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domingo, 20 de outubro de 2013

Entre a sotaina rigorosa e o traje de neopreno, o padre-surfista de Biarritz causa sensação

Um todo-terreno: é também professor e juiz 

René-Sébastien Fournié.
Actualizado 18 de Outubro de 2013

C.L. / ReL

A história sacerdotal de René-Sébastien Fournié começou como seminarista na Irmandade de São Pio X, logo na Fraternidade de São Pedro, e finalmente ordenou-se sacerdote em 2007 no Instituto do Bom Pastor, uma das comunidades do ambiente Ecclesia Dei e sob o motu próprio Summorum Pontificum de Bento XVI que liberalizou a missa tradicional para todo o clero.

Depois de uns anos de serviço em Roma, o padre Fournié deixou o Instituto do Bom Pastor em 2011 e foi acolhido na diocese de Baiona, cujo titular, Marc Aillet, figura entre os mais combativos do episcopado francês contra a lei que considera o matrimónio a união entre pessoas do mesmo sexo.

Um polidesportivo andante...
Monsenhor Aillet olhou o currículo do seu novo sacerdote e encontrou um autêntico todo-terreno, assíduo praticante de esqui, esgrima e surf. Assim o bispo pensou imediatamente nos numerosos jovens que em todas as épocas do ano vão à costa vasco-francesa cavalgar as potentes ondas cantábricas, e encarregou o padre Fournié de os evangelizar.

Aos seus 39 anos, o padre aceitou o desafio, ainda admitindo que é só "um principiante": "Mas pratico esgrima desde que tinha sete anos e a posição dos pés sobre a tabela é a mesma, isso ajudou-me".

Assim que é frequente vê-lo em Biarritz revestido dum traje de neopreno ao qual acrescentou um colarinho clerical, para que ninguém caía em erro: não é um "infiltrado" como Keanu Reeves em Chamam-no Bodhi (1991), mas sim mais um mestre para a vida, qual Gerard Butler em Perseguindo Mavericks (2012).

...e um padre polivalente
Quando não está na caça das ondas e apadrinhando e evangelizando os seus camaradas, dom René-Sébastien veste com sotaina e faixa e desempenha tarefas sacerdotais mais comuns: é capelão e assistente do reitor da catedral de Baiona, professor de teologia no seminário diocesano, e juiz eclesiástico encarregado de nulidades matrimoniais, pois durante os seus anos em Roma doutorou-se em Direito Canónico e em Teologia.

Seguidores na missa... e na rua
A grande questão é se o apostolado do mar que realiza dá frutos ou não. E parece que os dá e a curiosidade que suscita a sua pessoa é útil para a evangelização, segundo confessava este Verão a Sud-Ouest: "O diálogo começa muito rapidamente, porque são pessoas com um profundo respeito pela natureza e pelas leis da natureza. E da natureza se remonta ao Autor da natureza!".

Em alguns encontrou indiferença, mas em nenhum hostilidade. E a sotaina não é, desde logo, uma barreira, pelo contrário: "É um sinal visível que me permite empreender conversas muito ricas com pessoas que não vão à igreja. É tudo o contrário de um obstáculo. Em Roma, onde vivi seis anos, se leva cada vez mais".

O resultado é que "vários vieram já à missa à catedral e inclusive pediram-me que a diga". E dez surfistas estiveram com ele durante as manifestações contra a lei Taubira (que estende o matrimónio a pessoas do mesmo sexo), tanto em Baiona como em Paris.

Assim que, enquanto continue conseguindo que alguns dos seus companheiros se convertam à fé ou a intensifiquem se a tem algo adormecida, tudo aponta para que o padre Fournié continuará procurando essa Grande Onda com a qual sonham todos os surfistas. Aqueles que estejam com ele nesse dia têm pelo menos assegurada uma bênção antes de enfrentar-se com ela.



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