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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Papa no Quénia: O diálogo inter-religioso não é um luxo, é essencial

Francisco recordou aos líderes anglicanos, muçulmanos, hindus e de outras religiões que a cooperação é uma bênção para as comunidades

Roma, 26 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Sergio Mora

O Papa Francisco deu início ao segundo dia de sua visita apostólica ao Quénia com um encontro inter-religioso e ecuménico na capital Nairobi, no salão da Nunciatura Apostólica.

No país onde se convive com diferentes religiões: muçulmanos, anglicanos, hindus, pentecostais, católicos e outros credos, em que o diálogo inter-religioso é algo familiar, o Papa recordou que ao cuidar do crescimento espiritual das nossas comunidades, tornamo-nos uma bênção para as comunidades. Portanto, "a cooperação entre os líderes religiosos e as suas comunidades torna-se um importante serviço ao bem comum".

O Papa quis sublinhar o papel essencial das religiões “para se formar as consciências, incutir nos jovens os valores espirituais profundos de nossas respectivas tradições, formando bons cidadãos, capazes de impregnar a sociedade civil de honestidade, integridade e uma visão do mundo que valorize a pessoa humana no que diz respeito ao poder e ao ganho material".

Ele destacou ainda que "o Deus a quem procuramos servir, é um Deus de paz. O seu santo nome não deve jamais ser usado para justificar o ódio e a violência".

Recordando o Concílio Vaticano II, no qual a Igreja Católica se comprometeu no diálogo ecuménico e inter-religioso, o Papa reafirmou “que nasce da nossa convicção da universalidade do amor de Deus e da salvação que Ele oferece a todos”.

Segue o texto completo:

Queridos amigos!
Agradeço a vossa presença aqui hoje e a oportunidade de partilhar estes momentos de reflexão convosco. De modo particular, quero agradecer a D. Kairo, ao Arcebispo Wabukala e ao Professor El-Busaidy as palavras de boas-vindas que me dirigiram em nome pessoal e das respectivas comunidades. Considero importante que, ao visitar os católicos duma Igreja local, sempre tenha ocasião de encontrar os líderes de outras comunidades cristãs e de outras tradições religiosas. Tenho esperança de que este tempo transcorrido em conjunto possa ser um sinal da estima da Igreja pelos seguidores de todas as religiões; possa este encontro ajudar a fortalecer os laços de amizade que já existem entre nós.

A bem da verdade, esta relação coloca-nos perante um desafio; põe-nos questões. Mas o diálogo ecuménico e inter-religioso não é um luxo. Não é algo exterior ou opcional, mas é essencial, algo de que o nosso mundo, ferido por conflitos e divisões, tem cada vez mais necessidade.

Com efeito, as crenças religiosas e a maneira de as praticar influem sobre aquilo que somos e a compreensão do mundo que nos rodeia. São, para nós, fonte de iluminação, sabedoria e solidariedade, enriquecendo assim as sociedades onde vivemos. Ao cuidar do crescimento espiritual das nossas comunidades, ao formar as mentes e os corações para a verdade e os valores ensinados pelas nossas tradições religiosas, tornamo-nos uma bênção para as comunidades onde vive o nosso povo. Numa sociedade democrática e pluralista como o Quénia, a cooperação entre os líderes religiosos e as suas comunidades torna-se um importante serviço ao bem comum.

À luz disto e num mundo cada vez mais interdependente, vemos cada vez mais claramente a necessidade da compreensão inter-religiosa, da amizade e da cooperação na defesa da dignidade conferida por Deus a cada um dos indivíduos e aos povos, e o seu direito de viver em liberdade e felicidade. Ao defender e respeitar tal dignidade e tais direitos, as religiões desempenham um papel essencial para se formar as consciências, incutir nos jovens os valores espirituais profundos das nossas respectivas tradições, formando bons cidadãos, capazes de impregnar a sociedade civil de honestidade, integridade e uma visão do mundo que valorize a pessoa humana no que diz respeito ao poder e ao ganho material.

Penso aqui na importância da nossa convicção comum segundo a qual, o Deus a quem procuramos servir, é um Deus de paz. O seu Nome Santo não deve jamais ser usado para justificar o ódio e a violência. Permanece viva, em vós, a memória deixada pelos bárbaros ataques ao Westgate Mall, ao Garissa University College e a Mandera. Com muita frequência, tornam-se os jovens extremistas em nome da religião para semear discórdia e terror, para dilacerar o tecido das nossas sociedades. Como é importante que nos reconheçam como profetas de paz, pacificadores que convidam os outros a viver em paz, harmonia e respeito mútuo! Que o Todo-Poderoso toque os corações de quantos estão envolvidos nesta violência e conceda a sua paz às nossas famílias e comunidades.

Queridos amigos, comemora-se este ano o cinquentenário do encerramento do Concílio Vaticano II, no qual a Igreja Católica se comprometeu no diálogo ecumênico e inter-religioso ao serviço da compreensão e da amizade. Pretendo reiterar este compromisso, que nasce da nossa convicção da universalidade do amor de Deus e da salvação que Ele oferece a todos. O mundo espera, e com razão, que os crentes trabalhem juntamente com as pessoas de boa vontade para enfrentar os numerosos problemas da família humana. Com os olhos no futuro, rezemos para que todos os homens e mulheres se considerem irmãos e irmãs, unidos pacificamente nas suas diferenças e através delas. Rezemos pela paz!

Agradeço a vossa atenção, e peço a Deus Todo-Poderoso que vos conceda, a vós e às vossas comunidades, a abundância das suas bênçãos.

(26 de Novembro de 2015) © Innovative Media Inc.
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