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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Vaticano: começa o julgamento por causa da divulgação de documentos


A próxima audiência será no dia 30 de novembro, quando os réus falarão. Disse o promotor: a acusação contra os autores não é por causa da publicação dos documentos, mas por causa da forma de adquiri-los


O Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano celebrou na manhã de hoje a primeira audiência do julgamento por causa do roubo e divulgação de documentos reservados. Foram enviados a julgamento cinco réus, o padre espanhol Lucio Vallejo Balda e seu secretário particular, Nicola Maio, as relações públicas italiana, Francesca Chaouqui, os jornalistas Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi. A audiência começou às 10h34 e contou com a presença dos cinco acusados. Os jornalistas têm advogados de confiança, e os outros três acusados advogados de ofício.

No início da sessão, Emiliano Fittipaldi pediu a palavra e fez uma declaração na qual explicou que decidiu comparecer por deferência ao Tribunal que o convocou. Mas, manifestou a sua "incredulidade por estar sendo acusado perante uma Autoridade Judicial diferente do meu país, embora tendo escrito e publicado na Itália o livro pelo qual querem me incriminar”. Com relação a isso recordou que no seu país “a conduta pela qual é acusado não seria penalmente imputável, ao não ter sido acusado de ter publicado notícias falsas ou difamatórias, mas simplesmente publicar notícias: atividade protegida e garantida pela Constituição italiana, a Convenção Europeia dos Direitos do homem e da Declaração Universal dos Direitos do Homem”.

Após a leitura da acusação pelo Chanceler, o Presidente comunicou ter transmitido ao Presidente do Tribunal de Recurso o Pedido de nomeação de dois advogados de confiança de Nuzzi e de monsenhor Vallejo, para a eventual autorização.

Em seguida, ouviram-se duas objeções preliminares. A primeira do advogado Bellardini - que defende Monsenhor Vallejo — sobre os tempos para a apresentação das provas da defesa. Também o fez o advogado Musso, depois da declaração do seu defendido, sobre a nulidade da citação para o julgamento do mesmo Fittipaldi pela falta de precisão sobre os fatos. O promotor, Zannoti, respondeu a segunda objeção, argumentando que não se pretende pôr em dúvida a liberdade de imprensa, mas que o acusado está chamado a responder pela conduta da atividade realizada para obter as notícias e os documentos publicados.

A formação do tribunal, depois de uma reunião na sala de reuniões que durou cerca de três quartos de hora, rejeitou as duas objeções levantadas e fixou o calendário.

Na segunda-feira, 30 de novembro, retomam-se as audiências do julgamento que se celebrarão a cada dia, pela manhã, e pela tarde, se fosse necessário, para escutar os acusados. Começará monsenhor Lucio Vallejo Balda e depois Francesca Chaouqui, Nicola Maio, e, finalmente, Fittipaldi e Nuzzi.

Os réus puderam conversar alguns momentos com os jornalistas presentes na sala. Nuzzi lhes disse que “não somos mártires, somos jornalistas e cronistas”. Por sua parte, mons. Vallejo garantiu que se encontra bem: “estão vendo? Estou bem, muito bem e sereno, tratam-me muito bem aqui e aqui estou protegido”.

O Código Penal do Vaticano, em seu artigo 116 bis considera delito a divulgação de notícias reservadas. Se forem condenados os acusados, as penas podem variar de quatro a oito anos de prisão.

O padre espanhol e as relações públicas italianas foram presos no último fim de semana de outubro acusados de roubar e vazar vários documentos que tinham acesso por causa do seu trabalho na COSEA, a comissão de oito membros criada pelo Papa Francisco em Julho de 2013 para conhecer a situação económica do Vaticano.

Depois de dar declarações perante a gendarmaria do Vaticano, Vallejo Balda permaneceu preso e Chaouqui foi liberada. Os documentos vazados aparecem nos livros Via Crucis e Avarizia, escritos pelos jornalistas italianos Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi respectivamente. Ambos livros foram publicados dias após as prisões.

Há poucos dias, a Santa Sé anunciou que, além dos dois membros da COSEA detidos, a promotoria também tinha decidido acusar os jornalistas Nuzzi e Fittipaldi pela possível cumplicidade no crime de divulgação de notícias e documentos confidenciais.

O papa Francisco somente se referiu a estes acontecimentos uma vez. Foi no último dia 8 de novembro, durante a oração do ângelus. O Santo Padre recordou que roubar estes documentos é um delito e um ato deplorável.

Trata-se, assim, do terceiro julgamento no Vaticano, depois do caso Vatileaks contra o mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, acusado pelos mesmos crimes, em 2012. O segundo caso foi no último dia 15 de Julho, quando se celebrou uma primeira audiência contra o ex-núncio da República Dominicana, Josef Wesolowski, acusado de pedofilia. Naquela ocasião, ele não compareceu à audiência por estar hospitalizado e morreu antes que o processo começasse. 


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