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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Físico nuclear e filósofo, via a fé «aborrecida» e «de débeis», até que leu um cura do gulag

Atingiu-o o matemático e sacerdote Pavel Florenskiy

Filonenko, físico e filósofo, explica como encontrou a fé no testemunho do padre Florenskiy
Actualizado 29 de Agosto de 2013

Tempi.it /ReL

"Físico nuclear por formação, teólogo por paixão e filósofo por profissão". Assim apresentou o professor Franco Nembrini a Aleksandr Filonenko, professor de filosofia ucraniano, que desprezava o cristianismo na sua juventude, porque o considerava "aborrecido" e "para débeis".

Isto mudou quando começou a ler o matemático, filósofo e sacerdote ortodoxo russo no gulag Pavel Florenskiy, autor de Pilar e Fundamento da Verdade, uma das grandes figuras do chamado "Século de Prata" da cultura russa, o dos grandes filósofos e literatos cristãos herdeiros de Dostoyevskiy, uma geração truncada pela Revolução bolchevique. Filonenko deu o seu testemunho no Meeting de Rímini, o encontro anual de Verão do movimento Comunhão e Libertação. Assim o recolheu Tempi.it

Um "rapaz soviético modelo"

Nascido em «1968 no mesmo hospital que Gorbachov» e crescido como «um rapaz soviético modelo seguindo todas as fases da educação comunista», Filonenko, desde o princípio, rejeitou o cristianismo, considerado muito aborrecido. «Tinham-nos ensinado que a religião só era uma forma de compensação. Se estavas doente e débil, tinhas necessidade da muleta da religião para caminhar; se eras ateu, por outro lado, não a necessitavas. E eu me sentia forte».

Mas algo muda aos 20 anos depois da leitura da história do padre Pavel Florenskiy, filósofo, matemático e sacerdote russo condenado a dez anos num lager e depois transferido para o campo de prisioneiros das ilhas Solovki, o primeiro terrível gulag comunista. «Ler como o padre Pavel tinha conseguido manter a sua vitalidade de estudioso e criativo também no lager impressionou-me profundamente. Inclusive tinha escrito à sua família antes de ser mandado para as ilhas Solovki: “Vinde aqui porque é um lugar muito interessante”», conta o docente ucraniano, que hoje ensina e vive em Charkov. «Não pude evitar colocar-me a pergunta: de onde vem a sua vitalidade? E quando descobri que vinha da relação com Cristo, pensei: “Se também ele é um doente, um inválido, então também eu quero estar com os inválidos e não com os ateus, que são infinitamente mais aborrecidos”».

Seguir a quem leva a Cristo

Assim começa a busca de «alguém a quem seguir para que me levasse a Cristo, porque não sabia como chegar eu só». E quando por casualidade um amigo, em 1997, lhe faz escutar uma gravação de um discurso do metropolita Antonio de Surozh, fundador da igreja ortodoxa em Inglaterra, Filonenko entende que a persona tão procurada podia ser ele e decide ir vê-lo: «Depois de conhecê-lo acolhi no meu coração a sua mensagem: se queres conhecer a Cristo, deves estar disponível para um encontro do qual nasce a fé. A fé nasce da alegria causada pelo reconhecimento de que Deus nos chama pelo nosso nome».

Desses dois primeiros encontros e do abraço do cristianismo ortodoxo brotaram outros muitos (entre eles, o encontro com «os amigos de Comunhão e Libertação»), «que eu não procurei, mas que sucederam».

Com os meninos inválidos
Assim, por exemplo, quando um amigo lhe pede ajuda para alguns meninos inválidos para os quais o Estado não havia disposto nenhum tipo de assistência, Filonenko, que não teria jamais «imaginado que eu me ocupasse destas coisas», funda a associação sócio-cultural “Emmaus”.

Tinha uma rapariga com problemas graves que todos diziam que era incapaz de estudar. Quando nos a apresentaram, o seu único futuro era o de ser levada a uma casa de anciãos e viver ali. Nós a ajudámos a estudar, apesar de que todos diziam que era impossível: conseguiu entrar num instituto técnico e agora foi aceite na universidade».

«Havia outra», continua contando, «que já não tinha rins e necessitava diálise cada dois dias. Falamos de uma operação de seis horas. Todos a tinham considerado sempre uma rapariga má, zangada. Um dia pediu-me que olhasse com ela o seu álbum de fotografias de família, um álbum terrível com imagens de pessoas alcoólicas e uma casa destruída. Não queria nada mais de mim, só partilhá-lo e ninguém o tinha feito antes desse momento. Deste encontro eu entendi que o cristianismo é, simplesmente, a possibilidade de partilhar o destino entre amigos».

Um descobrimento que pode parecer banal, «mas na nossa sociedade enferma, a sociedade pós-soviética, esta possibilidade é uma revolução porque todos olham já com suspeita a ideia do “colectivo”. Todos são alérgicos».

Pai é quem mostra porquê viver
O mesmo vale para o conceito de “pai”: «Na nossa história recente temos tido pais maus e terríveis. Hoje ninguém quer saber nada deles. Eu tinha intuído que se necessita um pai, mas não sabia o que era a “paternidade”, ao menos até que Deus nos mandou a Franco Nembrini». «De facto, é ele», continua Filonenko, depois ter lançado um olhar de cumplicidade ao professor sentado ao seu lado, «quem nos fez entender que pai é aquele que testemunha porque vale a pena viver. E ainda que se equivoque não importa, porque os filhos perdoam. Mas há uma só coisa que é difícil perdoar, e é a falta de esperança».

Dar rosto às pessoas
Deste modo, partindo dos encontros «inesperados» que ocorrerem, Filonenko enfrenta na Ucrânia a “emergência homem”, consciente de que «nós, os cristãos, somos os que podemos voltar a dar um rosto às pessoas, fazendo-as sair do anonimato», mas sabendo também que «isto não é algo que se pode organizar»: «Por isto rezo sempre ao Senhor para que faça de mim os seus braços, mas dando-me sempre alguém a quem seguir».

Mas Filonenko não veio ao Meeting para ensinar nada: se estou «tão contente de estar entre vós esta manhã é pelo que disse São Paulo aos Coríntios: “Não é que pretendamos dominar sobre a vossa fé, mas sim que contribuamos para o vosso gozo”. Eu vim compartilhar este gozo convosco».


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