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sexta-feira, 20 de junho de 2014

A antiga Saigão, hoje comunista, baptiza mais de 6.000 adultos por ano… Ainda que tem «truque»

Um dos poucos países sem dispensa para matrimónios mistos 

Vietnamitas católicos em adoração eucarística...
1 de cada 4 novos católicos é adulto
Actualizado 8 de Maio de 2014

P.J.Ginés/ReL

Ho Chi Minh City, a antiga Saigão, é a maior cidade do Vietname, maior até que a capital, Hanói. Foi a cidade mais ocidentalizada durante o período colonial francês e a que tem maior presença católica, com bastante mais liberdade que em outras partes do país.

É uma diocese de 9 milhões de habitantes, dos quais 680.000 são católicos, numa igreja diocesana tremendamente viva: 670 sacerdotes, mais de 5.000 religiosos e religiosas, mais de 7.000 catequistas… E cada ano baptizam-se nela mais de 6.000 adultos.

Em 2012, por exemplo, baptizaram-se 6.736 adultos, chegados do ateísmo, o budismo ou o culto aos antepassados. Por cada adulto baptizam-se 3 bebés. Quer, 25% do crescimento da Igreja é por conversões de adultos.

Para entender melhor esta cifra, pensemos que em toda a França há uns 3.700 baptismos de adultos, ou que em dioceses grandes e plurais como Los Angeles e Nova Iorque a Igreja cresce com entre 1.300 e 1.600 adultos ao ano.

Casamentos católicos? Que ambos sejam católicos
A Igreja Católica no Vietname (7 milhões de habitantes sobre um total de 90 milhões) tem uma peculiaridade: não concede dispensas para celebrar matrimónios católicos com pessoas não católicas.

Nos Estados Unidos, Espanha ou França, quando um católico quer casar-se pela Igreja com um não-católico (protestante, muçulmano, não baptizado…) deve pedir uma autorização especial ou dispensa ao bispado, que o concede quase automaticamente. Por suposto, ao cônjuge não católico pede-se-lhe que entenda e aceite que é um casamento católico, a que se compromete: uma união indivisível, em exclusividade e fidelidade, de um com uma, aberto à vida e que educará cristãmente os filhos.

Se o cônjuge aceita isto, ainda que não acredite em Deus, o matrimónio é válido. Se o cônjuge (tenha ou não fé) não aceita isto (não quer ter filhos, não pensa deixar que os filhos se eduquem na fé, não crê que seja uma união inseparável…) e finge aceitá-lo na cerimónia, tratar-se-ia de um casamento fingido ou nulo.

A Igreja na maior parte dos países não pede ao cônjuge não católico que se faça católico… Ainda que tem a esperança de que se converta com o tempo, a oração e o bom exemplo do outro membro da família. E de facto, estatisticamente, na França, nos Estados Unidos e em quase todo o mundo os matrimónios mistos (e os namoros) são a maior fonte de conversões de adultos.

A peculiaridade do Vietname é que as dioceses do país tem como norma própria não conceder esta dispensa. Se um budista ou ateu no Vietname quer casar-se “catolicamente” com um católico, tem de fazer-se católico, tenha pouca, muita ou nenhuma fé.

E isso cria um “remanescente” de convertidos reticentes, que aceitam sem grande convencimento o sacramento do baptismo, para poder aceder ao outro, o sacramento do matrimónio.

Falsos convertidos... Um problema

A diocese de Ho Chi Min City detalha (segundo um artigo de Joachim Pham para o National Catholic Register) que dos seus 6.736 baptismos adultos de 2012 só 851 se converteram por razões matrimoniais. Parece pouco, e daria uma ideia do atractivo da fé católica para muitos vietnamitas que procuram mais além da propaganda vazia do comunismo estatal e do budismo ou a simples veneração aos antepassados.

Mas para os matrimónios com “falsos” convertidos esta prática vietnamita pode ser uma fonte de sofrimento.

No artigo no NCR recolhe-se o caso de Teresa Pham, de 36 anos, que se casou com um budista, que admitiu baptizar-se mas sem ter nenhuma fé cristã nem vontade de adquiri-la. O seu marido insiste em que não crê em Deus.

Mais ainda, não a deixa ter um altar com devoções católicas no quarto, como é comum no Vietname, e ainda que prometeu no casamento educar cristãmente os filhos, depois não quis baptizá-los. Fê-los baptizar Teresa, às escondidas do seu marido. Toda a família paterna, budista, é hostil ao catolicismo.

Um sacerdote de 75 anos com uma paróquia de 4.000 paroquianos explica que ele baptiza uns 30 adultos por ano que o pedem para poder casar-se pela Igreja. “É muito difícil para eles ter uma experiência de fé”, admite. Todos os anos há alguns que não só prescindem de qualquer prática católica, mas sim que a dificultam aos seus cônjuges.

Além disso, os católicos vietnamitas, quando vão à Internet ou consultam com católicos de outros países, dão-se conta que a negação de dispensas para matrimónios mistos é uma prática absolutamente minoritária na Igreja mundial hoje. Porquê os católicos europeus sim e os vietnamitas não?

Por outra parte, ao contrário do que sucede na Coreia, onde cada convertido adulto fica quase automaticamente incorporado em alguma associação católica de fiéis que lhe dá um grupo pequeno de oração, formação e acompanhamento, no Vietname isto é infrequente. O novo convertido, especialmente o reticente, é difícil que encontre um grupo de referência se não o tinha procurado antes ou não tem um chamado ou bom exemplo.

Quando a fé se contagia em família
Por suposto, há esposos que se convertem sinceramente, ou ao menos dando uma oportunidade a Cristo, abertos a deixar que actue. A fé sincera de um esposo tende a contagiar o outro.

É o caso de Teresa Nguyen Thuy Kieu, que se converteu do budismo em 2005 e admirava a firmeza católica do seu namorado.

Hoje a Teresa é uma militante da Legião de Maria que também é catequista duas tardes da semana, partilha a sua fé e processo de conversão com catecúmenos adultos e tenta ir à missa quase todos os dias apesar do seu negócio de casamentos e o atropelo de ter dois filhos pequenos. 

Teresa Kieu com o seu segundo filho aos 10
meses; o doutor queria fazer que o abortasse
porque "teria incapacidades"; negou-se, orou
e nasceu são
Já teve o seu “baptismo de sangue” com o clássico ginecólogo do sistema vietnamita, rotineiramente abortista. O seu segundo bebé, disse-lhe, teria incapacidades e pressionava-a para que o abortasse. Mas ela era católica e sabia que isso era assassinar um bebé. Negou-se ao aborto e confiou-se a Deus e à oração. O menino nasceu prematuro e pequeno, mas já tem quase um ano e está forte e são.

Teresa Kieu “contagiou” a fé no seu ambiente: inspirados por ela e seu testemunho, a sua mãe, a sua cunhada e 11 sobrinhos também se baptizaram nos últimos anos.

Tudo isto sucede num país onde o catolicismo é minoritário e as autoridades o olham com desprezo, desdém e desconfiança. E contudo, 1 de cada 4 novos católicos, é um vietnamita adulto.


in

 

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