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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O divorciado, a astróloga, o ex-comunista… Acharam a paz no acompanhamento espiritual

Um serviço cada vez mais procurado 

Sacerdotes e laicos formam parte desta missão especial da Igreja.
Actualizado 17 de Novembro de 2013

ReL

Não se trata só de confissão e de direcção espiritual, ainda que por suposto as inclui. O acompanhamento como apoio ao convertido, ou a quem se sente num momento complicado e dubitativo na sua vida (em particular pessoas de media idade que por umas razões ou por outras vêem em crise as suas convicções), é uma nova forma de evangelização que estão pondo em prática numerosas dioceses, destinando a esse efeito sacerdotes e laicos a quem se prepara para isso.

A diocese francesa de Saint-Etienne acaba de lançar este serviço, dirigido pelo sacerdote Guy Daurat, e nessa ocasión Benevent Tosseri recolhe no diário La Croix testemunhos de pessoas que noutros lugares beneficiaram dele.

Um equilíbrio quebrado
Como Serge Granottier, operador de telefonia, cuja fé "cultural e infantil" se viu sacudida aos 52 anos: "Estava casado, tinha uma filha, um trabalho que gostava... Não planeava mais coisas, tinha adormecido um pouco na vida", confessa. Até que o divórcio veio sacudi-lo: "O equilíbrio rompeu-se e deixou à luz as minhas carências".

Um amigo crente animou-o a "uma procura espiritual activa" e foi a uma reunião para pessoas separadas, onde um jesuíta lhe recomendou o acompanhamento: "A sua proposta respondia a uma necessidade latente em mim. Eu não tinha dificuldades ´intelectuais´, mas sim sentia uma certa fragilidade na minha fé, uma sede de reforçar a minha relação com Deus".

Esteve assim dois anos, até que o deixou, mas acaba de voltar a ele para "unificar os distintos troços" da sua vida "ancorando-se na Igreja".

Os 117 operários do padre Daurat
E é dos primeiros dez ou doze que já tocaram à porta do padre Daurat, que explica que, se bem que o acompanhamento espiritual esteja enraizado numa longa tradição da Igreja, "responde a uma necessidade muito moderna": "Profissionais ou desportistas tomaram consciência de que as suas necessidades têm também uma dimensão espiritual, e colocam-se perguntas cuja falta de resposta os desencoraja".

Don Guy pôs em marcha os 117 laicos em missão da diocese, provenientes de todo o tipo de movimentos: Renovação Carismática, caminhos ignacianos, Acção Católica...

Com os "cómicos iluminados"
Também Geneviève Courtalhac necessitava que a acolhessem "da mão". Quinquagenária, trabalhadora social, abandonou a Igreja aos 18 anos, mas depois do seu divórcio e uma grave enfermidade começou a replanear a sua vida. Caiu na astrologia e no magnetismo, até que encontrou na caixa de correio a convocatória para um curso Alpha na sua paróquia.

"Fui por curiosidade, perguntando-me que fazia ali, no meio de um grupo de iluminados a quem julgava cómicos", recorda. Mas os seus prejuízos e reservas foram caindo pouco a pouco: "Descobri a fé, e estava cheia de perguntas às quais ninguém me tinha respondido na minha adolescência". Pediu acompanhamento espiritual num grupo de oração, porque "recomeçar na fé é um momento muito apaixonante e dominante". Hoje mantém esse acompanhamento e continua "crescendo", pondo a sua vida "em harmonia com o Evangelho".

O comunista que resultou ser fiel
Pierre Sadoulet, de 66 anos, ex-conselheiro comunista em Cosne-Cours-sur-Loire, utiliza a mesma expressão que Geneviève: "Recomeçar na fé é um momento muito apaixonante e dominante". Ele levava quarenta anos afastado da Igreja... Até que um amigo seu, sacerdote, lhe pediu que, como especialista em linguística e semiótica, animasse um grupo paroquial sobre a Bíblia.

E logo, o antigo ateu descobriu que não o era tanto: "Encontrei-me estranhamente fiel". Decidiu seguir esse caminho: "Um caminho difícil, no qual uma voz alheia a nós mesmos pode ajudar-nos a evitar as armadilhas". Como o perfeccionismo que, pelo seu fervor de neófito, o tenta a pretender que tudo na sua paróquia seja perfeito, causando alguns problemas: "Sem dúvida havia da minha parte uma vontade de manipulação, com exigências sem visão pastoral". Algo que o acompanhamento o ajudou a superar, como a sua imprudente "obsessão pela oração", que agora vê, com maior realismo, vê como "uma pausa onde, na presença do Senhor, coloco a minha vida e as minhas perguntas".

Pô-lo todo perante o Senhor
Algo parecido se passou com Christine Egaude, cuja tentação mística se traduzia numa tendência "a evadir-se nas nuvens e desencarnar a fé". Recém-cumpridos os cinquenta anos, médica de profissão, entende melhor agora que "cada um é a soma das suas feridas e das suas emoções, e se corre o risco de não saber distinguir a acção do Espirito Santo". É o que ganhou com o acompanhamento, disse, depois de vinte anos às escuras: "Ninguém pode crer no meu lugar, isso não é negociável, mas agora sinto-me mais assentada na minha fé, capaz de escutar sem cair numa obediência infantil".

Como Régine Loubier, gerente de hotel, que cada mês, ainda que seja por Skype, se reúne com um casal da comunidade Chemin-Neuf [Caminho Novo] que vive noutra cidade, e que são seus acompanhantes: "É uma pausa durante a qual ponho na presença do Senhor a minha vida e as minhas perguntas espirituais ou domésticas".

E num futuro, como sucede com frequência neste ministério, a muitos acompanhados, talvez acabe acompanhando a outros.


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