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domingo, 21 de setembro de 2014

Mais do que mestres, as pessoas procuram testemunhas

As palavras do Papa na celebração das Vésperas com os sacerdotes, as religiosas, os religiosos, os seminaristas e movimentos leigos


Roma, 21 de Setembro de 2014 (Zenit.org)


Apresentamos o discurso do Papa Francisco na celebração das Vésperas com os sacerdotes, as religiosas, os religiosos, os seminaristas e movimentos leigos em Tirana, Albânia.

Amados irmãos e irmãs!

É para mim uma alegria encontrar-vos na vossa amada terra; dou graças ao Senhor e agradeço a todos pela vossa recepção. O facto de me encontrar no vosso meio permite-me expressar melhor a minha solidariedade com o vosso trabalho de evangelização.

Desde que o vosso país saiu da ditadura, as comunidades eclesiais recomeçaram a caminhar e a organizar-se em vista da acção pastoral, olhando com esperança para o futuro. De modo particular, o meu agradecimento vai para aqueles Pastores que pagaram, por caro preço, a fidelidade a Cristo e a decisão de permanecer unidos ao Sucessor de Pedro. Foram corajosos na dificuldade e na provação! Temos ainda entre nós sacerdotes e religiosos que experimentaram a prisão e a perseguição, como a irmã e o irmão que nos contaram a sua história. Abraço-vos, comovido, e louvo a Deus pelo vosso fiel testemunho, que estimula a Igreja inteira a prosseguir com alegria no anúncio do Evangelho.

Aproveitando esta experiência, a Igreja na Albânia pode crescer na missionariedade e na coragem apostólica. Conheço e aprecio o empenho com que vos opondes a novas formas de «ditadura» que acabam por manter escravas as pessoas e as comunidades. Se o regime ateu procurava sufocar a fé, estas ditaduras, mais subtis, podem sufocar a caridade. Penso no individualismo, nas rivalidades e nos conflitos exacerbados: é uma mentalidade mundana que pode contagiar também a comunidade cristã. De nada serve desanimar perante estas dificuldades; não tenhais medo de seguir em frente na estrada do Senhor. Ele está sempre ao vosso lado, dá-vos a sua graça e ajuda a apoiar-vos uns aos outros, a aceitar-vos tal como sois, com compreensão e compaixão, a cultivar a comunhão fraterna.

A evangelização é mais eficaz, quando é realizada com unidade de intentos e uma colaboração sincera entre as diferentes realidades eclesiais e entre missionários e clero local: isto requer coragem para continuar na busca de formas de trabalho comum e de ajuda recíproca nos campos da catequese, da educação católica, bem como da promoção humana e da caridade. Preciosa nestes âmbitos é também a contribuição dos movimentos eclesiais que sabem programar e agir em comunhão com os Pastores e entre si. É o que vejo aqui: bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, uma Igreja que quer caminhar na fraternidade e na unidade.

Quando se coloca o amor de Cristo acima de tudo, até mesmo de legítimas exigências particulares, então tornamo-nos capazes de sair de nós mesmos, das nossas «insignificâncias» pessoais ou de grupo, e caminhar para Jesus que vem ao nosso encontro nos irmãos; hoje as suas chagas ainda são visíveis no corpo de tantos homens e mulheres que têm fome e sede, que são humilhados, que estão no cárcere ou no hospital. E precisamente tocando e cuidando com ternura destas chagas, é possível viver plenamente o Evangelho e adorar a Deus vivo no meio de nós.

Muitos são os problemas que enfrentais cada dia! Impelem-vos a mergulhar, com paixão, numa generosa actividade apostólica. Sabemos porém que, sozinhos, nada podemos fazer. «Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores» (Sal127/126, 1). Esta certeza chama-nos a dar quotidianamente o justo espaço ao Senhor, a dedicar-Lhe tempo, a abrir-Lhe o coração, para que Ele actue na nossa vida e na nossa missão. O que o Senhor promete a uma oração confiante e perseverante supera tudo aquilo que possamos imaginar (cf. Lc 11, 11-12): para além do que pedimos, dá-nos também o Espírito Santo. No meio dos compromissos mais urgentes e árduos, torna-se indispensável a dimensão contemplativa. E quanto mais a missão nos chama a ir para as periferias existenciais, tanto mais o nosso coração sente intimamente a necessidade de estar unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e amor.

E, considerando que os sacerdotes e os consagrados ainda não são suficientes, o Senhor Jesus repete hoje também a vós: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe» (Mt 9, 37-38). E não se pode esquecer que esta oração parte de um olhar: o olhar de Jesus, que vê a abundância da colheita. Porventura temos nós também este olhar? Sabemos reconhecer a abundância dos frutos que a graça de Deus fez crescer, e a abundância de trabalho que há para fazer no campo do Senhor? É a partir deste olhar de fé sobre o campo de Deus que nasce a oração, a súplica diária e premente ao Senhor pelas vocações sacerdotais e religiosas. Vós, queridos seminaristas, e vós, queridos postulantes e noviços, sois fruto desta oração do Povo de Deus, que sempre precede e acompanha a vossa resposta pessoal. A Igreja na Albânia precisa do vosso entusiasmo e da vossa generosidade. O tempo, que hoje dedicais a uma sólida formação espiritual, teológica, comunitária e pastoral, é fecundo permitindo-vos, amanhã, servir adequadamente o povo de Deus. Mais do que mestres, as pessoas procuram testemunhas: testemunhas humildes da misericórdia e da ternura de Deus; sacerdotes e religiosos configurados a Jesus Bom Pastor, capazes de comunicar a todos a caridade de Cristo.

A este respeito quero, juntamente convosco e todo o povo albanês, dar graças a Deus por tantos missionários e missionárias cuja acção foi determinante para o renascimento da Igreja na Albânia e permanece, ainda hoje, de grande relevância. Contribuíram notavelmente para consolidar o património espiritual que bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos albaneses preservaram no meio de duríssimas provas e tribulações. Pensemos no grande trabalho feito pelos Institutos religiosos para a retoma da educação católica: este trabalho merece ser reconhecido e sustentado.

Amados irmãos e irmãs, não desanimeis perante as dificuldades! Seguindo as pegadas dos vossos pais, sede tenazes em dar testemunho de Cristo, caminhando «junto com Deus, rumo à esperança que nunca desilude». No vosso caminho, senti-vos sempre acompanhados e sustentados pelo afecto da Igreja inteira. De coração vos agradeço este encontro e confio à Santa Mãe de Deus cada um de vós e vossas comunidades, com seus projectos e esperanças. Abençoo-vos de todo o coração e peço-vos, por favor, que rezeis por mim.

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