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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Santa Sé: a violência não levará a nenhum lugar, nem agora, nem no futuro

Discurso de dom Silvano Maria Tomasi em Genebra na sessão especial do Conselho da ONU para os Direitos Humanos, dedicada ao conflito Israel-Palestina


Cidade do Vaticano, 24 de Julho de 2014 (Zenit.org)


"A voz da razão parece submergir sob o rugido das armas", afirmou dom Silvano Maria Tomasi, observador permanente da Santa Sé junto à Organização das Nações Unidas, durante a sessão especial de ontem do Conselho da ONU para os Direitos Humanos, dedicada ao actual conflito entre Israel e a Palestina.

Tomasi afirmou que "a violência não levará a nenhum lugar, nem agora, nem no futuro. A perpetração de injustiças e a violação dos direitos humanos, em particular do direito à vida e a viver em paz e segurança, semeiam ódio e ressentimento".

O conflito "está consolidando uma cultura da violência, cujos frutos são destruição e morte. No longo prazo, não haverá vencedores na tragédia actual, só mais sofrimento". A maior parte das vítimas são civis, que deveriam ser protegidos pelo direito humanitário internacional, agregou.

O observador da Santa Sé recordou que as Nações Unidas estimam que cerca do setenta por cento dos palestinianos assassinados são civis inocentes. "É intolerável que os mísseis sejam direccionados indiscriminadamente para objectivos civis. As consciências estão paralisadas por um clima de violência prolongada, que tenta impor a solução através da eliminação do outro. Mas demonizar os outros não elimina os direitos deles. O caminho para o futuro é reconhecer a nossa comum humanidade".

Dom Tomasi citou um discurso do papa Francisco em Belém, feito durante a peregrinação à Terra Santa: "Pelo bem de todos", pediu o papa, "redobrem os esforços e as iniciativas para criar as condições de uma paz estável, baseada na justiça, no reconhecimento dos direitos de cada um e na recíproca segurança. Chegou a hora de todos terem a audácia da generosidade e da criatividade a serviço do bem, do valor da paz, que se apoia no reconhecimento, por parte de todos, do direito de dois Estados a existir e a desfrutar da paz e da segurança dentro de fronteiras reconhecidas internacionalmente".

O prelado continuou destacando que "a legítima aspiração à segurança, por um lado, e a condições de vida digna, pelo outro, incluindo o acesso aos meios de existência normais, como remédios, água e trabalho, reflecte um direito humano fundamental, sem o qual a paz é muito difícil de manter".

Tomasi afirmou ainda que "a piora da situação de Gaza é um apelo incessante à necessidade de se chegar a um cessar-fogo imediato e de iniciar negociações para uma paz duradoura (...) É responsabilidade da comunidade internacional comprometer-se seriamente na busca da paz e na ajuda às partes deste conflito horrível para alcançar a compreensão, com o objectivo de acabar com a violência e olhar para o futuro com confiança recíproca".

O representante vaticano acrescentou que "a violência nunca vale a pena. A violência trará apenas mais sofrimento, devastação e morte e impedirá que a paz vire realidade. A estratégia da violência pode ser contagiosa e se tornar incontrolável". Por isso, explicou, "para combater a violência e as suas consequências negativas, temos que evitar acostumar-nos a matar".

Ao concluir o discurso, dom Tomasi destacou que os meios de comunicação "deveriam informar com equidade e imparcialidade sobre a tragédia de todos os que sofrem por causa do conflito, com o fim de facilitar o desenvolvimento de um diálogo imparcial que reconheça os direitos humanos". E encerrou afirmando que "o círculo vicioso da vingança e da represália tem que acabar. Com a violência, os homens e as mulheres continuarão vivendo como inimigos e adversários, mas, com a paz, podem viver como irmãos e irmãs".

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