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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Os khmers vermelhos mataram o seu marido e irmãos: quando se fez católica, conseguiu perdoar

Claire Ly, filósofa cambojana no Meeting de Rímini

Claire Ly, cambojana, sobrevivente do genocídio dos Khmers Vermelhos
e convertida a Jesus Cristo
Actualizado 28 de Agosto de 2013

L. Marcolivio/Zenit/ReL

Claire Ly é uma cambojana que do budismo se converteu ao catolicismo, depois de ter-se salvado do genocídio dos Khmers Vermelhos durante a ditadura de Pol Pot, (1975-1979), na qual foi exterminada um quarto da população cambojana.

Mataram a sua família
Ly, então uma jovem professora de filosofia, viu morrer muitos dos seus familiares mais próximos: o seu pai, os seus irmãos, inclusive o seu marido, foram assassinados por este regime. O seu pensamento foi: “Porquê justamente me sucede tudo isto a mim?” Claire explicou o seu processo de aproximação à fé cristã à agência Zenit e também aos assistentes ao Meeting de Rímini, o evento anual do movimento Comunhão e Libertação, que concluiu o sábado 24 de Agosto nesta cidade italiana.

"Quando perdi tudo, fui levada às plantações de arroz, perdi todos os pontos de referência, perdi os meus amigos e a minha vida tomou outro sentido. Quando se perdem os pontos de referência já não sabemos quem somos: a perca de identidade é a coisa mais dura", explica esta professora de filosofia, que então era budista.

O Deus ocidental, e o silêncio
"Na minha primeira etapa comecei a insultar quotidianamente o Deus dos ocidentais.

Considerava que o Ocidente substancialmente era o responsável da minha tragédia. Mas um dia, nas plantações de arroz, baixou um silêncio que pela primeira vez me fez perceber que a minha dor era também a dos outros", recorda.

"A segunda etapa cumpriu-se em 1980. Eu estava já em França como refugiada política. Comecei a ler o Evangelho e descobri que Jesus Cristo era um pedinte, como eu! Isto deu-me muito ânimo".

"A terceira etapa e definitiva foi descobrir a Eucaristia. Fixei o olhar sobre a Hóstia e senti a chamada de Deus, de joelhos, diante da minha debilidade de mulher. Neste momento disse: sim, quero ser discípula de Jesus. Em 1983 foi o ano do meu baptismo".

Claire Ly assegura: "Não fui eu quem escolheu o cristianismo. Foi Jesus quem me chamou. A única coisa que fiz foi responder à chamada de Jesus Cristo. O ponto mais forte da nossa religião é este Deus que veio encontrar-nos".

A chave: um Deus que se fez homem
Desde a sua varanda como asiática, filósofa e antiga budista quer assinalar algo: "A nossa fé cristã está fundada na Encarnação, em Deus que se fez homem. Isto é o específico da religião cristã ainda que tantos cristãos se tenham esquecido disso".

Claire Ly também fala de um dos ensinamentos mais duras do cristianismo: o perdão dos inimigos, inclusive daqueles que mataram os nossos familiares e seres queridos.

"Custa muito perdoar aos Khmers Vermelhos", admite sinceramente. Mas Jesus Cristo e o Pai Nosso marcam o caminho até o perdão.

O escândalo do perdão

"Partirei desde um facto vivido com a minha filha. Fugimos do lugar onde os meus irmãos, o meu pai e o meu marido, tinham sido assassinados. A minha filha não conheceu o seu pai porque estava perto dos dois meses quando sucedeu a tragédia. Acompanhavam-nos nesse lugar uns amigos budistas. Eles recitaram um ensinamento de Buda, que disse que os factos maus serão castigados, mas que ao mesmo tempo é necessário que esses factos sucedam. A minha filha e eu recitámos o Pai Nosso: “Pai, perdoa-nos como temos perdoado a quem nos tem ofendido”. E nesse momento nos perguntámos se tínhamos perdoado aos Khmers Vermelhos. E a nossa resposta foi: não, não o fizemos".

Mas Claire via com clareza que "o perdão é o coração da vida cristã". "Então disse há minha filha que tínhamos que olhar Jesus na Cruz. Ele disse-nos: “Eu perdoo-os”, sim "Padre perdoa-os porque não sabem o que fazem”. A minha filha e eu então dissemos ao Pai: “Pai, aqui estamos, somos mulheres débeis, sentimo-nos incapazes de perdoar os Khmers, mas os pomos nas tuas mãos”. Oferecemos portanto as nossas debilidades e os nossos verdugos nas mãos do Pai".

Fé forte, não sociológica

Vivendo em França, considera que mais que um abandono da fé, no país há um abandono da prática sociológica.

Ela crê que agora "os franceses estão vivendo uma fé como adesão a Jesus Cristo: este facto nos faz sair da religião sociológica. Cristo chamou-nos a ser o sal da terra, os cristãos são o sal e tem que levantar o gosto da sociedade. A Igreja na França está chamada a ser o sal da sociedade, é necessário que ela aceite a ideia de que não deve governar, porque o nosso é um Deus que acompanha, como faz Jesus no caminho de Emaús".


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