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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Quénia: os líderes muçulmanos podem fazer mais contra a violência

Entrevista com dom Anthony Muheria, bispo de Kitui


Roma, 22 de Abril de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora


O Santo Padre recebeu em audiência na quinta-feira passada os bispos da Conferência Episcopal do Quénia, que estiveram em Roma para a visita ad limina. Dom Anthony Muheria, bispo de Kitui, explicou a situação do país durante um café-da-manhã de trabalho organizado nesta segunda-feira, 20, nos cursos de actualização para jornalistas organizados pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz.

Os cidadãos do Quénia estão horrorizados com o massacre de estudantes do Colégio Universitário de Garissa, cometido na sexta-feira santa. O atentado, disse o bispo, foi condenado unanimemente no país, inclusive pelos líderes islâmicos menos moderados, embora estes ainda possam fazer mais. Dom Anthony afirmou que os funerais não foram conjuntos para evitar distúrbios e explicou que o Santo Padre garantiu suas orações pelas vítimas de actos terroristas e de violências tribais. Confira a seguir a entrevista que ele concedeu a ZENIT.

ZENIT: Como foi o encontro com o papa durante a visita ad limina?
Dom Anthony: Estivemos com o papa Francisco na quinta-feira passada. Foi um encontro fantástico, duas horas em que o Santo Padre nos falou, nos perguntou sobre o que está acontecendo no Quénia, nos deu ideias e conselhos. Nós falamos das coisas que nos preocupam e, graças a Deus, ele nos deu muitos conselhos e coragem.

ZENIT: O que o Santo Padre disse?
Dom Anthony: Primeiro, ele nos recordou que temos que ser sempre uma voz profética em nossa sociedade, em nossa nação, sem medo de denunciar as coisas que estão acontecendo. E dizer isso aos chefes, ao governo e às autoridades. Temos que ser proféticos falando em favor dos pobres. Ele nos falou muito da necessidade do diálogo nesta situação que estamos vivendo, diante desse islamismo violento, e que precisamos buscar o modo certo de falar com eles.

ZENIT: Todos ficaram impactados com o atentado no colégio universitário, não é?
Dom Anthony: No Quénia, os muçulmanos e os cristãos viviam juntos e em harmonia, sem problemas e compartilhando muitas coisas. Infelizmente, assistimos agora a um novo fenómeno, o do radicalismo islâmico, de pessoas que acreditam na violência militante, que querem controlar e por isso atacam o que estaria errado para o pensamento delas. Os muçulmanos moderados, normais, condenam esses actos. O problema é que os líderes moderados têm que se fazer sentir com mais força diante desses extremistas que afirmam ser muçulmanos e que matam em nome do islão.

ZENIT: Os líderes muçulmanos condenam estes factos suficientemente?
Dom Anthony: Desta vez condenaram mais, mas eles precisam fazer mais do que isso. Eles têm que ter mais controle, porque esses extremistas vivem entre eles. O problema é que entre eles há simpatizantes da violência, e, por isso, eles precisam mostrar com mais força para todos os muçulmanos que não é possível simpatizar com essas pessoas que matam. Porque o alcorão diz que não se deve matar ninguém.

ZENIT: O papa disse que é necessário promover o diálogo. Mas como?
Dom Anthony: Temos que entender como, porque é difícil. Temos que incentivar os líderes do islão no Quénia a fazer mais pelo diálogo e a promover a paz juntos. Temos que ir atrás disso, mesmo não sendo simples. Mas contamos com a oração do Santo Padre.

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