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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sínodo 2015: Bispos propõem «discernimento» como chave para situações familiares difíceis

Foto: Ricardo Perna
Cardeal Christoph Schönborn revela que relatório final procura «consenso» e «critérios» de ação
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA, com Ricardo Perna, da ‘Família Cristã’

Cidade do Vaticano, 24 out 2015 (Ecclesia) – O cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, disse hoje no Vaticano que o Sínodo dos Bispos sobre a família propõe critérios de “discernimento” sobre situações como as dos divorciados em segunda união.

Em conferência de imprensa, o presidente da Conferência Episcopal da Áustria referiu que o relatório final da assembleia, com votação marcada para esta tarde, “dá critérios não só para a questão do acesso aos Sacramentos mas para o acompanhamento de situações que o Catecismo chama irregulares”.

Especificamente sobre os divorciados que voltaram a casar civilmente, os participantes falaram “com grande atenção”, sem tocar a questão do acesso à Comunhão de forma “direta”, “mas a palavra chave é discernimento”.

“Não há preto e branco, um siples sim ou não, é preciso discernir, como dizia São João Paulo II no número 84 da Familiaris Consortio”, acrescentou.

Esta apresentação traz “critérios fundamentais” para o “discernimento das situações” que são em muitos casos “tremendamente diferentes”, sem as “julgar”.

O cardeal Raymundo Damasceno Assis, presidente-delegado do Sínodo 2015, também confirmou aos jornalistas esta preocupação com o “discernimento”.

“A dimensão da ternura e da misericórdia passa por todo o documento final. A preocupação da Igreja é cada vez mais integrar as pessoas na comunidade eclesial, seja qual for a sua situação”, assinalou.

Segundo o cardeal brasileiro, o Sínodo dedicou “uma atenção muito especial” às famílias em situações difíceis, como “migrações, pobreza extrema, a violência familiar, o problema dos meninos de rua, os divorciados recasados”.

“A Igreja quer estar muito próxima dessas famílias, muito atenta, e sobretudo acolher estas famílias na comunidade. Dentro desta integração, dá-se um processo de discernimento de cada situação, que é muito própria, muito concreta”, precisou.

“Isto faz com que possamos ter mais contacto e acompanhar melhor as situações de cada família, e fazer um discernimento que pode chegar até uma comunhão plena com a Igreja”, acrescentou.

Para D. Christoph Schönborn, o essencial deste processo é o “grande sim à família” que foi dado pela Igreja, após 1,2 milhões de católicos terem debatido o tema durante dois anos, com os seus aspetos "positivos" e "difíceis", “um facto notável para o nosso tempo”.

“O êxito deste Sínodo para mim é um grande sim à família, que não é um modelo ultrapassado”, insistiu.

O cardeal austríaco, filho de pais divorciados, sustentou que “não há rede mais segura, em tempos difíceis, do que a família, mesmo a família ferida, recomposta”.

Ainda em relação ao relatório final, um “documento de consenso”, D. Christoph Schönborn adiantou que não haverá “muito sobre a homossexualidade neste documento”, admitindo que “alguns ficarão desiludidos”.

O tema é “abordado sobre o aspeto da família, em que se faz a experiência de ter um familiar que é homossexual”.

O arcebispo de Viena realçou que este é um “tema demasiado delicado” para alguns contextos "culturais e políticos" e que, para a Igreja, a definição da família é “muito clara”, exigindo a relação “homem e mulher”, “fiel” e “aberta à vida”.

Esta definição não exclui “situações de recomposição familiar”, mas permanece sempre como o “núcleo” do ensinamento católico.

O cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida (Brasil), elogiou a metodologia “diferente” desta assembleia sinodal, em que se deu muita importância aos trabalhos de grupo, com participação “muito maior” de todos, ajudando a encontrar o maior consenso possível.

O mesmo responsável precisou, por outro lado, que a “descentralização” na experiência da vida da Igreja, sobretudo na América Latina, não significou, de forma alguma, “nacionalizar ou continentalizar” a Igreja Católica.

O cardeal Schönborn falou da nova metodologia como um "ganho" deste Sínodo, permitindo que se chegasse ao final dos trabalhos com um bom ambiente.

OC

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