Páginas

sábado, 31 de outubro de 2015

Imprensa anglossaxônica: "Este foi o Sínodo do compromisso"

Conclusões tranquilizariam os “conservadores” e, ao mesmo tempo, não fechariam a porta para posições “reformistas”

Roma, 30 de Outubro de 2015 (ZENIT.org) Alessandro de Vecchi

O Sínodo Ordinário dos Bispos sobre a família acaba de terminar e, inevitavelmente, atraiu a atenção da imprensa anglo-saxónica de ambos os lados do Atlântico. Jornais dos EUA e do Reino Unido enfatizam principalmente que o documento final é o resultado de um “compromisso” entre os padres sinodais, que não descontenta os “conservadores” e, ao mesmo tempo, preserva as esperanças dos “reformistas”. 

Nos Estados Unidos, é dura uma manchete do Wall Street Journal: "Bispos derrotam o papa quanto à abertura aos católicos divorciados". O jornal diz que "o Sínodo termina sem endossar o acesso à Eucaristia para os divorciados novamente casados". 


Mais equilibrado é o Washington Post. Em artigo de Anthony Faiola, a assembleia de bispos "estendeu a mão para os casais divorciados e não unidos em matrimónio, mas parou os que queriam alterar as diretrizes da Igreja. O Sínodo marcou o culminar de um processo de dois anos de mudanças na abordagem às questões de família. Sob a direção de Francisco, bispos e cardeais abordaram questões antes consideradas tabu". 


De acordo com o Washington Post, a oposição a esses processos mostra que muitos da hierarquia da Igreja ainda estão longe da "visão revolucionária de Francisco". O documento, em alguns aspectos, "teria ido além das expectativas de muitos", mas não o suficiente para satisfazer os católicos mais progressistas. Para o jornal, a abertura aos divorciados recasados ​​continuou vaga e dependerá do papa quanto à medida até onde será implementada. Esta "ambiguidade coloca o papa em uma posição difícil". Se ele não puder mudar o status quo, corre o risco de decepcionar os católicos reformistas que vêem nele o homem da mudança. Por outro lado, mudanças muito radicais causariam uma reação pesada dos "conservadores". 


Sobre o resultado do Sínodo como mediação, o New York Times insiste num artigo de Elizabeth Povoledo: "Todo bom compromisso permite que todos reivindiquem a vitória. Mas as interpretações discordantes enfatizam o conflito e a confusão que permanece em questões como o divórcio, a homossexualidade e a coabitação. Tanto os comentaristas conservadores quanto os liberais interpretaram o resultado do Sínodo como reforço às suas próprias posições". O jornal destaca que "a ambiguidade dos resultados" tranquiliza os bispos que temiam as alterações, mas deixa esperanças para os que esperam novas reformas por parte do papa. 


Na Grã-Bretanha, o Daily Telegraph publicou: "Termina o Sínodo: nada de substancial mudou". Já o Sunday Times é duro: "O papa ataca os bispos por terem bloqueado a reforma gay". O comentário do Tablet, a revista dos católicos britânicos liberais, é amargo: "O Sínodo sobre a família terminou sem consenso algum sobre a questão da comunhão para os católicos divorciados e recasados ​​e com a rejeição de qualquer mudança na doutrina da Igreja sobre a homossexualidade". 


De acordo com The Economist, o papa Francisco não pretendia "forçar os bispos a mudar as regras, mas a abrir as janelas". Deste ponto de vista, o semanário britânico diz que a operação foi um sucesso. O artigo afirma que o documento final do Sínodo não contém quaisquer concessões ao reconhecimento das uniões homossexuais, mas abre uma nova frente na questão dos divorciados novamente casados. "Os padres devem ajudar os divorciados num caminho de discernimento para compreenderem melhor as condições que os levaram a essa escolha, o modo como trataram os filhos e como o parceiro abandonado está vivendo a situação". Para os "progressistas", esta fórmula conduziria naturalmente à readmissão dessas pessoas ao sacramento da Eucaristia. Os "conservadores", porém, argumentam que nada mudou. The Economist aponta que o papa Francisco reafirmou a decisão "caso a caso", relacionando-a também às diferenças entre as regiões do mundo: "O que parece normal para um bispo de um continente é considerado estranho e quase escandaloso para um bispo de outro".

 
Mais áspero é o The Guardian: "Francisco fracassou e não conseguiu convencer a maioria dos padres sinodais a mudar as regras que proíbem os divorciados recasados ​​de receber a Comunhão. Este resultado é um golpe duro nas esperanças do papa de reformar a Igreja e reaproximar da fé as pessoas que consideram muito distante da realidade a abordagem católica do casamento e do divórcio". 

No entanto, prossegue o jornal britânico, o papa conseguiu trazer à tona "a importância destas questões, obtendo assim o apoio político para prosseguir as mudanças no futuro". As três semanas do Sínodo teriam ainda destacado as divisões na hierarquia eclesiástica: por um lado, os que "acreditam que qualquer mudança do catolicismo no tocante aos divorciados e aos homossexuais é um risco de enfraquecer a autoridade da Igreja". Este grupo, dominado por cardeais e bispos da Europa Oriental, da África e alguns da América, tem seu maior expoente no cardeal australiano George Pell. Outro grupo, o "progressista", seria impulsionado principalmente pelos bispos alemães (com o cardeal Walter Kasper à frente) e estaria confiante de que "o papa Francisco conduzirá a Igreja a mais inclusão e sintonia com a modernidade". Como dizer que este Sínodo foi um passo importante, mas não decisivo. Quem realmente pode decidir o futuro do catolicismo é somente o papa.

(30 de Outubro de 2015) © Innovative Media Inc.
in


Sem comentários:

Enviar um comentário