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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Anton, novo monge de Monserrat, era cientista: «Senti que o mundo sem Deus não tem sentido»

A oração é a melhor maneira de mudar os corações 


Actualizado 14 de Setembro de 2013

Mireia Rourera / Camino Católico

O passado dia 11 foi uma jornada importante para o irmão Anton Gordillo porque depois de seis anos de viver e integrar-se na comunidade beneditina do Mosteiro de Montserrat professou e converteu-se em monge para sempre. Havia dois anos, desde que fez a sua profissão o advogado de Geronia Bernat Julio, que nenhum monge professava em Montserrat. O irmão Anton, doutor em engenharia industrial pela Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), ex-investigador do Centro Catalão do Plástico e ex-professor da área da ciência de materiais nas escolas de engenharia de Terrassa, da UPC, tem 48 anos. Coordena a comunicação audiovisual do mosteiro e é o responsável das emissões em directo da Montserrat Radio e TV. A sua vida ia por um caminho quando, de repente, uma viagem à América Latina lhe mudou a vida.

- Que se passou com um professor universitário, um cientista, que, de repente, se quis dedicar à vida contemplativa e à oração?
- Eu venho de uma família crente, é verdade... Mas a minha vida estava na universidade. Não tinha pensado nunca, eu, na vida religiosa. Mas em 2004 uma viagem de trabalho na Venezuela, onde estive um par de meses, mudou tudo.



- Que se passou?
- Três coisas. Em primeiro lugar impactou-me muito a pobreza, uma pobreza extrema, uns bairros de favelas muito degradados em Caracas, onde as pessoas viviam em condições muito difíceis. Em segundo lugar, deixou-me pasmado a grande violência que havia nesse país, com mortos todos os dias... Vivi-o na primeira pessoa e afectou-me muito. Mas, em terceiro lugar, e não menos importante, é o impacto da natureza, a exuberância da natureza, a beleza da natureza...

- E?
- E senti que um mundo sem Deus não tem sentido. A reflexão sobre o absurdo de um mundo sem Deus fez-me ver que o que eu necessitava era entregar-me a Deus de maneira total. Dois anos depois daquela viagem à Venezuela vim para Montserrat.


- Teria podido ser missionário, se queria mudar as coisas...
- Sim, claro... Há muitas maneiras de tentar mudar as coisas, mas eu sou um teórico, um cientista. Sempre pensei que posso entregar-me melhor a Deus desde a oração. Esta é, para mim, a melhor maneira de tentar mudar o coração dos homens.

- E escolheu Montserrat.

- Queria fazer-me monge mas continuar na Catalunha. Nós os catalães somos de uma maneira, o nosso ânimo pesa e Montserrat vai com a minha maneira de ser. Em segundo lugar, queria uma comunidade grande. Em terceiro lugar, cativou-me o nível cultural e intelectual de Montserrat...

- E deve ter sido muito feliz agora que finalmente fica para sempre?

- Estou muito feliz.

- Não lhe pesa tudo aquilo a que tem que renunciar?

- Eu fiz uma escolha. Sempre que escolhes algo renuncias a outros. Estou convencido de que o que escolhi é o meu caminho.

- Como é a vida de monge?

- A vida de monge tem três grandes pilares: a oração, o trabalho e a vida comunitária. Não é uma vida monótona, apesar do que se possa pensar desde fora.


- E menos para você, que é o responsável da televisão e da rádio de Montserrat?
- Aqui, em Montserrat, há monges que dão aulas na universidade, mas são a vertente mais humanista. Eu não continuei dando aulas... Mas, por outro lado, encarrego-me de todo o tema técnico dos meios de comunicação. Tenho bastante trabalho, sim. Ah, e além disso estou estudando teologia: o estudo é muito importante aqui.

- Há dois anos que não professava nenhum monge. Faltam vocações?
- Faltam cristãos comprometidos. A falta de monges é uma consequência lógica.

- Há uma crise de valores?
- O mundo e a maneira de entende-lo mudaram, mas não há crise de valores: nunca como agora tinha havido tanta gente voluntária para causas justas e solidárias... E isso também é uma maneira de aproximar-se de Deus.


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