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sábado, 21 de setembro de 2013

Cardeal Coccopalmiero: é necessário ressaltar as bases antropológicas da família

Roma: congresso de juristas sobre os direitos da família no mundo contemporâneo


Roma, 20 de Setembro de 2013


O congresso internacional “Os Direitos da Família no Mundo Contemporâneo” foi apresentado hoje na sala de imprensa do Vaticano. Começou ontem e prosseguirá até amanhã, dia 21, organizado pelo Pontifício Conselho para a Família. Participam cerca de 200 juristas de vários países, para repropor a “Carta dos Direitos da Família”, desejada há trinta anos pelos padres conciliares.

O tema foi apresentado pelo cardeal Francesco Coccopalmiero, presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos; por dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família; e pela Dra. Helen Alvaré, professora da Universidade George Masson, de Washington.

O cardeal Coccopalmiero ressaltou que é importante debater sobre a família porque “alguns anos atrás havia quem considerasse que a doutrina cristã sobre a família era verdadeira, mas não a aceitavam porque achavam a prática muito difícil, e hoje não a aceitam por motivos teóricos”.

O purpurado enfatizou que a família é, antes de tudo, um edifício feito de muitos tijolos, que a cultura de hoje desconstruiu e fez com que os tijolos não construam mais um edifício: "Eles falam de matrimónio, família, filiação, mas sem o edifício".

Daí a necessidade de repropor a doutrina da família, começando pelos crentes, mas sem esquecer que temos uma cultura na qual pressupomos a falta de fé e a não-confessionalidade do legislador. “Para esses interlocutores, temos que propor a fé cristã no casamento e na família mostrando principalmente os valores humanos e antropológicos que estão na doutrina cristã. Por isso, é necessário valorizar os conteúdos antropológicos. E quem tem inteligência deveria entender esses elementos”, afirmou Coccopalmiero.

Ele recordou também o que o cardeal Martini dizia, de modo provocador: “Mais do que crentes, eu preciso de gente que pense, porque assim a mensagem da fé chegará também até eles”.

O congresso é organizado por um dicastério, o Pontifico Conselho para a Família, e por uma associação de juristas italianos, numa joint venture que acontece pela primeira vez. “Uma associação que serve como ponte entre a doutrina e a cultura, e que nós achamos providencial”, comentou o purpurado.

Dom Paglia disse, por sua vez, que desde que a Carta da Família foi publicada, há 30 anos, “o mundo mudou, mas esses princípios são fundamentais até hoje”. Paglia destacou alguns pontos, como o direito da família de evitar a invasão dramática da media na intimidade dos filhos, além de direitos diversos como o de manter os idosos no seio das famílias e o de preservar o trabalho das pessoas com deficiências. Ele falou ainda sobre a remuneração digna para se cuidar adequadamente de todos os filhos, sobre o reconhecimento do trabalho da mulher no lar, sobre a moradia digna de acordo com o número de membros e sobre a necessidade de as famílias de migrantes terem os mesmos direitos das famílias locais.

Palha apresentou alguns desenhos de crianças, feitos num concurso que o Pontifício Conselho para a Família organizou nas escolas italianas. Os mais interessantes serão publicados no site, um para cada ponto da carta. “Todos têm o direito de ter uma casa, que lindo”, escreve uma das crianças na base do seu desenho de uma casa com lareira. “A casa é linda e eu gostaria que todos tivessem casa”, diz outro, desenhando a sua casa como “uma gruta igual à de Belém”. Dom Paglia comenta: "O problema da habitação afecta mais de 95 por cento da população mundial. Os meios de comunicação falam pouco sobre isto".
Paglia complementa que o pontifício conselho quer, com esta iniciativa, se abrir um pouco mais para o público, porque a família abrange a todos, sem que ninguém fique excluído. Ele recorda que “este texto foi escrito por sugestão dos padres sinodais, que pediam que a família fosse reconhecida como sujeito do direito”, “sem inventar novos princípios, mas realizando uma operação cultural: elaborar de maneira técnica e jurídica esses direitos para propô-los à luz da legislação aos entes internacionais, começando pelas Nações Unidas e prosseguindo entre os diversos governos”.

A professora Alvaré recordou que a cultura sobre a família mudou profundamente nos últimos 30 anos e pediu uma política global que defenda a mulher, ressaltando o seu papel na família e a sua dignidade, bem como a importância do seu acesso à educação, já que, nos muitos lares sem a presença do pai, a mulher tem que trabalhar sozinha. Alvaré sugeriu que o documento também seja divulgado nas escolas.

Sobre a Itália e a discussão actual no país a propósito da lei da homofobia, o cardeal observou que “uma coisa é discriminar as pessoas homossexuais e outra é o direito a considerar que a homossexualidade não é boa”. “Os homossexuais contam com a nossa compreensão. Não deve haver homofobia contra as pessoas. Mas não consideramos correto esse modo de viver a sexualidade, que é diferente do que é proposto pela doutrina e pela fé cristã”.

Para ele, a lei deve esclarecer que quem discrimina as pessoas homossexuais age mal, mas não pode tachar de homofóbicos aqueles que agem e pensam de outro modo, como no caso do matrimónio. "Não podemos ser todos forçados a pensar que a homossexualidade é uma coisa positiva. Eu posso pensar que a homossexualidade é negativa, e mesmo assim respeitar os homossexuais”. O purpurado considera que, em certo sentido, a lei é supérflua, porque “já existem garantias suficientes na legislação actual”.

Dom Paglia observou que nos últimos anos cresceu mais a ideia do indivíduo que a da família, e que é necessário “dar força a esse 'nós' que encontra na família o seu primeiro coágulo”.



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