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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Papa Francisco está muito além de qualquer cliché ideológico

Entrevista com o cardeal Cipriani: o Santo Padre está fazendo um grande esforço, para elevar, para unir na Igreja e deixar de lado discussões anacrónicas


Roma, 25 de Setembro de 2013


O cardeal-arcebispo do Peru, Juan Luis Cipriani foi recebido nesta segunda-feira, 23, pelo Papa Francisco no Palácio Apostólico localizado no Vaticano. Uma conversa de uma hora, na qual trataram temas pastorais do Peru e não somente.

O arcebispo de Lima presenteou duas relíquias, uma de santa Rosa e outra de São Marinho de Porres, porque logo depois de ser eleito papa, Francisco disse a Cipriani: ‘Não se esqueça de orar por mim à Santa Rosa' e depois, ‘encomende-me ao mulatinho da vassoura’.

Recordou a importância dos movimentos, porque fazem muito bem para a Igreja, e disse que o Santo Padre está fazendo um grande esforço, por elevação, para unir a igreja e deixar para trás discussões anacrónicas. Porque considerou que Francisco está fora clichés ideológicos, e isso encontra certa resistência na dinâmica das informações.

ZENIT: Eminência, como nasce a ideia desta viagem para encontrar o Santo Padre?
- Cardeal Cipriani : No Rio de Janeiro quando estive na Jornada Mundial da Juventude, o Papa, ao cumprimentar-me de modo coloquial me disse: "Finalmente te vejo". Por ordem de antiguidade nos correspondia sentar perto do Papa, estava o cardeal Humes e depois eu.

ZENIT: Como é a sua relação com o papa?
- Cardeal Cipriani: Com o papa Francisco existe uma relação normal de confiança. Depois do conclave o tempo passou muito rápido porque no dia 3 de Julho eu comemorava 25 anos de ordenação como bispo e tive celebrações e coisas que me mantiveram ocupado. Duas semanas atrás, conversando com o cardeal Francisco Errazuríz, comentei que eu iria visitar o Papa e lhe perguntei se tinha os telefones. E ele me deu os números, fax e e-mail, eu escrevi e em dois dias me responderam dizendo que hoje, 22, me receberia. Foi uma resposta imediata.

ZENIT: Como foi a reunião e como você foi recebido?
- Cardeal Cipriani: Me recebeu hoje, com o carinho de sempre, um longo abraço porque sempre nos cumprimentamos assim, a audiência no Palácio Apostólico durou uma hora, falamos em uma atmosfera de amizade e confiança, como sempre o fizemos.

ZENIT: Como você o encontrou ?
- Cardeal Cipriani: Com uma alegria e um entusiasmo contagiante. Entramos em muitas questões, eu lhe trouxe uma relíquia de Santa Rosa de Lima e outra de São Martinho de Porres. E também a fotografia de ambos. ‘Gosto muito de ler a vida dos santos, te agradeço’, me disse. E eu trouxe isso porque recém-eleito papa, Francisco me pediu: ‘Não se esqueça de rezar por mim à Santa Rosa de Lima’ e no dia seguinte quando o cumprimentei pela segunda vez me recomendou: ‘Encomende-me ao mulatinho da vassoura’, porque São Martinho é chamado assim. Estas relíquias em um pequeno quadro.

ZENIT: Vocês dois entraram no sacerdócio com idade mais adulta não é?
- Cardeal Cipriani: Sim, Bergoglio era químico e eu engenheiro, e os dois temos confiança para falar de forma espontânea. Eu acho que é parte dessa graça de Deus, pela qual Francisco tem uma facilidade para comunicar-se e essa centelha portenha, que diz rapidamente muitas coisas. Passamos um momento muito agradável. Perguntou-me sobre o seminário, sobre as vocações sacerdotais. Comentei-lhe que temos umas 70 capelas do Santíssimo Sacramento ao lado das paróquias, dessa forma pode estar exposto e evitamos o perigo de roubo. E o Papa me insistiu: “É que Jesus sempre nos espera, nos olha sempre com carinho” e acrescenta “é que isso funciona”. Comentei-lhe sobre o aumento das confissões e que muita gente se sente como se estivesse em um ambiente novo, eu o vejo. E me disse: “Isso é de Deus, não é meu, é do Espírito Santo”. E também que vejo mais assistência à missa, ou a facilidade para conversar, com um taxista, ou no bar. O papa é um tema que no ambiente popular tem sido acolhido com enorme simpatia e como um ‘vale a pena’.

ZENIT: Em algum momento falaram do Opus Dei?
- Cardeal Cipriani: Ao comentar as novidades, em voz alta o Papa comentou: ‘Você pode imaginar uma Igreja sem todos esses movimentos, sem o Opus Deis, sem Comunhão e Libertação e todos os outros. Não consigo imaginar, porque fazem muito bem à Igreja”.

ZENIT: Às vezes, porém, as palavras do Papa são tomadas fora de contexto, certo?
- Cardeal Cipriani: O Santo Padre tem um frescor e facilidade para explicar as coisas que está muito distante de poder ser classificado por grupo de esquerda ou de direita, ou de centro, de conservadores ou de progressistas. Existe sim um interesse em certos grupos de querer classificar e apropriar-se e orientar o que ele fala, mas não vão silenciar o Papa com esta ameaça, e isso é o que está acontecendo com as suas entrevistas e opiniões.

Se lermos as suas palavras e homilias, como aos jovens na JMJ no Rio de Janeiro, vemos que o Santo Padre tem uma profundíssima intimidade com Cristo, de onde nasce este vulcão de entusiasmo que às vezes ao expressar-se pode levar as pessoas a pensar ‘olha, o papa não tem interesse por tal coisa’ ou ‘atacou não sei quem’. Nada disso está nessa bondade ou simplicidade do Papa Francisco. E o santo padre está fazendo um esforço muito grande, por elevação, para unir na Igreja e deixar discussões anacrônicas sobre o concílio, sobre o progressismo ou o conservadorismo. Um esforço que encontra certa resistência na dinâmica normal das notícias.

ZENIT: Muito por acima ?
- Cardeal Cipriani: Como podemos falar de um papa progressista e discutido, quando a força de seus ensinamentos está nas longas horas que passa em oração diante do Santíssimo Sacramento. E como podemos falar de um conservador quando é um homem austero e simples nas suas formas e as manteve. Está além dos clichês ideológicos.


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