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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Quando eu for velhinha…

Quando estudamos e trabalhamos com velhos, inevitavelmente pensamos nos nossos velhos e na nossa própria velhice. E isso no meu ponto de vista é bom! Se tivermos sempre em mente que os nossos e que nós próprios um dia também seremos velhos, as nossas acções conduzem-nos a uma conduta mais humana e menos despersonalizada.
 
Assim, com base naquilo que vejo, oiço e sinto diariamente fiz um texto sobre mim, que penso que possa servir de reflexão para quem como eu, convive diariamente com pessoas idosas ou, para quem possa não conviver, mas esteja interessado em saber como fazê-lo de forma correta e humana.
 
Quando for velhinha e eu já não souber o que quero ou estiver confusa e sem forças deixem-me num sítio confortável. Não interessa se é em casa ou num lar, eu não dou tanta importância aos bens materiais como julgam! Eu quero é estar cuidada e quentinha, o que vocês escolherem será certamente o mais indicado para mim!
 
Por favor, vocês sabem como eu gosto de andar gira… não sei se vou ser uma velhinha bonita mas gostava de, pelo menos ser uma velhinha bem arranjada!
 
Ajudem-me a tomar banho todos os dias e incentivem-me a pentear o meu cabelo que é algo que gosto de ser eu a fazer.
 
Gostaria de andar sempre cheirosa.
 
E quanto à roupa? Detesto fatos-de-treino, a não ser que seja para fazer desposto mas não me estou a imaginar uma velhinha desportista por isso vistam-me bem com coisas bonitas, na moda e cores alegres, não quero parecer uma velha triste porque isso não condiz comigo…
 
Por favor, não me tirem os pelos do rosto com lâminas… eu gosto de estar bonita e com pontinhos de barba ninguém se sente bonita… mesmo que eu não veja, posso passar a minha mão e sentir e sei que isso me irá assustar!
 
Deixem-me escolher o corte de cabelo que quero ou, se não souber escolher, vejam fotografias minhas e percebam aquilo que antes gostava. Pintem os meus brancos! Pintem também as minhas unhas e ajudem-me a mantê-las limpas!
Por favor, incentivem-me a escovar os meus dentes se os tiver. Se não tiver lembrem-se de me colocar a prótese.
 
Dêem-me algo para me entreter. Sabem como fico aborrecida de não fazer nada e a televisão não me preenche. Se andar, andem comigo e levem-me a passear sempre que puderem. Se não andar, mas mexer as minhas mãos, então dêem-me lápis e canetas para escrever, desenhar e pintar. Se as minhas mãos não mexerem tão bem para isso então dêem-me livros, revistas ou jornais para que possa ler. Se os meus olhos já não virem então dêem-me música para escutar.
 
Falem de forma gentil para mim, assim como eu gosto! Não me infantilizem ou tratem como um bebé. Perguntem a minha opinião mesmo que eu não saiba o que diga e mostrem interesse em mim mesmo que não possam ir sempre ver-me. Basta que quando estiverem comigo, estejam mesmo ali para estar comigo e então, contem-me as vossas novidades, os vossos dilemas, partilhem comigo as vossas ambições e receios e escutem as minhas perguntas repetitivas e ideias tolas. Falem-me do mundo, da actualidade, da política, dos novos progressos e dos avanços da ciência.

E lembrem-se sempre de quem sou! 







Sara Beja
Graduada em Gerontologia


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