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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Dominique Rey revela o segredo do seu boom de seminaristas: «Dioceses com fisionomia missionária»

«Cultura de redes» frente a «referência territorial» 

Dominique Rey, um bispo aberto a qualquer iniciativa de
Nova Evangelização.
Actualizado 11 de Maio de 2014

C.L. / ReL

O bispo de Fréjus-Toulon, no sudoeste mediterrâneo francês, pôs em marcha critérios de Nova Evangelização desde que foi nomeado, em 2000, quando tinha 47 anos. Hoje, cumpridos os 61, Dominique Rey pode apresentar resultados dessa evangelização "nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão", segundo a célebre definição de João Paulo II no seu discurso ao CELAM de 9 de Março de 1983.

Entre outros resultados, as vocações: na sua diocese, que abarca uma população de uns seiscentos mil católicos, os seminaristas são já mais de 60, uma proporção que constitui um autêntico boom por comparação com outras.

Redes, mais que territórios: fisionomia missionária
Nem todos provêm do seu território, explica numa ampla entrevista concedida à página web diocesana: "Esse número deve-se em parte ao acolhimento a novas realidades eclesiais que se implantaram na diocese e que a enriquecem com o seu carisma e as suas vocações. Além disso, constato que os jovens funcionam numa cultura de redes, e já não com referências territoriais. A muitos que carecem de raízes locais atraem-nos dioceses que apresentam uma fisionomia missionária, o que explica a atracção que esta diocese exerce sobre jovens originários de fora do departamento".

Este ano monsenhor Rey ordenará cinco seminaristas, dois dos quais dirão a missa tradicional ("desejo que possamos aplicar plenamente o motu próprio Summorum Pontificum de Bento XVI") e todos eles incardinados em Fréjus-Toulon.

O sacerdote do século XXI
"Creio que o sacerdote do século XXI deve ter três características", explica o bispo: "Primeiro, a integridade. Por esta palavra entendo que o ministro ordenado deve assumir a sua identidade sacerdotal, fixá-la no plano espiritual por uma verdadeira relação com Cristo, numa busca constante de coerência de vida, exemplaridade evangélica e fidelidade ao Magistério. Em segundo lugar, a proximidade. A tentação do sacerdote é o clericalismo, caindo como uma laje sobre aqueles a quem se supõe deveria servir. Esta proximidade vive-se no interior da Igreja realçando o papel dos laicos e dando-lhes a possibilidade de exercitar uma verdadeira co-responsabilidade pastoral. Esta proximidade aplica-se igualmente no âmbito da missão. A exemplo de Cristo, só se pode dar testemunho da fé e dar conta da nossa esperança indo as pessoas ali onde se encontram. A terceira qualidade do sacerdote, que vive hoje no contexto do ´eclipse de Deus´ e da marginalização da Igreja, deve ser o zelo missionário. Trata-se de ir buscar às pessoas, uma postura de ´acudir as periferias existenciais´, como recorda o Papa Francisco".

Diversidade de carismas
Dos 222 sacerdotes activos em Fréjus-Toulon, 96 (43%) estão vinculados a diversos tipos de comunidades: institutos religiosos, associações sacerdotais, comunidades novas de laicos, etc.

"Este número e esta diversidade são uma grande fortuna. Permitem abarcar mais terreno e portanto desenvolver uma pastoral de presença e proximidade", explica o bispo, diferentemente daquelas dioceses onde o envelhecimento de sacerdotes e o seu escasso número obrigam ao reagrupamento: "Além disso, este número relativamente importante de sacerdotes na diocese favorece a formação de polos missionários, em particular nos grandes municípios. Desta forma os sacerdotes unem-se em torno de uma missão comum com uma certa comunidade de vida e oração que evita o isolamento e o desânimo".

A diversidade apresenta um desafio: a comunhão, "para que a nossa Igreja não seja uma simples justaposição de carismas e sensibilidades pastorais". Rey afronta-o com peregrinações e encontros sacerdotais "no respeito aos dons que cada um traz ao serviço da única Igreja de Cristo, da qual somos ministros e servidores: só ela tem o carisma de todos os carismas".

Perante a peculiar mentalidade dos jovens de hoje
Monsenhor Rey assinala outro desafio: a encarnação. "Os recém-chegados à diocese devem inserir-se na história de uma Igreja particular e num presbiterado marcado por fortes tradições. As novas gerações são frequentemente escravas do zapping e estão acostumadas a reagir com rapidez emocional. Servir a Cristo e aos homens exige trabalhar nas fidelidades e na permanência, aceitando atravessar zonas de incomodidade e resistências interiores ou exteriores", aconselha.

Uma nova forma de dirigir a Igreja
Acrescenta o prelado, seguindo a Evangelii Gaudium de Francisco, que "não nos podemos ficar numa pastoral de manutenção e de apoio, há que fazer as mudanças necessárias para chegar às pessoas da rua, captar as necessidades espirituais do nosso tempo, mobilizar-nos até as novas formas de pobreza: pobrezas materiais, sim, mas também relacionais, afectivas e morais. Esta conversão pastoral passa em primeiro lugar pela conversão dos pastores enquanto forma de governar a comunidade de forma mais comprometida, mais dinâmica".

Quatro verbos, quatro formas de ajudar os sacerdotes
Quanto à atitude dos fiéis com os sacerdotes, monsenhor Rey pede que "ajudem os sacerdotes a crer no seu ministério, a ir até o final na sua missão. O exercício do ministério é para cada um deles uma escola de santidade pelo dom de si mesmos ao serviço dos demais. Os fiéis devem apoiá-los para que sejam verdadeiros padres, chamados por Cristo a engendrar na fé ao povo cristão com os sacramentos e o anúncio da Palavra. Os laicos devem olhar os sacerdotes como um dom de Deus e ajudá-los a levar a pesada carga do seu ministério, mas também a santificar-se e a converter-se, porque são pecadores, como eles".

"Poderia resumi-lo em quatro verbos", conclui: "Rezar por eles, amá-los, ajudá-los espiritual, fraternal e materialmente e acompanhá-los nos caminhos da missão".

Clique aqui para ler (em francês) a entrevista na íntegra.


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