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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Voz do povo, voz de Deus!

Gosto de provérbios e ditados populares, sempre os admirei, na sua infindável verdade não enganam, encerram uma profunda filosofia espontânea e duradoura, fruto e resultado da muita e dura aprendizagem humana, um saber de experiências feito e, por vezes, mais adequado e pertinente do que algumas elevadas e alienadas teorias eliticamente consideradas como expoente máximo da razão.

Enfim, é o meu ponto de vista ou a captação do real a partir do meu restrito lugar, consequência dos limites e limitações que me circundam e das quais não tenho capacidade para me soerguer.

“ Mãe há só uma!” todos o ouvimos, sabemos e afirmamos.

A mãe é aquele ser multifacetado, que ano após ano, todos os dias da sua vida, consegue desdobrar-se mais, chegar a tudo e a todos, numa infinita dádiva de que só ela é capaz. Sempre a trezentos por cento, em velocidade de TGV, ela decide vários assuntos ao mesmo tempo, atende os filhos, prepara refeições, olha pelo funcionamento das máquinas, vai ao telefone e ainda dá um jeito no cabelo antes de se sentar à mesa, para depois acabar por se levantar até à milésima vez. 

Tudo isto, na melhor das hipóteses após um estafante dia laboral, com compras pelo meio e um engarrafamento sempre mais compacto até chegar, finalmente, ao doce lar, o seu castelo encantado, a menina dos seus olhos…

A mãe acumula, não tem horário definido, ou antes, está sempre de serviço com a luzinha verde acesa e a antena no ar a ver onde faz mais falta. Com mais ou menos saúde, mais ou menos problema, preocupações e aborrecimentos parece um sempre-em-pé. Ergue-se antes do despertador tocar, deita-se quando todos já vão no segundo sono, de manhã faz uma pequena magia no rosto, troca de echárpe e ninguém percebe que a noite foi passada mais ou menos em branco, ou muito curta, para ainda ter de dar aquela volta final aos dossiers, antes da matinal reunião de direcção.

Mesmo uma mãe doméstica ou dona de casa, expressão que se usa de forma envergonhada, como uma amiga minha, mãe de mais de uma dezena de filhos, substituiu por uma fórmula com muita dignidade e que me dá um gozo imenso ouvir: sou gestora do lar a tempo inteiro, assumo o cargo de ministro das finanças e das relações internas, para além da pasta da educação e cultura. Nada mau convenhamos, para o marido fica a Presidência - chega alheado do trabalho, não percebe nada da casa, sorri, ouve  e acena cordatamente que sim, afaga a cabeça das crianças, só não corta fitas…

Todavia, estes cargos não se excluem mas completam-se e ambos bem desempenhados não deixam o lar ir à banca rota, cada um no seu posto, tudo flui como deve ser, na certeza de que quem dá o pão tem o dever de dar também a educação.

Mal está quando assim não é, quando a mãe é um ser ausente, demitido e não cumpre a sua função de farol que, ao mais pequeno vestígio de nevoeiro, acende a luz ou emite sinais sonoros com regras de alerta e de cumprimento obrigatório. Perdidos  na bruma ninguém percebe o caminho a seguir, uns perdem-se, outros extraviam-se, outros encalham, outros afundam-se. E de quem é a culpa? Do homem do leme, ou antes, da mãe.

Tempestades, borrascas, ondas gigantes e tubarões fazem parte do cenário, mas tudo tem de estar previsto num alerta constante, na sua carta de timoneira-mor da família.

É um facto, não sei se lamentável, que aprecio esses super-poderes e grandes desafios na maré-alta e maré-baixa, pois acredito que o ocaso se vai tornar mais bonito, que o arco-íris volta a brilhar no céu, só não podemos deixar de contemplar o horizonte, perder a esperança ou baixar os braços.

Quando assim não é, quando as mães julgam que é ir de moda o deixar andar, não advertir, não impor, não dirigir a família para não castrar nem traumatizar, já sabemos o que acontece na sociedade que, por ironia, é a primeira a apelidar esses seres mal burilados de filhos da mãe…

Se as mães se compenetrassem bem do maravilhoso e abrangente papel que têm , se se lançassem na tarefa de o cumprir e fazer cumprir, se não se abstivessem das suas obrigações, privilégios e funções, tenho a certeza de que o mundo mudava, até porque, uma mãe zangada é pior do que o Deus me livre… 

Mães coragem! O mundo é nosso e garanto-vos que não ficam no desemprego, há muito para fazer e colaborar…

Talvez a sociedade tenha de corrigir a forma deformada como vê o papel da mulher em casa, no emprego e na sociedade. O respeito e os afectos partilham-se, não se impõem nem se minimizam.


Confesso que esta velha quadra enviada por um amigo “sui generis”, teve um efeito deslumbrante em mim, recordou-me como em muitas outras épocas este amor era supremo, quase divino, sem preço material e para toda a eternidade.

Porque não, voltarmos a almejar que todos os homens, pais e filhos, o sintam no coração e o repitam geração após geração?

É que quem semeia ventos, colhe tempestades e quem dá amor, amor receberá, pois cá se fazem e cá se pagam.
 

Maria Susana Mexia




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