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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

“Da pertinência de pensar o óbvio”

Família ou pensionato?

O Dia Mundial da Televisão celebra-se anualmente a 21 de Novembro, por decisão das Nações Unidas, após o primeiro Fórum Mundial de Televisão, realizado a 21 de novembro de 1996.

Recentemente o Papa Francisco recordou-nos a importância de cuidar o ambiente familiar e manter um clima adequado às refeições em casa ou no restaurante. Alertou ainda para o facto de o smartphone ou a televisão impedirem a convivência tão importante para as famílias nestas ocasiões que se podem consideram quase sagradas, na medida em que, ao fim do dia, a família regressa a casa e pode ter a felicidade/privilégio de se reunir, para todos juntos comerem, conversarem e disfrutarem da companhia uns dos outros.

Aproveitando a celebração sobre este tema, reflictamos sobre uma qualidade característica da vida familiar que se aprende desde os primeiros anos de vida: «o convívio, isto é, a atitude a partilhar os bens da vida e a sentir-se feliz por o poder fazer. Partilhar e saber partilhar é uma virtude preciosa! O seu símbolo, o seu «ícone», é a família reunida ao redor da mesa doméstica. A partilha da refeição — e portanto, além do alimento, também dos afectos, das narrações, dos eventos... — é uma experiência fundamental. Quando há uma festa, um aniversário, todos se reúnem à volta da mesa. Nalgumas culturas costuma-se fazê-lo inclusive para um luto, a fim de permanecer próximo de quem sofre pela perda de um familiar».* 

«O convívio é um termómetro garantido para medir a saúde das relações: se em família há algum problema, ou alguma ferida escondida, à mesa compreende-se imediatamente. Uma família que raramente faz as refeições unida, ou na qual à mesa não se fala mas assiste-se à televisão, ou se olha para o smartphone, é uma família «pouco família».*

«Quando os filhos e não só, à mesa continuam ligados ao computador, ao telemóvel, e não falam uns com os outros, nem se ouvem entre si, isto não é família, é um pensionato». Nós mesmos já conhecemos, e ainda conhecemos, quantos milagres podem acontecer quando uma mãe tem olhar e atenção, assistência e cuidado pelos filhos dos outros, além dos próprios. Até recentemente, era suficiente uma mãe para todas as crianças da praça! E ainda: sabemos bem que força adquire um povo cujos pais estão prontos a mover-se em protecção dos filhos de todos, porque consideram os filhos um bem indivisível, que são felizes e orgulhosos de proteger».*

«Hoje muitos contextos sociais põem obstáculos ao convívio familiar. É verdade, hoje não é fácil. Devemos encontrar o modo de a recuperar. À mesa fala-se, à mesa ouve-se. Nada de silêncio, aquele silêncio que não é o silêncio das monjas mas o silêncio do egoísmo, onde cada um está sozinho, ou a ver televisão ou ao computador... e não se fala. Não, nada de silêncio. É preciso recuperar aquele convívio familiar adaptando-o aos tempos. A convivência parece que se tornou algo que se compra e se vende, mas assim é outra coisa. E o nutrimento não é sempre o símbolo de uma partilha justa dos bens, capaz de alcançar quem não tem pão nem afectos. Nos países ricos somos induzidos a gastar por uma alimentação excessiva e depois de novo somos induzidos a remediar o excesso. E este «negócio» insensato distrai a nossa atenção da fome verdadeira, do corpo e da alma. Quando não há convivência há egoísmo, cada um pensa em si mesmo. Tanto que a publicidade a reduziu a uma apatia de lanches e a uma vontade de docinhos. Enquanto tantos, demasiados irmãos e irmãs permanecem longe da mesa. É um pouco vergonhoso!» *


Em mais uma efeméride, neste caso concreto, o Dia Mundial da Televisão, acompanhados pelos sábios conselhos do Santo Padre, não deixemos de considerar a importância de pensar o óbvio, pois com o decorrer dos tempos a nossa sensibilidade vai ficando embotada e tudo se torna menos claro e mais confuso. Daí a necessidade de recorrermos a quem sabe, pois um cego a conduzir outro cego já sabemos no que dá. 

*Papa Francisco

José M. Esteves


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