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domingo, 27 de abril de 2014

Socióloga e psicóloga, meia luterana e judaica, fez-se católica… Lendo o ateu Dawkins!

A frouxidão de «A miragem de Deus» levou-a a Ratzinger 

Judith Babarsky sente-se feliz depois de encontrar Deus no
lugar mais inesperado: a obra de um ateu.
Actualizado 18 de Abril de 2014

C.L. / ReL

"Se há cinco anos alguém me tivesse dito que um dia seria católica, a verdade é que me teria rido na sua cara e teria apostado tudo quanto possuo em que algo assim não poderia suceder jamais".

Explica-o Judith Babarsky, graduada em Sociologia em Virginia Tech., licenciada em Psicologia Clínica pela Radford University, profissionalmente assessora e conselheira durante 22 anos (além de mãe de cinco filhos) e, como explica a sua biografia, tocada de certo eclecticismo depois de ter-se formado na sua adolescência em Bangkok (Tailândia) durante os culturalmente confusos anos da guerra do Vietname. De facto, confessa um conhecimento "superficial" do cristianismo e uma procura que a tinha levado a abandonar o luteranismo e "explorar o judaísmo".

Uma leitura imprevista

Como se deu a viragem? Acaba de o contar ela mesma num artigo publicado no blogue Dead Philosophers Society [Sociedade dos Filósofos Mortos], vinculado à instituição católica onde hoje ensina bioética. É uma história de fé e razão que fará as delícias, se a conhece, de Bento XVI, involuntário personagem da mesma. Uma história, comentava Francis Phillips no Catholic Herald, que mostra que "pensar e escrever sobre Deus é uma actividade intelectual razoável", frente à acusação dos ateus de que "os cristãos são irracionais", algo "mais insultante que qualquer outra coisa", assinala Phillips.

Pois bem, um dos aficionados a esse tipo de desqualificações é o mediático ateu britânico Richard Dawkins, autor, entre outras obras, de The God Delusion, publicada em inglês em 2006 e traduzida ao espanhol em 2008 debaixo do título A miragem de Deus.

Esse livro chegou às mãos de Judith de forma casual, durante uma semana de descanso na praia veraneante de descanso. Recomendou-o vivamente a sua enteada, uma ateia militante a quem por sua vez o tinha recomendado o seu ex-namorado, católico de baptismo. Babarsky acreditava na existência de um único Deus, mas nunca tinha aprofundado nessa fé, assim que seguiu o conselho e adquiriu o volume e começou a lê-lo "imediatamente".

Insuportável

Admite que não conseguiu passar de um terço das suas páginas, e faz sua a opinião de um leitor na Amazon: "Comecei a lê-lo pensando que encontraria uma crítica lógica, céptica e científica a la religião. Sem dúvida, encontrei algo assim como um mau editorial do Boston Globe: uma sucessão de adjectivos pejorativos com pretensão de argumentos, afirmações apodícticas tomadas como provas, uma atitude incrivelmente arrogante e uma postura de equidistância incapaz de distinguir entre fortalezas e debilidades das diferentes religiões, incluído do ateísmo militante que propunha Dawkins. Não é uma análise académica, é mau jornalismo".

Judith acrescenta que considerou o livro "uma perca de tempo" porque "não tinha argumentos convincentes sobre a existência ou inexistência de Deus": "Não só Dawkins era irrespeitoso com qualquer opinião que não fosse a sua, mas sim que além disso encontrei as suas afirmações sobre Jesus tão mal informadas (e não é que eu fosse a melhor conhecedora do tema) que decidi aprender algo mais sobre Jesus Cristo".

Sair do conformismo e da mediocridade
Esse foi o efeito positivo da leitura de A miragem de Deus: "Desafiou-me a ir mais além da minha zona de conforto e a enfrentar-me com honestidade em pontos que me levassem a um compromisso pleno com a fé". O seu "fundamentalismo ateu" e a ideia de Dawkins de que "os grandes cientistas, como Einstein, não poderiam ser tão ignorantes como para crer realmente num Deus sobrenatural, ainda que eles tenham dito o contrário", a sublevaram: "Dawkins prega para a sua paróquia ateia debaixo da premissa de que quem discorda do seu livro é, essencialmente, um idiota. Pois bem, não gosto que me chamem idiota".

Mas Judith reflectiu: "Compreendi que eu não era melhor que Dawkins. Estava baseando a minha fé em sentimentos interiores e numa certa percepção do mundo, mas sem ir mais além de um nível superficial. Assim que saí a procurar algumas respostas", sobretudo sobre "essa misteriosa figura de Jesus".

Ratzinger descobriu-lhe Jesus

"Foi o princípio da minha viagem de conversão ao catolicismo: ao ler para refutar Dawkins e para encontrar respostas às minhas perguntas, descobri o Deus-homem Jesus Cristo", recorda: "A visão católica não só me tocava emocionalmente, mas sim que (e isto era talvez mais importante para mim) era intelectualmente honesta".

Mas faltava-lhe saber como tinham visto Jesus no século I: "E isso levou-me a Jesus de Nazaré de Bento XVI. Não é uma leitura fácil, mas tinha sentido". E ainda que Judith crê no método científico e que a Encarnação e a Redenção não podem provar-se cientificamente ("portanto tampouco o ateísmo de Dawkins"), os motivos de credibilidade que encontrou "fecharam o círculo": "Escolhi crer num Deus sobrenatural e no seu Filho, seu Verbo, Jesus. Creio nos milagres. Creio que a ciência, ainda que tem muitas perspectivas valiosas que oferecer-nos, não tem a última palavra. Creio que há coisas que não podemos compreender, creio que Deus é grande e que o homem, criado à sua imagem e com livre vontade, descobriu coisas maravilhosas sobre o mundo natural que habitamos. Deus não é uma miragem, tampouco eu sou uma miragem".

Assim a professora Babarsky agradece à sua enteada a recomendação: "Sem A miragem de Deus jamais teria avançado numa honesta procura intelectual sobre o significado da minha vida. Ainda estaria perdida e perseguindo-me com uma fé cómoda e parcial".

Os apuros de Dawkins numa entrevista televisiva



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