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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Os comunistas mantém em «reeducação» o bispo Ma Daquin até que ceda: ele continua fiel ao Papa

«Emagreceu, está pálido», dizem aqueles que puderam vê-lo 

Tadeo Ma Daqin recebe as felicitações dos fiéis, no dia em
que foi ordenado bispo... Pouco antes de ser preso, nesse
mesmo dia
Actualizado 25 de Julho de 2014

Leone Grotti / Tempi.it

Pelo segundo ano consecutivo, durante a comemoração anual dos santos mártires chineses Agustín Zhao e companheiros, canonizados por João Paulo II no ano 2000, rezou-se também por Tadeo Ma Daqin, o bispo de Shanghai, de 46 anos, que está em prisão domiciliária no seminário de Sheshan desde 7 de Julho de 2012, dia da sua ordenação episcopal como bispo auxiliar e dia, também, da sua prisão.

Monsenhor Ma, antes bem considerado não só pelo Vaticano mas também pelo partido comunista, que quer decidir as nomeações episcopais na China como fazia o Imperador Henrique IV no século XI, foi preso pela polícia ao terminar a Misa por ter pronunciado estas palavras: «Com esta ordenação, eu consagro o meu coração e a minha alma ao ministério episcopal e à evangelização. Quero dedicar-me a assistir ao bispo (Jin Luxian, que então tinha 96 anos, ndr) e por isto algumas posições que mantenho resultam agora inconvenientes. A partir de agora, portanto, deixo de ser membro da Associação patriótica».

A declaração foi acolhida com um longuíssimo aplauso por parte dos fiéis, mas o partido comunista não a acolheu tão bem.

Uma igreja ao serviço do Partido
A Associação patriótica é um sucedâneo da Igreja católica e foi criada por Mao Zedong em 1958.

Entre os seus fins está o de instituir uma Igreja independente da Santa Sé e do Papa, considerado um chefe de Estado estrangeiro e hostil.

Não é casualidade que Bento XVI a defina um órgão «inconciliável com a doutrina católica».

Sem dúvida, todos os sacerdotes e bispos da China são chamados a aderir à denominada "Igreja oficial", que pretende estabelecer o que tem que ensinar o catecismo, quem deve ser ordenado, que se deve estudar nos seminários e que devem dizer os párocos nas homilias.

Mas Daqin decidiu com valentia obedecer ao Papa e não ao partido comunista e disse-o publicamente a todos os fiéis da diocese de Shanghai.

Uma jaula dourada e "reeducação"
Os oficiais do partido transferiram-no imediatamente para o seminário de Sheshan (ver foto acima), na periferia de Shanghai, para que «descansar» e porque as suas acções «violaram gravemente o regulamento sobre a ordenação episcopal do Conselho dos bispos da China».

Nesta «jaula dourada, quase totalmente isolado», como referiram os testemunhos dos que conseguiram visitá-lo às escondidas «emagreceu, está pálido».

O governo de Shanghai também obrigou a diocese a suspendê-lo, impedindo-lhe a concelebração da Missa durante dois anos e revogando-lhe o cargo de pároco da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em Tangmuqiao. Por último, a Conferência episcopal da igreja católica chinesa, não reconhecida pelo Vaticano porque no estatuto indica como autoridade última uma assembleia democrática de prelados e não o Papa, revogou a Monsenhor Ma o título de bispo auxiliar de Shanghai.

Mas no entanto monsenhor Ma converteu-se em bispo de Shanghai para todos os efeitos. Em 27 de Abril de 2013, de facto, morreu Jin Luxiam, o bispo "patriótico" ordenado em 1985 sem a aprovação do Papa e que se reconciliou com a Igreja em 2005.

Momento da procissão na
ordenação de Ma Daqin... Umas
horas depois foi detido
Roma tem-no claro
Monsenhor Savio Hon, secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, falou claramente desde Roma: «Ma Daqin é o bispo legítimo de Shanghai. A “Conferência dos bispos chineses” eliminou o seu título, mas a Santa Sé precisou que nenhuma conferência episcopal, em nenhuma parte do mundo, tem o poder de eliminar o mandato pontifício. Mais ainda neste caso, no qual a “conferência” não está reconhecida pelo Vaticano».

O partido comunista, por outro lado, declarou a sé vacante por meio de Anthony Liu Bainian, presidente honorário da Associação patriótica: «Enganou os bispos e o governo. Como poderia converter-se em responsável de uma dioceses tão grande como a de Shanghai? Foi corrompido por forças estrangeiras (quer dizer, pelo Vaticano, ndr). Violou as regras da Igreja, mas é uma pessoa dotada de talento e pode ser reabilitada se se arrepende verdadeiramente e reconhece os seus erros».

O erro de Monsenhor Ma Daqin consiste em ter reconhecido a autoridade do Papa contra a do partido comunista de Pequim, segundo o qual a vontade do Vaticano de nomear os bispos na China é uma «ingerência indevida».

Os últimos bispos excomungados
Antes do “caso Ma”, entre 2010 e 2012, o governo chinês interrompeu o diálogo com a Santa Sé através de quatro ordenações legítimas sem a aprovação do Papa: a de Guo Jincai como bispo de Chengde, a de Pablo Lei Shiyin como bispo de Leshan, a de José Huang Bingzhang como bispo de Shantou e a de José Yue Fusheng como bispo de Harbin.

A Santa Sé recordou numa nota que os bispos ilegítimos, e quem os ordenou contra o desejo do Papa, incorrem todos eles na excomunhão segundo o cânone 1382 do Código de Direito Canónico.

Alarga-se a pena domiciliária: querem que ceda
Ma Daqin, para subtrair-se à autoridade comunista, submeteu-se à prisão domiciliária e aos “cursos de estudo” de Pequim.

Descontada a pena de dois anos, parece sem dúvida que o encarceramento continuará em frente, segundo quanto declararam os oficiais do governo num encontro de sacerdotes e religiosas no passado dia 18 de Junho: «Não será libertado porque deve continuar a sua acção de arrependimento e reflexão».

Apesar da perseguição, o espírito do bispo não foi abatido, tal como demonstram as palavras que fez chegar ao Papa Francisco mediante o cardeal José Zen Ze-kiung, bispo emérito de Hong Kong: «Não deixe de pregar a verdade por temor de causar-me problemas».

Também os católicos de Shanghai entenderam o valor do testemunho de Ma. «Podereis restringir a liberdade de Monsenhor Ma, mas não podereis derrubar a sua fé», escreveu em 7 de Julho um fiel no mini-blogue do prelado, no qual se publicam orações e reflexões.

«Podeis ameaçar-nos, mas não podereis mudar a nossa fé. Nós os tratamos com benevolência, mas vós pisoteais a nossa consciência e nos olhais como agitadores. Podeis demolir as nossas igrejas, destruir as nossas cruzes, mas Deus reconstruirá o Seu templo nos nossos corações para sempre».

(Tradução de Helena Faccia Serrano, Alcalá de Henares)


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