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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Paraquedista da Legião Estrangeira e capelão… A vida de película do padre Lallemand

Do Congo, ao Líbano, Chade…

O padre Lallemand fez quase 1.000 saltos
Actualizado 25 de Agosto de 2013

Javier Lozano / ReL

A vida do padre Lallemand é a de um sacerdote que sempre viveu o limite, daqueles que não duvidaram em arriscar tudo para ajudar o próximo. E este espírito aventureiro e amante do risco fica mais ainda de manifesto ao ser o capelão católico da Legião Estrangeira francesa e estar sempre onde estão os seus rapazes. É um dos seus paraquedistas e cuidou durante décadas das almas de centenas de jovens que se enfrentavam diariamente com a morte. Toda uma instituição no corpo.

A sua vida levou-o por muitos caminhos. Viu desde a cara amável da camaradagem a ter que cuidar dos seus companheiros moribundos e mortos no campo de batalha. Mas a sua vida dá todavia para muito mais.

A sua chegada à Legião Estrangeira
Este sacerdote é toda uma lenda na temida Legião Estrangeira. Iniciou a sua estada com eles em 1955 quando todavia estava no Seminário. Ocorreu na Argélia e ali já pode ver a dureza da guerra, tal e como conta a Famille Chretienne. Uma vez ordenado, o seu bispo tentou que ficasse na Diocese mas este sacerdote tinha claro que o seu sítio estava noutro lugar, dando assistência espiritual aos jovens soldados. Foi destinado a vários regimentos e ali os legionários disseram-lhe algo do que talvez mais tarde se arrependeram. “Se não saltas com os legionários, não és digno de ser nosso capelão”. Nunca deixou de sê-lo. Desde esse momento, o primeiro a saltar era o chefe do regimento e o segundo sempre foi ele.

Desde aquele salto sucederam-se outras centenas, concretamente 980 saltos mais. Segundo conta este sacerdote castrense, muitos deles tinham só de especial a sua oração a São Miguel. Outros, sem dúvida, foram muito diferentes e foram marcando a sua vida. Em 1978 saltaram sobre a cidade congolesa de Kolwezi. Ele saltou atrás do oficial mas “antes recordo especialmente o assombroso silêncio dos legionários. Aterrei sobre um cadáver, havia-os em toda a parte e os cães estavam ali vadiando”, recorda. A sua função foi cuidar dos mortos e dar-lhes a dignidade que mereciam. Algo muito duro.

Beirute, o seu momento mais duro
Mas algo pior estava por acontecer. O posto dos paraquedistas franceses em Beirute foi vítima de um atentado. Morreram 58 pessoas. A todas as conhecia na perfeição. Dedicou-se a desenterrar os corpos e a fazer presente a esperança cristã no meio da morte. Apesar disso, ele estava quebrado: “podes imaginar um pai que vê morrer os seus filhos?”, perguntava-se. Celebrou o funeral em Beirute e desapareceu.

Dali foi a duas missões no Chade onde os franceses deviam bloquear a progressão de Gadafi. Aqui produziu-se o facto que mais marcaria a sua vida. No norte do país descobriu grupos de cristãos famintos e esfarrapados. Eram médicos, mestres, funcionários que tinham nascido no sul e que tinham sido para ali enviados e abandonados. Levavam anos sem ver um sacerdote.

O seu amor aos cristãos abandonados em África
Nesse momento o padre Lallemand tomou a decisão de deixar o Exército e começar uma nova vida de serviço a estes cristãos do deserto. Ali conseguiu a plenitude no seu ministério apesar das dificuldades. “Fui chamado ali pelo Espírito Santo”, recorda e destaca o entusiasmo deste pequeno grupo de cristãos famintos fisicamente e também de Deus. Às vezes não comiam durante dias mas este facto não o fez dar marcha atrás.

Dez anos esteve o sacerdote francês no Chade. Esta obra do Espirito Santo, como a define ele, ia crescendo. Pouco a pouco foram refazendo a comunidade cristã. Reconstruiram 20 igrejas e enquanto via florescer os frutos. Comecei com dois fiéis debaixo uma árvore e logo estávamos 200. Ele movia-se por vastos territórios para poder atender a todos. “Durante as viagens não tinha nem um momento livre. Os fiéis vinham com dezenas de baptismos e confissões”, recorda.

A Adoração, a chave da sua vocação
Mas ele também necessitava alimentar a sua alma. Ali experimentou como nunca a presença de Jesus na Eucaristia. África é o lugar “onde descobri o que é a solidão e a adoração. Foi a adoração o que me permitiu manter-me ali”.

Em 1996 voltou a França. Que legado manteve desse período? Depois dessa experiência de solidão e adoração necessitava também este alimento no seu país pelo que desde então passa três dias cada mês em silêncio no mosteiro beneditino de Notre Dame em Ganagobie. Considera que a chave da sua vitalidade está precisamente no Santíssimo.

O seu trabalho ficava já dirigido às novas gerações de legionários. Muito diferentes das que encontrou no deserto no exterior mas similares no interior da sua alma: essa busca do amor e a felicidade que só Deus pode dar.

A sua nova missão com os jovens legionários
A cada legionário oferecia um Novo Testamento e dedicava-lhes todo o tempo do mundo para escutar as suas alegrias mas também os seus medos e frustrações. “O padre Lallemand é um verdadeiro pai para nós, que de uma maneira ou outra somos órfãos”, destaca um destes legionários.

Os anos passaram também para ele e a sua vitalidade dirige-se agora aos enfermos e anciãos assim como a tantos companheiros mutilados da Legião Estrangeira aos quais continua acompanhando décadas depois. “Sempre me guiei pelas palavras do Evangelho: eu era estrangeiro e acolheste-me”. E que opina da sua vida como capelão e paraquedista? A sua resposta é muito clara e concisa: “Não me arrependo de nada, nada de nada”.


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1 comentário:

  1. fazer o bem , não importa a quem ....
    história e lição de vida bonita ,
    gosto de ler sobre a história da legião estrangera francesa .
    Tito Moraes . R.J

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