãos. O regime continua recluindo católicos em cárceres e campos de trabalho enquanto trabalha duramente para controlar a Igreja fiel a Roma. O caso mais sonoro ultimamente foi a detenção do bispo Ma Daqin. Uma vez ordenado bispo auxiliar para a Diocese de Shanghai em 2012 anunciou publicamente que renunciaria a todos os seus cargos na Igreja patriótica e assim seguir fielmente o Papa. O regime não tardou em responder e pouco depois das suas declarações foi detido e recluído, situação que se mantém até este momento.



in
 

Sem comentários:

Enviar um comentário