Páginas

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Muçulmanos chiitas iranianos traduzem ao persa o Catecismo da Igreja Católica com vºbº vaticano

Actualizado 31 de Maio de 2014

Bernardo Cervellera / AsiaNews 

Ahmad Reza Meftah, no centro da
foto, junto com os seus
colaboradores.
Eruditos muçulmanos chiitas traduziram ao persa o Catecismo da Igreja Católica. Aqueles que oferecem esta "pérola" do diálogo são uma equipa de tradutores da Universidade das Religiões e Denominações (URD), situada nos arredores de Qom.

Debaixo da direcção do professor Ahmad Reza Meftah, completaram a obra (quase mil páginas de teologia e pastoral!) dois tradutores, os também professores Sulemaniye e Ghanbari. Obviamente, a sua tradução foi revista por várias figuras católicas no Irão e publica-se com uma introdução do cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

A URD, com cerca de dois mil estudantes, oferece cursos de teologia e confissões islâmicas e de cristianismo, hinduísmo, budismo e judaísmo. Os estudantes e professores estudam os textos fundamentais das religiões nas fontes, na sua tradução ao persa. Até agora publicaram pelo menos duzentos livros, incluindo cinquenta volumes de fontes cristãs.

Um complexo e supervisionado processo
O professor Meftah explica o caminho seguido pela tradução do Catecismo: "Quando começámos a estudar outras religiões, ninguém se deteve a estudar o cristianismo. Necessitávamos de uma fonte autorizada cristã que estudar, nós pelos nossos alunos. O professor Legenhausen, um católico dos Estados Unidos que ensina nas nossas universidades, convenceu-nos de que o Catecismo é importante para os católicos. Assim começámos a traduzi-lo para entender mais acerca da fé católica.

Sempre quisemos estudar e investigar na tradução persa alguns livros cristãos, como o Evangelho ou A Cidade de Deus de Agostinho".

"Traduzimos o Catecismo da versão inglesa, comparando-a logo com a versão árabe. Queríamos ser muito precisos. Por isso que necessitávamos que a tradução fosse confirmada de alguma maneira pelo Vaticano. Demos o livro a um católico italiano, que conhece o persa, que o coligiu com o texto original em latim. Só fazer este trabalho levou nove meses! Comparou as versões escrupulosamente e deu-nos alguns conselhos. Depois disto, alguns dos nossos amigos continuaram revendo a tradução".

"No ano passado quisemos publicar este livro e falámos com o padre Franco Pirisi [salesiano que leva décadas na nunciatura em Teerão], que nos ajudou a obter algum tipo de reconhecimento oficial do Vaticano. Grande conhecedor da língua persa, depois de ter lido todo o livro, arranjou-nos uma introdução do cardeal Jean-Louis Tauran, que ele mesmo traduziu ao persa. Agora o livro está pronto. Será publicado pela editora da Universidade mas com o visto bom do Vaticano! Foi fundamental pedir a permissão da Nunciatura para publicá-lo, pedindo-lhes que o lessem atentamente. E eles confirmaram a nossa tradução".

Limitações pelo "proselitismo"
Há que dizer que, segundo as leis iranianas, cada igreja cristã tem direito a usar o seu idioma (arménio, caldeu, latim, inglês...), mas não a língua persa, talvez por temor a facilitar o que as autoridades chamam "proselitismo". Por esta razão, para a Igreja católica não tinha sido possível publicar o livro no idioma persa. "Deste modo - disse, rindo, o professor Meftah - ajudamos à liberdade de expressão dos cristãos. Não era o nosso principal objectivo, mas é um dos frutos. Para nós e para os nossos estudantes é importante saber mais acerca do cristianismo e do que os cristãos dizem sobre si mesmos, e não pelo que outros dizem. Assim podemos eliminar mal-entendidos, esquemas ideológicos e fomentar o respeito pelos demais. É uma medida prática para fortalecer o diálogo entre nós".

O professor Meftah tem grandes perspectivas: "No futuro queremos apresentar o novo livro em Roma. Sempre que seja possível, gostaríamos de fazer a tradução ao italiano de um livro sobre o chiismo. Desta maneira podemos mostrar o diálogo de uma maneira muito prática. É uma oportunidade para mostrar a nossa abertura ao diálogo, estamos dispostos a falar convosco sem nenhum tipo de limitação. Além disso, provavelmente é a primeira vez que um livro católico deste peso é traduzido por um grupo de eruditos muçulmanos".

A nova orientação política iraniana
Ahmad Reza Meftah e os seus companheiros de trabalho assinalam que esta atitude de abertura para com outras religiões não data de hoje, com a chegada do presidente Hassan Rouhani, bem conhecido pelas suas posições favoráveis ao diálogo: "Estávamos preparados para o diálogo, inclusive antes do presidente Rouhani, e sempre temos tratado de dar passos pela paz no Irão com outros países e religiões. Com a chegada de Rouhani talvez haverá mais oportunidades, pelo menos para eliminar algumas limitações e mal-entendidos".

"A relação entre o Islão e o cristianismo no Irão – explica - não se pode comparar com a situação de outros países islâmicos. Os cristãos no Irão estão a salvo [dos ataques] e podemos partilhar um propósito comum. Se nos vemos como amigos não temos problemas. Mas se nos olhamos como inimigos, com suspeita ou indiferença, se competimos tratando de roubar algo, como sucede em outros países, chega o terrorismo.

Tratando-nos como amigos eliminamos o terrorismo, e dão-se passos até à paz".


in

Sem comentários:

Enviar um comentário