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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Nossa preocupação é que o Evangelho brilhe em meio à humanidade

Entrevista com o arcebispo de Pamplona, Dom Francisco Pérez, em Roma para visita ad limina dos bispos espanhóis


Roma, 26 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García


O Santo Padre já começou seus encontros com os bispos espanhóis que vieram a Roma para a visita ad Limina. Nesta segunda-feira (24), foi a vez das províncias eclesiásticas de Burgos e Pamplona. O arcebispo Francisco Perez falou com ZENIT para contar alguns detalhes do encontro com o Santo Padre e como será a visita Ad Limina .

ZENIT: Como você descreveria o encontro com o Santo Padre?
- Monsenhor Perez: Eu já tinha a experiência com o Beato João Paulo II, que além do mais tenho a sorte de contar que foi ele que me ordenou bispo. Mas desta vez me parece um novo método muito interessante o ir juntos as duas províncias eclesiásticas, Burgos e Pamplona. Foi um encontro alegre, e como ele mesmo disse, ao ser argentino isso lhe marca. Tem esse estilo e esse dom de comunicação, que dá pra entende-lo bem porque é muito pastoral. Falamos de muitos pontos de vista da importância da evangelização, da importância de anunciar a Cristo aos jovens para que descubram a sua vocação, a função do laicato e tudo o que é próprio de uma Visita Ad Limina, com a preocupação de que o Evangelho brilhe em meio a humanidade. Eu sempre digo que para além do que cada um de nós seja, está o Senhor que é o que tem que brilhar.

No encontro sentia uma presença de Deus em nosso meio. E com uma espontaneidade cada um ia narrando experiências, preocupações, dúvidas, elemento para discernir. Foi um diálogo em que o Papa também estava expondo os seus pontos de vista e a sua visão. Foi o sentimento de alguns irmãos que se reúnem com o irmão mais velho. Sentia-me ao lado daquele que como Pedro sustenta a Igreja.

ZENIT: Quais são as principais preocupações comuns no episcopado espanhol?
- Monsenhor Perez : Eu acho que uma delas é que muitas vezes podemos constatar a desorientação que existe na sociedade. Uma sociedade por vezes manipulada por muitos tipos de ideologias materialistas, do tipo sexista, a conhecida como ideologia de género... Há uma série de correntes que arrastam a sociedade e por isso o Evangelho que se anuncia vai contracorrente. Mas é conveniente fazê-lo porque quando se perde o sentido humano é preciso recordar que somos filhos de Deus, que nos ama e que apostou em nós. E precisa de nós, como conta a parábola, o pai se preocupa e quer que o filho volte pra casa. Acho que estamos passando por esta experiência a nível social onde em muitos momentos parece que o homem é auto-suficiente, mas não pode só se alimentar com a lavagem, precisa de algo a mais, uma meta muito maior, que é viver na casa do Pai. Além do mais, está também o tema da família, uma sociedade que perde a célula da família é uma sociedade que pode desintegrar-se. Por isso o Papa está preocupado por este tema e por isso o Sínodo dos bispos que tratará este tema e nos pede que colaboremos e comuniquemos o que vemos para que depois do Sínodo haja uma exortação apostólica que ajude a incentivar e estimular esta sociedade. Isto é o que o Santo Padre tem no seu interior, recuperar o que é o sentido da família.

ZENIT: Nestes dias também visitarão os dicastérios da Cúria. O que espera desses encontros?
- Monsenhor Perez: Enviamos uma memória, cada bispo da sua diocese, que se divide em várias partes. Este informe passa por cada congregação que verá o seu tema correspondente: o clero, vida consagrada, leigos... Na reunião com cada prefeito do Conselho Pontifício vamos falando, nos perguntam e tratamos vários temas.

ZENIT: E como é o trabalho da visita ad Limina?
- Monsenhor Perez: É como um momento em que se tira “a poeira” que às vezes se acumula com os hábitos e a caminhada, quase espontaneamente e, portanto, é necessário olhar para os lados para ver se estamos fazendo o que Deus quer. Então isso é como uma análise onde colocamos o scanner e de lá vamos vendo coisas que devemos potenciar, superar, anunciar com mais força, ver as necessidades que existem na comunidade, se estamos ajudando os pobres, necessitados, missionários...

Por exemplo, na minha diocese existem 1.030 missionários e através da consciencialização nas paróquias se favorece para que eles sintam que nós os apoiamos e incentivamos.

A Igreja é saúde e remédio para a humanidade, é encontro com o ser humano onde se procura ser discípulos de Cristo. Às vezes me falam que temos que “vender” melhor o que fazemos. Mas nós não temos que fazer propaganda, a vida é vida e resplandece por si mesma.

ZENIT: Na sua diocese, você tem notado algo assim como o ‘efeito Francisco’?
- Monsenhor Perez: Eu acho que sim. Ele mesmo, quando lhe comentamos, ria e nos falava que isso é obra do Espírito e que ele faz o mesmo de sempre. Também nos dizia que não ‘é coisa minha mas nossa’. É uma realidade que o Espírito Santo hoje queira tocar o coração e colocou a ele, e assim vai chegando ao coração. Também vejo que há muita gente cansada de uma vida que não preenche seu coração e está à procura, e como o Papa tem uma ressonância mundial... O surpreso é ele, e ele mesmo nos disse uma vez.  Ele continua fazendo o que sempre fez, antes em uma área mais local e, agora, em um âmbito global. E  o que anuncia é luz, é verdade e é vida.

O Papa Francisco não tem um marketing especial que lhe fizeram, nem um método. Ele se expressa tal como é, um homem cheio de Deus que anuncia Jesus Cristo com franqueza, simplicidade, palavras que podem ajudar a acordar os dormidos e exemplos que nos podem ajudar. Ele nos recordou quando contou que se confessava a cada quinze dias e saiu em todos os jornais “o Papa se confessa” e ele nos falava ‘se eu o fiz sempre!’ Claro, às vezes comunicar o normal se transforma em algo extraordinário. Mas, tudo isso ele recebe como uma graça de Deus, ele se faz de  ponte que é o que significa pontífice.

(Trad.TS)

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