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terça-feira, 23 de julho de 2013

Os católicos do Vietname rezam a um marine morto na sua guerra: o padre Capodanno

Caiu em combate e recebeu a condecoração máxima

À direita, o padre Capodanno.
 Actualizado 6 de Julho de 2013

C.L. / ReL

A Igreja é tão universal na comunhão dos santos como no espírito de reconciliação que promove entre irmãos. Ainda que estivessem - pelo menos os seus países - em trincheiras diferentes. Por isso o bispo de Da Nang (Vietname), Joseph Chau Ngoc Tri, não duvidou em desafiar as autoridades comunistas do seu país e oferecer uma misa por um marine dos Estados Unidos caído em acção durante a guerra que enfrentou em ambos os países, e propo-lo além disso aos católicos vietnamitas como intercessor no céu.

Três polícias vigiando
Certo que se trata de um capelão, o padre Vincent Capodanno (1929-1967), nova-iorquino, missionário da congregação de Maryknoll, mas para o governo de Hanói essa condição não é um atenuante.

De facto, a Polícia "visitou" monsenhor Tri quando se anunciou a missa na catedral, no passado 14 de Junho, no 55º aniversário da ordenação sacerdotal do padre Capodanno. E três agentes de polícia vigiaram a cerimónia, à qual assistiram umas quinhentas pessoas entre norte-americanos e vietnamitas. Não queriam que durante o acto se mostrasse nenhuma fotografia que mostrasse emblemas da Navy nem cenas do campo de batalha.


Monsenhor Tri junto ao cartaz comemorativo
de um capelão condecorado que um dia
pode ser santo: o padre Vincent Capodanno.
Mas é que o padre Capodanno o pontapeou a fundo. Depois de ordenar-se sacerdote em 1957, tinha estado destinado como missionário em Taiwan e Hong Kong. Quando se incrementou a presença norte-americana no sudeste asiático solicitou o ingresso nos Marines como capelão. Foi enviado para o Vietname em 1966 e realistou-se ao finalizar o seu serviço.

Um herói em acção

Como conta National Catholic Register, em 4 de Setembro de 1967 a sua unidade (formava parte da 1ª Divisão de Marines) encontrava-se em Quang Tin, no vale de Que Son, próximo de Da Nang, quando foi rodeada por forças norte-vietnamitas superiores. O padre Capodanno teve que dedicar-se a fundo para atender os feridos e oferecer os últimos auxílios espirituais aos soldados que caiam uns atrás do outro.

O bom sacerdote "abandonou o posto de comando, relativamente seguro, e correu por uma área descoberta e debaixo do fogo inimigo. Sem consideração ao intenso fogo inimigo, moveu-se pelo campo de batalha administrando a extrema-unção aos mortos e prestando ajuda médica aos feridos", conta o relatório, que serviu para conceder-lhe em 1969 a Medalha de Honra do Congresso (máxima condecoração militar estadunidense).

Foi então quando foi reclamado por um último marine desde uma zona batida sem piedade pelos charlies. Foi em sua ajuda "na linha directa do fogo de uma metralhadora inimiga situada aproximadamente a 15 metros para assistir ao membro do Corpo mortalmente ferido. A poucos centímetros do seu objectivo, caiu debaixo de uma rajada". O expediente cita a sua "conduta heróica" e "inspirador exemplo" ao "dar a sua vida corajosamente" como razões da distinção.

Só uns dias antes tinha escrito aos seus superiores para renunciar a uma licença de trinta dias que o esperava em princípios de Dezembro: "Quero estar com os meus homens para o Natal e Ano Novo".

O bispo Tri, no território de cuja diocese morreu o padre Vincent e onde portanto se abriu em 2002 o processo de beatificação, comprometeu-se a dizer esta mesma missa em cada 14 de Junho. E falará do padre Capodanno ao Papa Francisco quando lhe efectuar em 2014 a correspondente visita ad limina.


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