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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Nasceu com 19 semanas e viveu uns minutos: «Abracei-o enquanto o seu coração batia», diz a sua mãe

Walter Joshua Fretz

Lexi e o seu bebé Walter, com 19 semanas de gestação
Actualizado 4 de Julho de 2013

Pablo J. Ginés / ReL

Mistério tremendo que fascina. Assim definia o pensador Rudolf Otto "o sagrado".

Como a vida de uma criança. Como a morte de uma criança.

O mistério contempla-se, mais de que se entende. E às vezes se fotografa, para poder continuar contemplando-o.

Walter Joshua Fretz nasceu prematuramente a 19 semanas de ser concebido. Viveu só uns minutos fora do seio materno. Lexi, a sua mãe, fotógrafa, quis contar com imagens do seu filho. E publicou o seu testemunho e a sua foto-reportagem na sua página web.

"Tendo em conta que as fotos deste post são emocionalmente difíceis de manejar. Eu creio que são formosas e mostram que às 19 semanas o meu filho estava plenamente formado", escreve Lexi uma semana depois dos factos, quando muitos milhares de pessoas as viram e reenviaram.


Tocou milhares de vidas
Walter viveu só uns minutos depois do parto, e apenas fez nada: respirar um pouco, e receber amor. Mas tocou muitos milhares de vidas e corações.

Lexi descreve aqueles minutos estranhos nos quais a vida e a morte caminharam juntas no abraço a um bebé. «Levantei-o, abracei-o, enquanto o seu coração batia. Mantive-o próximo do meu coração, contei os seus dedos dos pés e beijei-lhe a cabecita. Sempre guardarei as quentes recordações que tenho dele».


Sucedeu em finais de Junho de 2013, em Indiana (EUA). Lexi Fretz estava preparando-se para fazer fotos num casamento no dia seguinte, quando começou a perder sangue.

Foi ao Hospital de Kokomo onde as contracções se fizeram cada vez mais fortes. Na recepção e nas primeiras fases de emergência trataram-na com frieza. Falavam-lhe do "feto". Mas em ginecologia foi acolhida com carinho, e todos falavam do "bebé".

Lexi viveu o parto acompanhada de oração. O doutor e as parteiras e enfermeiras rezaram com ela e a sua família antes de parir. Umas senhoras vieram rezar com ela depois, no momento de expulsar a placenta.

Assim nasceu Walter, com 19 semanas e 3 dias, acompanhado pela sua mãe Lexi e o seu pai Joshua.

«Estou muito contente de que Joshua tivesse ido ao automóvel buscar a minha câmara. No início não queria fotos, mas são a única coisa que tenho para recordá-lo agora», comenta Lexi.


São fotos que temos todos para contemplar o mistério da vida, a paternidade, a maternidade, a fraternidade... Nascemos. Morremos. Acompanhamo-nos. Perdemo-nos uns dos outros. Muitos esperamos um reencontro.

Na manhã seguinte, as suas irmãs, Michayla e Emma foram ao hospital conhecer o pequenino. Lexi adverte que os pais devem ver estas fotos e reflectir antes de mostrá-las a uma criança pequena, não porque sejam perigosas, mas sim porque "suscitarão um montão de perguntas".


“Eu não duvidei de que necessitava que as meninas vissem o seu irmão. Michayla, sobretudo, havia estado tão emocionada com o bebé, queria tanto um irmão... A Emma custou-lhe um pouco compreender o que lhe estava explicando, quando lhe disse que Jesus levou o bebé para o Céu com Ele. Mas entendeu-o. Disse a algumas pessoas o azar que o nosso bebé morreu, mas não fala muito dele. Michayla é outra história: ficou devastada e chorava e chorava, e fazia muitas perguntas, e é duro para ela quando lhe respondemos que ‘não sabemos’”, explica Lexi.


O mistério, na Internet
Que se passa quando o "mistério tremendo que fascina", o sagrado, sai da estrita intimidade e chega às redes sociais? Todas as culturas tiveram ritos e protocolos para tratar a morte e a dor. Em qualquer uma delas castigar-se-ia ou desprezar-se-ia quem fosse insultar ou desprezar a dor de uma família no luto pela morte de um filho.

Mas na Internet o insulto e o comentário grosseiro é fácil, frequente e gratuito.


"Eu não coloquei estas fotos ou a nossa história num post para conseguir ´likes´ no Facebook nem comentários. Essas coisas não me interessam. Partilhei as fotos para que os meus amigos e a minha família pudessem ver o meu menino perfeito. Nunca pensei que pudessem difundir-se assim pelo mundo, sento se alguém pensa que procuro fama ou potenciar o meu negócio. Não é o caso", responde Lexi depois de uma semana de receber comentários de todo o tipo, a maioria emocionados e agradecidos; outros, grosseiros e cruéis.



"O Senhor tem um plano perfeito"
"Os que me conhecem também conhecem o meu coração e o meu amor pelo Senhor. Desejaria que isto não tivesse ocorrido, mas sucedeu por uma razão. Talvez essa razão fosse partilhar com o mundo o perfeito que é um bebé ao qual é legal abortar em muitos estados. Não o saberei nesta vida. Sei que o Senhor tem um plano perfeito e que voltarei a ver o meu filho", expressa Lexi.

E com respeito aos comentários irritantes, dá uma regra básica de "etiqueta da internet": "Se você tem algum problema com a minha fé, ou a minha postura sobre o aborto, simplesmente não comente", propõe.

Que significam 19 semanas?
As gravidezes são iguais na espécie humana em todo o mundo; o ser humano pré-natal desenvolve-se igual em qualquer país. Todos fomos como o Walter. E a medicina pré-natal consegue coisas assombrosas: há prematuros de 20 semanas que sobreviveram. Já se realizam muitas operações fetais que corrigem malformações antes do parto.

Mas as leis são arbitrárias na hora de estabelecer quem pode ser legalmente abortado e quem não.

Walter, com as suas 19 semanas, teria estado protegido pela lei em muitos países, mas não nos EUA nem na Holanda, por exemplo. Assim, os limites variam:

- Holanda: aborto livre até às 24 semanas.
- Suécia: livre até às 18 semanas
- Roménia: livre até às 14 semanas.
- Itália: aborto livre os primeiros 90 dias (quase 13 semanas)
- Alemanha, França, Grécia, Bélgica ou Bulgária: livre até às 12 semanas.
- Portugal: aborto livre nas 10 primeiras semanas
- EUA: sem limite


Em Espanha, desde 2010, a vida de Walter estaria desprotegida até às 14 semanas; logo, a lei protegeria o bebé... A menos que se alegasse um perigoso "risco para a saúde" da mãe ou do feto antes das 22 semanas. Para abortar passadas as 22 semanas exige-se detectar "anomalias no feto incompatíveis com a vida" ou "uma enfermidade extremamente grave e incurável no feto". Ou, simplesmente, viajar até França.

O "mistério tremendo" do sagrado, da vida, é igual para todos os homens e países. As leis que regulam quem pode viver e quem não, são diferentes de país em país, de legislatura em legislatura. Às vezes, de hospital em hospital.


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