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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Vaticano sobre o Oriente Médio: o silêncio cúmplice não é uma opção

Observador permanente da Santa Sé junto à ONU pede acção urgente contra a perseguição religiosa


Cidade do Vaticano, 22 de Abril de 2015 (Zenit.org)


A preocupação com a falta de progresso nas negociações entre Israel e Palestina, o vazio institucional no Líbano, o desastre humanitário na Síria e a ameaça à sobrevivência das comunidades cristãs no Oriente Médio são alguns dos temas tratados pelo monsenhor Bernardito Auza, observador permanente do Vaticano perante as Nações Unidas, em seu discurso desta terça-feira, em Nova Iorque. Ele pediu uma intervenção urgente e afirmou que “o silêncio cúmplice não é uma opção”. 

“A Santa Sé está profundamente preocupada com a falta total de progresso nas negociações entre a Palestina e Israel”, disse Auza, que enfatizou a “frustração” com o actual “ponto morto”. Ele recordou que “Israel tem preocupações reais e legítimas com a sua segurança; mesmo assim, esta segurança não chegará por meio do isolamento dos vizinhos”, e sim “de uma paz negociada com os palestinianos” e da “solução dos dois Estados”, que “tem o apoio da Santa Sé e da comunidade internacional em geral. A Santa Sé une a sua voz, mais uma vez, à de todos os homens de paz, pedindo negociações sérias e concretas que relancem o processo de paz”.

Sobre a situação do Líbano, o observador vaticano disse que “a Santa Sé não deixa de encorajar os líderes do país a resolver a situação de estancamento que impediu a eleição do presidente em maio de 2014, pedindo que eles renunciem aos pequenos interesses políticos para preservar o bem maior, o de um Líbano unido”.

Este vazio institucional, acrescentou, deixa a nação mais vulnerável e frágil perante a situação geral do Oriente Médio. A comunidade internacional deve apoiar o Líbano para que o país reconquiste a estabilidade e a normalidade institucional e consiga prestar assistência ao número enorme de refugiados presentes em seu território. Existe hoje o risco de infiltrações extremistas entre os refugiados.

Outro tema abordado foi o conflito na Síria, com “níveis de barbárie assombrosos”. A destruição indiscriminada das infraestruturas de saneamento, eléctricas, hospitalares e escolares piora a situação dos civis dia após dia, angustiando particularmente as minorias étnicas e religiosas. Por isto, a Santa Sé “pede à comunidade internacional que evite um desastre humanitário enorme, como o que seria provocado por uma batalha por Aleppo”. O prelado pediu que todo o possível seja feito a fim de evitar uma nova e grave violação do direito humanitário internacional e dos direitos humanos fundamentais.

Auza recordou que a desaparição das minorias étnicas e religiosas do Oriente Médio não seria só uma tragédia religiosa, mas a perda de um património cultural imponderável. Seu “risco de extinção provoca angústia e dor inexprimível”. O observador permanente do Vaticano também lembrou que, no mês passado, em Genebra, diante do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, 65 países assinaram uma declaração de apoio aos direitos humanos dos cristãos e de outras comunidades, em particular no Oriente Médio, o que “exige atenção para o fato de que a instabilidade e a guerra [na região] ameaça seriamente a própria existência de muitas comunidades religiosas, em especial a cristã”. É necessário que todos os países se unam para “enfrentar esta situação alarmante”.

Finalmente, mons. Auza destacou que qualquer intervenção é tardia para quem já perdeu a vida ou foi expulso de casa e do país. “Mas, de agora em diante, toda acção para salvar ainda que seja uma única pessoa da perseguição e de qualquer tipo de atrocidade não é só oportuna, mas urgente (...) Ficar olhando em silêncio cúmplice não pode nunca ser uma opção” diante dos que são perseguidos, exilados, assassinados, queimados vivos ou decapitados só porque pertencem a um credo religioso diferente ou a uma minoria.

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