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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A sua família procura-o para matá-lo por fazer-se cristão: num sonho, uma voz disse-lhe «Não temas»

Refugiado sírio no Líbano, Tarek espera chegar ao Canadá 

Tarek em oração numa igreja do Líbano... Ameaçado de morte na Síria por
converter-se ao cristianismo, espera uma nova vida no Canadá

P.J.G./ReL

É sírio, tem algo mais de 20 anos, faz-se chamar “Tarek” e é católico só desde há uns meses, com o nome de baptismo “João”.

O seu nome civil, o que usava na Síria, não o quer dar à imprensa: disseram-lhe que o seu pai e seus irmãos o procuram para matá-lo por converter-se ao cristianismo, que inclusive contrataram um profissional.

Há 3 anos que vive no Líbano, o país com mais percentagem de cristãos do Médio Oriente e o que tem mais liberdade religiosa.

Ainda assim, vive numa zona de população muçulmana, e quase ninguém sabe que se baptizou. Quando vai à missa fá-lo às escondidas: diz que sai a receber aulas de inglês, que quer ir para o estrangeiro.

E é certo que quer ir-se. Uma paróquia canadiana está ajudando-o a tratar dos papéis para ir para o Canadá.

No Líbano, tão próximo da Síria, país que acolhe 1,5 milhões de refugiados sírios (e a população libanesa é de só 4,2 milhões) sabe que há muitas pessoas fanáticas ou desesperadas dispostas a matá-lo. Cada atraso na papelada para emigrar aumenta o seu nervosismo.

A Polícia apanhou-o; os islamitas sequestraram-no
“Tarek” teve problemas na Síria com os dois bandos (se é que pode reduzir-se a dois): maltrataram-no as forças governamentais e as milícias islamitas.

Quando tinha 17 anos, logo antes de começar os protestos na Síria que se converteram em toda uma guerra civil, a Polícia do regime de Al Assad deteve-o quando ia comprar o pão, procurando líderes de descontentes.

Bateram-lhe na esquadra, fracturaram-lhe o crânio e partiram-lhe um braço. Meteram-no numa cela de 9 metros quadrados com outras 40 pessoas. Quando o soltaram ainda passou 5 dias num hospital.

Cinco meses depois, foi raptado por uma milícia islamita radical. Homens armados pararam o seu autocarro escolar nos arredores de Damasco e sequestraram-no a ele e a outros companheiros. No princípio queriam pedir por ele 10.000 dólares de resgate, mas acabaram deixando-o livre.

A guerra sobre a sua casa
Em Outubro de 2012 a guerra chegou ao seu povoado. Um avião atirou panfletos avisando de que o povoado seria atacado, pedindo aos habitantes para fugir antes de três dias. De facto, os combates não esperaram esse tempo. Tarek e a sua mãe fugiram para Damasco. Ali, a Polícia – o mesmo corpo que lhe tinha batido arbitrariamente – perguntou-lhe porque não estava alistado, servindo nas tropas governamentais.

“Eu não queria servir no exército. Tinha perdido o meu lar e a minha escola. Não ficava nada para mim”, explica ao “Toronto Star”.

Estudava a fé pelos seus amigos cristãos
Além disso, antes de começar o conflito na Síria, Tarek já estava estudando em segredo o cristianismo, religião que chegou à Síria 700 anos antes que o Islão e que praticava (antes da guerra) mais de 10% dos sírios.

“Muitos dos meus amigos eram cristãos e eu já tinha começado a receber formação de um sacerdote. Na Síria não é possível converter-se, a lei não o permite. Eu costumava falar com o sacerdote, queria saber mais, gostava. Depois do que se passou na Síria, decidi converter-me. O conselho que me deu o sacerdote foi sair do país, ir para o Líbano.”

Quando chegou a Beirute, “Tarek” passou outros dois meses recebendo formação na doutrina católica antes de tomar a decisão de baptizar-se.

Um sonho de exortação
“O dia que me baptizei, perguntei-me se era uma boa decisão. Pedia a Deus que me ajudasse a entender o que devia fazer. Nessa noite, teve um sonho. Eu orava no alto de uma montanha e todo o céu se desmoronou e ouvi uma voz que dizia: Deus está contigo, não tenhas medo”.

(Pode ler AQUI mais histórias de muçulmanos que tem sonhos e se fazem cristãos)

Esperança numa nova vida
“Tarek” não é um cristão que quer abandonar o Oriente… Tarek é um ex-muçulmano ao qual procuram activamente, pelo seu nome, para matá-lo. No Iraque e Síria, muitos cristãos perderam os seus lares e bens, mas não o seu nome. Tarek nem sequer pode usar o seu nome. Espera começar uma vida nova no Canadá.

“Sou optimista: não importa quanto tarde, no final se resolverá. Entristece-me ir-me mas quando acabe a crise a Síria já não existirá. É como enamorar-te de uma rapariga e logo ter que ir ao seu casamento com outro homem”, disse.


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