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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Atrocidades do grupo Estado Islâmico (EI) destacam a importância da liberdade religiosa

O arcebispo de Denver pede o envolvimento das pessoas de fé autêntica no sistema político em todos os níveis


Roma, 31 de Julho de 2014 (Zenit.org)


Reproduzimos a seguir a coluna assinada pelo arcebispo dom Samuel Aquila, de Denver, nos EUA, publicada originalmente no Denver Catholic Register.

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"Pela primeira vez na história do Iraque, Mossul está agora vazia de cristãos", disse o patriarca Louis Sako depois de vencido o ultimato dado pelos extremistas islâmicos, ao meio-dia do último dia 19 de Julho. A cidade de Mossul tinha contado com a presença cristã fazia mais de 1.700 anos. Agora, porém, o grupo militante extremista Estado Islâmico (EI) os expulsou, na tentativa de expandir o próprio território regido pela sua particular interpretação da sharia, a lei islâmica.

Nossos irmãos e irmãs na fé foram intimados a deixar suas casas e a ir embora com as suas famílias caso desejem preservar a fé cristã. Se ficassem, teriam duas opções: converter-se ao islão ou morrer. À medida que as famílias desesperadas partiam, eram obrigadas a entregar todo o dinheiro ou objectos de valor que possuíssem, além dos passaportes.

Em Mossul, os membros do EI marcaram as casas dos cristãos com a letra árabe "N", pichada com spray vermelho. É a inicial de “nazarenos”, o termo com que o alcorão denomina os cristãos. A marca significa que a casa pode ser saqueada e ocupada pelos seguidores do EI. Os cristãos não foram os únicos alvos: os muçulmanos xiitas também tiveram as casas pichadas com a letra "R", por "rejeitarem" os militantes do islamismo sunita.

Com a partida dos cristãos, o EI começou a queimar igrejas históricas, mosteiros e mesquitas xiitas. Uma das mesquitas demolidas tinha sido um antigo mosteiro católico que continha o túmulo do profeta Jonas. Era local de peregrinação para cristãos e muçulmanos havia séculos. Tornou-se uma pilha de escombros.

O bispo auxiliar de Bagdad, dom Shlemon Warduni, também descreveu como os idosos, os doentes e as crianças pequenas estão sendo tratados pelos militantes. E lamentou: "Nós nos perguntamos: por que isso está acontecendo? Essas coisas contra a dignidade humana, contra Deus, contra a humanidade? Esses militantes arrancam os remédios das mãos de crianças, crianças pequenas, e os atiram no chão".

Eu uno a minha voz à do papa Francisco e à de muitos outros que condenaram e clamam contra esta grave injustiça. É evidente, pelas suas acções, que o EI não é capaz de entrar em diálogo e não pode ser confiável para proteger os cristãos ou outras minorias. Ou é do jeito deles, ou é a morte.

O que devemos fazer então? Em primeiro lugar, temos que expressar a nossa solidariedade para com os nossos irmãos cristãos do Oriente Médio por meio de apoio material e espiritual. Temos que orar e jejuar pelos nossos inimigos e pela sua conversão de coração, tal como Jesus nos ordena no Evangelho. Podemos também doar para as agências que ainda estão trabalhando em meio ao caos, como a Catholic Relief Services, a Ajuda à Igreja que Sofre e a Rede Católica Internacional de Migração.

Ao agir e manifestar a nossa solidariedade para com os que sofrem perseguição, nós crescemos em coragem e misericórdia. Essas virtudes essenciais são necessárias nos tempos em que vivemos e temos que desejá-las em nosso coração, se queremos que a paz aconteça. Estas duas virtudes também são necessárias para protegermos a nossa liberdade religiosa no Estado do Colorado e em todo o nosso país.

A segunda coisa que devemos fazer na esteira dessas atrocidades é reflectir sobre o quanto elas ressaltam a importância fundamental da liberdade religiosa para que exista uma sociedade civilizada. Mas não fiquemos só no pensamento. Todos nós temos que nos engajar activamente no sistema político para proteger os nossos direitos religiosos e trabalhar pelo bem comum, à luz do Evangelho e da nossa fé.

A liberdade religiosa não consiste apenas em poder louvar a Deus numa casa de oração. Para os cristãos, consiste em poder ser cristãos, em deixar a nossa fé impactar a nossa forma de trabalhar, de fazer compras, de tomar decisões, de formar as nossas famílias, de trabalhar em nossas instituições de caridade e em nossas empresas e de interagir com o resto da sociedade. O verdadeiro encontro com Jesus e com a sua Igreja é tão poderoso que não afecta apenas o que fazemos aos domingos: ela afecta as nossas vidas inteiras.

Como americanos, nós fomos abençoados por viver em um país que tem valorizado a fé e, na maior parte dos casos, tem respeitado o nosso direito de praticá-la livremente. Mas o apoio do governo à fé está diminuindo cada vez mais. A prova mais recente disso é a decisão executiva do presidente Barack Obama de incluir os indivíduos com atracção pelo mesmo sexo e as pessoas transgénero em uma lista de classes protegidas nas contratações federais. O aspecto mais significativo desta ordem é que ela não inclui qualquer isenção religiosa, apesar das repetidas solicitações de respeito à objecção de consciência.

A melhor defesa contra isso é o envolvimento de pessoas de fé autêntica no sistema político, em todos os níveis. Várias pessoas já me disseram que orar e agir para derrotar os projectos de lei contrários à dignidade humana foram a sua primeira atitude política em muitos anos. Algumas pessoas me disseram também que não votaram nas últimas três eleições porque tinham perdido a esperança no governo!

Mas a atitude cristã na política deve ser de esperança, porque Cristo pode vencer qualquer coisa. O maligno quer que percamos a esperança e nos desesperemos, mas a ressurreição de Jesus nos garante o contrário. Com Deus, todas as coisas são possíveis para o bem e para a verdade, mas nós, como seres humanos, temos que agir para defender esta verdade. Somos chamados a ser pessoas de esperança que depositam a confiança em Cristo, para que Ele nos ajude a fazer do seu Reino uma realidade aqui na terra.

Oro para que todos os que lêem esta coluna ou ouvem falar dela actuem para ajudar os nossos irmãos e irmãs no Oriente Médio, e para que, ao fazê-lo, recebam a graça de ser corajosos na defesa da liberdade religiosa em nosso país também.

Oremos pelos perseguidos e pelos seus perseguidores e demos testemunho da nossa fé, não importa o quanto isso possa nos custar: mesmo que nos leve à cruz de Jesus Cristo! Que o aflito seja consolado pela graça de Deus e pela esperança do céu.

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