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domingo, 29 de novembro de 2015

Combonianos na Uganda: “Demos testemunho com a caridade de Jesus”

Entrevista ao sacerdote missionário Torquato Paolucci. "Hoje, o problema é a corrupção"

Roma, 27 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Sergio Mora

O Papa Francisco chega hoje, sexta-feira, na Uganda, e permanecerá lá até o domingo 29. Será o segundo país da África que visita nesta viagem apostólica que começou na quarta-feira passada, 25, no Quénia e que termina na segunda-feira, 30 na República Centro Africana.

O padre Torquato Paolucci, missionário comboniano, italiano de Urbania, trabalhou de 1972 a 2010 em Uganda. Entrevistado pela ZENIT comentou alguns detalhes que nos ajudarão a entender melhor a viagem do Papa Francisco a este país. Compartilhamos com os nossos leitores.

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ZENIT: Hoje, qual é o principal problema da Uganda?
Padre Torquato: É a luta contra a corrupção. Este governo, no começo, realizou muitas coisas, até mesmo boas, mas depois pensou somente em enriquecer-se. Portanto, existe uma classe muito rica e uma maioria de gente muito pobre.

ZENIT: Com relação ao passado, qual é a situação atual?
Padre Torquato: Tem havido um progresso geral, mais estradas, mais liberdade. Este governo tem feito muito relação ao passado, mas o grupo dirigente é como uma máfia e, portanto, tudo é manipulado. Também as eleições que se realizaram quando eu estive lá há alguns anos atrás. Rodava dinheiro, urnas cheias de votos desapareciam. Existe muita traição. Somente pensam em realizar negócios importantes e que não sejam apanhados . Em fevereiro próximo haverá eleições políticas e muitos temem que se repita a fara das outras vezes.

ZENIT: Na sua opinião qual é a saída para esta situação e como pode influenciar a visita do Papa?
Padre Torquato: O tema principal é o de conseguir mais honestidade, mais atenção aos pobres e doentes. As pessoas estão muito feliz com este encontro que terão com o Papa Francisco que veio celebrar os 50 anos da canonização dos mártires da Uganda.

ZENIT: Qual é a mensagem destes 22 mártires?
Padre Torquato: Eles se converteram ao catolicismo graças aos missionários da África, do Cardeal Charles Lavigerie, dos Padres Brancos. E foram mortos entre 1885 e 1887, por serem cristãos. Os Mártires de Uganda eram todos leigos e os leigos estão muito comprometidos com associações e iniciativas católicas.

ZENIT: Quantos católicos há no país?
Padre Torquato: Um 45% por cento da população é católica, o 25% protestante e 10% são muçulmanos, o resto são animistas e de outras religiões.

ZENIT: E o diálogo inter-religioso funciona?
Padre Torquato: No passado, na relação entre católicos e protestantes houve uma grande tensão. Além do mais porque na política os protestantes tinham o apoio da Inglaterra e tentaram marginalizar os católicos sempre. Mas, como estes últimos eram a grande maioria, chegou um ponto em que não conseguiram fazê-lo. Depois, com o passar dos anos, começou um processo de maior colaboração no campo social. Não tanto desde o ponto de vista doutrinário, mas sim houve alguns encontros. A convivência na maior parte da Uganda é boa e existe colaboração, embora em algumas regiões permaneçam as tensões do passado.

ZENIT: Qual é a situação com os muçulmanos?
Padre Torquato: Eles estão, principalmente, nas cidades e no comércio. Com os muçulmanos não encontrei tensões nos anos em que trabalhei lá. Houve um bom relacionamento com eles e realizamos com eles muitos trabalhos. Também colocamos nossos hospitais e escolas à disposição. E em algumas ocasiões ajudei a alguns jovens muçulmanos a ir à escola e até à universidade, porque não iam. Existia uma relação discreta, falo de cinco anos atrás. Não sei se hoje existirão infiltrações dos fundamentalistas.

ZENIT: Poderia resumir-me o trabalho dos Combonianos na Uganda?
Padre Torquato: Os Missionários Combonianos chegaram à Uganda em 1910, e trabalharam principalmente no norte, em direção à fronteira com o Sudão. Para o sul, no entanto, com os Padres Brancos. Para alcançar o coração das pessoas fizemos muitas obras sociais. A grande maioria das escolas surgem do trabalho da Igreja. Também a saúde derivada do trabalho dos Missionários Combonianos. Ainda hoje o 65% das estruturas médicas são administradas pela Igreja, graças a voluntários. Assim, ao dar testemunho com a caridade de Jesus, muitos viram na caridade cristã a mensagem de esperança e de salvação.

Nesse último período, quando aconteceram as guerras com fundo tribal pelo poder, mais de 20 anos de guerra, destruição e massacres, os missionários Combonianos foram os únicos brancos que permaneceram no território, embora 13 deles foram mortos.  Isto tem ajudado mais às pessoas a acreditarem em Jesus. Não se sentiram abandonados e nos tornamos sinais de esperança para muitos.

Hoje, a Igreja em Uganda tem grande vitalidade e vocações ao ponto de que quase todas as nossas estruturas foram entregues às Igrejas locais, e por tanto, estamos saindo deste país. Um pouco porque estamos mais velhos e outro pouco porque Uganda não precisa de missionários, porque contam com suficiente pessoal para fazer o trabalho da Igreja e para ir como missionários em outros países. Atualmente, neste país, há 130 missionários combonianos. 

(27 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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