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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Bento XVI: Não se renuncia à verdade em nome de um desejo de paz

Mensagem do papa emérito à Universidade Urbaniana, que baptizou o seu auditório principal com o nome dele


Roma, 23 de Outubro de 2014 (Zenit.org)


"Um gesto de gratidão pelo que ele fez em prol da Igreja como perito conciliar, como professor, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e, finalmente, com o seu precioso magistério": esta é a motivação com que a Pontifícia Universidade Urbaniana dedicou a sua “aula magna”, ou auditório principal, a Bento XVI.

A cerimónia aconteceu nesta terça-feira, 21 de Outubro, durante a abertura do ano académico. Participou monsenhor Georg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia e secretário do papa emérito. Gänswein leu uma mensagem de Bento XVI, escrita para a ocasião e reproduzida pelo diário L’Osservatore Romano.

O texto destaca a "universalidade" que se respira na vida da Urbaniana e recorda à comunidade académica que a Igreja "nunca foi um só povo ou uma só cultura": desde o princípio, ela foi "destinada à humanidade". Neste sentido, a Igreja se torna instrumento visível da paz que Cristo prometeu aos seus discípulos e que hoje, "num mundo dilacerado e violento, deve ser edificada e construída cada vez com mais urgência".

Bento XVI se pergunta se, para este objectivo, ainda é realmente actual a missão ou seria preferível focar no diálogo entre as religiões, unidas em serviço comum à causa da paz. A resposta do papa emérito é dada sem perder de vista a "questão da verdade", à qual não se pode renunciar em nome de um desejo genérico de "paz entre as religiões do mundo".

O papa emérito Bento XVI escreve que vê as religiões não como "variantes de uma única e mesma realidade que assume formas diferentes", mas como realidade "em movimento histórico, assim como estão em movimento os povos e as culturas". Na perspectiva cristã, isto significa que o encontro com Jesus "pode levar de modo pleno à Verdade".

Cristo não destrói as culturas e as histórias com as quais Ele entra em contacto: Ele as insere "em algo maior", levando-as "à purificação e ao amadurecimento", diz o papa emérito. Deste encontro "surge nova vida" e "se manifestam novas dimensões da fé", que trazem alegria.

Naturalmente, a religião é mais do que um "fenómeno unitário". Nela, assegura Bento XVI, "podem ser encontradas coisas belas e nobres, mas também baixas e destrutivas".

Por outro lado, Bento XVI rejeita em sua mensagem a hipótese positivista de que a religião possa ser considerada hoje como "superada". O homem, afirma ele, "se torna menor, não maior, quando não há mais espaço para um ‘ethos’ que o leve para além do pragmatismo" e que oriente o seu olhar para Deus.

Daí a convicção de que, "num mundo em profunda mutação, permanece razoável a tarefa de comunicar aos outros o Evangelho de Jesus Cristo", inclusive porque "a alegria exige ser comunicada", assim como o amor e a verdade; não com a finalidade de "atrair para a nossa comunidade o maior número possível de membros", nem "por busca de poder", mas porque o amor vivido na alegria "é a autêntica prova da verdade do cristianismo".

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