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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Os corredores

Os corredores são compridos. Há pessoas a passar, muitas, às vezes demais, mas é quase sempre pior quando são de menos. Há outras paradas, de caras inquietas viradas para a janela (à espera do horário das visitas).
 
Há umas batas brancas que passam sozinhas ou em grupo, devagar ou apressadas, a falar ao telefone ou a falar com os botões. Há doentes que vão para o corredor, andá-lo de uma ponta à outra. Uns porque querem, outros por obrigação. Há uns que passam sobre rodas e há o que vem lá ao fundo, pequenino, de pijama, com o soro atrás dele. Depois chega ao pé de nós (quando esperamos) e afinal ele é grande e o soro é ainda maior.

Nas paredes dos corredores há coisas que mudam, mas há outras que ficam. Mudaram agora os enfeites de Natal, arrumaram-nos. Mudam os posters com os trabalhos dos alunos, os casos interessantes dos doutores, os casos raros do Serviço. Volta e meia pintam-nas, mudam-lhes a cor.
 
Mas ficam as notícias, o inesperado, aquilo que nos disseram (ou que dissemos) e que não queríamos ouvir (mas principalmente, a forma como nos disseram – a forma como eu o digo), a dor que isso provocou, a incerteza, o abandono.
 
Fica o dia em que começou a doer menos. O dia em que descobriram a cura. O momento em que se lhes diz adeus e se vai para casa, de preferência, para não mais voltar. Fica aquela pequena conversa que fez a grande diferença.
 
Fica ele, terno, meigo, enquanto esperamos que chegue, antes pequenino agora grande, de pijama: dá-se uma palavra amiga e aproveita-se para ajustar o soro.

Olá a todos e, embora não tenham conseguido sair do corredor, bem-vindos ao hospital…






Frederica Vian Costa
Médica


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