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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Bastam 100 euros para escolarizar uma menina na Tailândia e salvá-la da prostituição

ONG espanhola trabalha há 12 anos no país asiático para construir um futuro melhor


Roma, 22 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) Rocio Lancho García


De acordo com o relatório “População”, da Universidade Mahidol, há mais de 50.000 meninas menores de 15 anos e 100.000 menores de 18 anos submetidas à prostituição infantil e vendidas aos prostíbulos de Bangkok e Pattaya, na Tailândia, onde elas são maltratadas e até mutiladas para não escapar. É contra este drama que luta a ONG espanhola “Somos Uno” [Somos Um].

Há 12 anos, o escritor espanhol José Luis Olaizola recebeu uma carta de uma professora de espanhol da universidade de Bangkok. Ela propunha que ele cedesse os seus direitos de autor do romance “Cucho”, pelos quais ela explicou que não poderia pagar. A mulher se chama Rasami Krisanamis. Olaizola lhe cedeu os direitos e, graças a isto, pôde ser construída uma escola para meninas tailandesas, a fim de impedir que a prostituição as cooptasse. Foi assim que o escritor começou a manter contacto com a professora, que foi à Espanha e o convidou a ir à Tailândia para dar uma conferência. No país asiático, ele conheceu o padre jesuíta Alfonso, que luta há 40 anos contra todos os dramas que afectam a juventude tailandesa. Quando José Luis o conheceu, a prioridade do sacerdote era lutar contra a prostituição infantil.

Olaizola contou a ZENIT o quanto esta experiência o impactou e nos explica qual é o trabalho realizado pela ONG “Somos Uno”.

Pouco tempo depois de conhecer o padre Alfonso, o escritor testemunhou a alegria do sacerdote porque uma aeromoça tinha lhe doado 100 euros. “Como é que 100 euros alegram você desse jeito, com todo o drama e a necessidade que existe aqui?”, indagou Olaizola. O padre lhe respondeu: “José Luis, pelo menos UMA!”.

Olaizola voltou à Espanha, deu conferências sobre o tema, escreveu artigos e começou a procurar a generosa ajuda dos espanhóis. Com o dinheiro levantado, nasceu a ONG, “artesanal e familiar”, como a descreve o fundador, já que a organização é formada apenas por ele, pela esposa e pelos filhos. “E já estamos lutando há 12 anos contra a prostituição infantil na Tailândia”.

Quando José Luis conheceu o padre Alfonso, ele já tinha escolarizado 150 meninas. Agora são 2000, das quais 200 estão na universidade. “O facto de que entre na universidade uma menina dos arrozais do Camboja, que é considerada ínfima pela sociedade tailandesa, ‘carne de prostíbulo’, significa que, pouco a pouco, estamos mudando o mundo”, afirma o escritor, que conta mais detalhes do trabalho realizado: “Temos que detectar as meninas em grave risco de cair na prostituição”. Por exemplo, as filhas de prostitutas, as filhas de mães que morreram de aids, as meninas que dependem de uma avó idosa ou de uma tia mais velha que pode vendê-las por uma ninharia… É nesse meio que costumam ser encontradas meninas de 13 anos que já estão ou correm alto risco de cair na chamada “indústria do sexo”.

E bastam 100 euros para escolarizar uma menina. Olaizola explica que a escolarização é feita normalmente no lugar mais próximo da casa das meninas. O dinheiro serve para comprar livros, uniformes e, em muitos casos, para pagar meia pensão.

“O padre Alfonso e sua equipe dão acompanhamento às 2000 meninas e se preocupam com os seus problemas pessoais”. Cada uma delas tem nome: a equipe conhece as suas casas e as ajuda como pode.

Em sua primeira viagem à Tailândia, Olaizola conheceu uma menina de quatorze anos chamada Ama. Ela tinha incendiado o bordel em que vivia aprisionada. Quando a polícia lhe perguntou o motivo, ela respondeu: “Eu morreria queimada feliz se o dono do bordel também morresse junto”. Olaizola entendeu o drama das jovens. Muitas acabam com aids; quase todas acabam com baixíssima autoestima. Quando começou a agir e viu a resposta generosa das pessoas, ele entendeu que Deus lhe pedia algo: “Eu não podia ficar de braços cruzados. Fui me envolvendo cada vez mais ao enxergar que havia possibilidades de ajudar quem não tinha ninguém”.

Um traço característico do trabalho é a inter-religiosidade. Rasami Krisanamis, tailandesa de origem chinesa que pertence ao movimento budista Santi Asoke, é uma das colaboradoras mais dedicadas do padre Alfonso.

Às vezes, José Luis comenta com o padre que não entende como consegue arrecadar e lhe enviar tanto dinheiro. O jesuíta responde: “São os anjos da guarda das meninas”.

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