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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Rússia e as religiões

O país não parece brilhar pelo respeito da liberdade neste campo religioso


Roma, 18 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) John Flynn, LC


Os Jogos Olímpicos de Inverno estão dando visibilidade extraordinária para a Rússia em uma grande variedade de temas, a começar por aqueles religiosos.

No passado 10 de Fevereiro, o Pew Research divulgou um relatório intitulado Russians Return to Religion, but Not to Church (Os russos voltam para a religião, mas não para a Igreja). O estudo compara os resultados de três estudos diferentes (dos anos 1991, 1998 e 2008), realizados pela International Social Survey Programme.

Os resultados mostram uma mudança dramática e, no período de 1991 a 2008, a percentagem de adultos russos que se identificam como cristãos ortodoxos, aumentou de 31% para 72%.

No mesmo período, a percentagem da população russa que não se identifica com nenhuma religião caiu de 61% para 18%.

De acordo com o relatório, há um ligeiro aumento no número de pessoas que se identificam com outras religiões, como o Islamismo, o Catolicismo e o Protestantismo.

Também os valores religiosos têm aumentado no período 1991-2008, com a proporção de adultos Russos que se dizem religiosos de algum modo, que aumentou de 11% para 54%. Aqueles que dizem crer em Deus aumentaram de 38% para 56%.

A última secção de dados revela a curiosa situação em que dos 72​​% das pessoas que se identificam com o Cristianismo Ortodoxos, apenas 56% dizem acreditar em Deus.

A frequência das igrejas permanece muito baixa. Todos os três levantamentos mostram que o número de pessoas que vão à igreja pelo menos uma vez por mês varia de 2% em 1991 para 7% em 2008.

Dividindo os dados por grupos demográficos, o relatório do Pew observa que os valores religiosos são significativamente mais difundidos entre as mulheres do que entre os homens, embora não haja uma diferença notável no que diz respeito à prática sacramental (9 % versus 5% ).

Em 2008, a maioria de todas as faixas etárias se identificam como cristãos ortodoxos, no entanto, esse percentual era maior entre os idosos. 

Vindo para o nível da educação, o relatório diz que não há diferenças significativas entre aqueles que têm um diploma universitário e aqueles que interromperam seus estudos antes.

Enquanto a filiação religiosa sofreu uma mudança considerável, as tácticas da mão pesada do governo russo não mudaram. A intolerância crescente do Kremlin merece mais atenção do que a dada aos Jogos Olímpicos, disse a Comissão sobre a Liberdade Religiosa (USCIRF) Internacional, em um comunicado do passado 5 de Fevereiro.

A Comissão observa que existem leis excessivamente amplas que restringem a liberdade de religião e de expressão, que "violam claramente os padrões internacionais”.

"Essas leis são parte do ataque à liberdade religiosa e de expressão por parte do governo Putin", disse o presidente da USCIRF, Robert P. George.

George identificou as leis anti-blasfémias, que descreve como vagas e, ao mesmo tempo, drásticas; elas impõem pesadas multas e prisões para aqueles “que ofendam os sentimentos dos demais”.

"As pessoas devem ser livres para expressar as suas crenças pacificamente, sem medo de punições ou discriminações e os direitos de cada um devem ser respeitados”, declarou George.

A falta de liberdade religiosa na Rússia tem sido amplamente documentada pelo relatório do Fórum 18. O grupo de inspiração cristã - uma iniciativa da Dinamarca e da Noruega - leva o nome do artigo 18º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.

Um relatório publicado em 14 de Janeiro desse ano examina as aulas de religião e ética tidas nas escolas russas, onde foram reintroduzidas em 2012, com o fim da proibição, acontecida com a Revolução Bolchevique de 1917.

O principal livro de texto, observa o Forum 18, é basicamente equilibrado. A sua aplicação é, contudo, problemática.

Visitando algumas regiões da Sibéria, emerge que na República de Khakassia, um pai luterano se queixou de que à sua filha, pelo curso de religião, foi oferecido apenas o módulo relativo à Cultura Ortodoxa e que o reitor da escola tinha proclamado: "Vivemos em um país ortodoxo".

O Forum 18 havia publicado anteriormente um trecho de duas partes de um livro do seu correspondente na Rússia, Geraldine Fagan ( Acreditando na Rússia – Religious Policy after Communism, Routledge, 2013).

Fagan observa que: "A Igreja Ortodoxa Russa se propõe como a definitiva expressão da nacionalidade russa. Visões alternativas do mundo são marginalizadas".

A autora assume um ponto de vista em maneiras diferentes daquele expresso pela USCIRF, afirmando que: "A erosão da liberdade religiosa não é devido à deliberada preferência federal para a Igreja Ortodoxa Russa. É mais um sintoma de um Kremlin desinteressado que se abstém de intervir na esfera religiosa".

Como resultado dessa indiferença suprema, alguns oficiais subalternos foram deixados livres para "seguir uma política centrada na ortodoxia religiosa, apesar da norma federal", diz Fagan.

No entanto, a autora observa que os líderes políticos russos estão usando valores nacionais e identificação com a Igreja Ortodoxa Russa, como uma forma de proteger os interesses dos políticos.

No último dia 11 de Fevereiro, Elliott Abrams do USCIFR testemunhou perante a Comissão dos Assuntos Exteriores dos Estados Unidos sobre a questão da liberdade religiosa tendo em vista a perseguição dos cristãos.

Quanto à Rússia, Abrams declara que as condições da liberdade religiosa deterioraram-se no ano passado e que há "sinais crescentes de uma política oficial que favorece o Patriarcado de Moscovo e a Igreja Ortodoxa Russa em relação a outras comunidades religiosas."

Parece que na Rússia as regras do jogo na esfera religiosa estão bem longe de existir.


(Trad.TS)

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