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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Por que o Papa vai ao México?

ENTREVISTA – Dom Arizmendi, bispo de San Cristóbal de las Casas, depois do seu encontro com o Santo Padre, explica as motivações que levaram o Papa a visitar o país asteca


O papa Francisco realizará a sua viagem apostólica ao México do 12 ao 17 de Fevereiro de 2016. Em um encontro que o Santo Padre teve na sexta-feira passada, no Vaticano, com bispos do país azteca, explicou os motivos que o levam a quatro cidades que visitará: a Virgem de Guadalupe, os indígenas, a violência e a migração. Mons. Arizmendi, bispo de San Cristóbal de las Casas, cidade que receberá o Pontífice, disse a ZENIT o que o próprio Francisco lhes disse, bem como os desafios da pastoral da na sua diocese. Fala também de como será a missa papal, com paramentos autóctones, leituras e orações em espanhol e outros três idiomas nativos. A seguir compartilhamos a entrevista.

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ZENIT: Francisco viajará para ver-lhes no México, mais ainda, em Chiapas?
Dom Arizmendi: Como o Papa não foi a Argentina, não pensava que pudesse vir ao México, e logo que chegou a notícia me perguntei sobre o motivo. E pensei que o Santo Padre vai aos lugares onde existem mais problemas e necessidades. Ou seja, vem primeiro por causa da Virgem de Guadalupe; segundo porque ele sabe que há problemas difíceis.

ZENIT: Mas disse-lhes as suas motivações?
Dom Arizmendi: Ontem que estávamos com ele confirmou-nos as razões pelas quais ele vai. Ele disse: 'Não vou à cidade do México por causa da Cidade do México, porque já João Paulo II foi várias vezes e temos que ir a outros lugares. Vou por causa da Virgem de Guadalupe’ e, certamente estarão lá os políticos e bispos. E esclareceu que há três lugares que lhe interessam muito: o sul, por causa dos imigrantes e, principalmente, os indígenas; Michoacan por causa da violência que gerou o tráfico de drogas e, por último, Ciudad Juárez, que é a passagem para os Estados Unidos e os problemas de tantos imigrantes. Claramente que, indo, aproveita para várias outras coisas, mas estas são as razões fundamentais.

ZENIT: Mas, a sua diocese de San Cristóbal, talvez você não imaginava?
Dom Arizmendi: Em Aparecida, em 2007, o então cardeal Bergoglio escutou quando expliquei sobre o tema indígena. Um ano depois, sendo presidente da Conferência Episcopal Argentina, me fizeram o favor de me convidar para falar sobre alguns temas aos bispos argentinos, sobre essa pastoral, que lá chamam de a pastoral aborígene. Ele era presidente e se interessou pelas questões levantadas sobre a pastoral indígena. Portanto, ele sabe que no sul do México esta pastoral é uma prioridade, junto com a dos migrantes.

Claro que não se trata só dos indígenas, porque a população é multicultural e ele insistiu muito, especialmente na Evangelii Gaudium, em que a Igreja não pode estar fechada em uma só cultura. Esse é um dos desafios que nós temos: que os indígenas sejam aceites na cultura da maioria e que a cultura indígena não indígena aceite-os, tanto na Igreja quanto na sociedade, para ir conseguindo esta unidade, não em todas as fórmulas culturais, mas sim no evangelho. O Papa quer ir não só para dar uma voz aos indígenas, mas também para integrá-los em toda a sociedade.

ZENIT: Hoje, a influência de outras culturas, particularmente os EUA, é muito forte certo?
Dom Arizmendi: Os indígenas lá, como em todos os lados, estão vivendo uma mudança cultural muito grande, com o perigo de perder a sua própria riqueza, deixar-se invadir pela cultura dominante, não somente espanhola ou norte-americana, mas dominante em todo o mundo. Estão neste processo de mudança. Por exemplo, hoje os jovens chegam com outra forma de vestir, de falar, de costumes, respeitam os seus pais, mas já existe um abismo entre as gerações.

ZENIT: Bem, mas entre os indígenas existem também culturas muito diferentes...
Dom Arizmendi: Sim, mas o que vemos em outras culturas do mesmo grupo étnico aqui vemo-lo muito mais, porque são culturas contrastantes. A cultura indígena abrange muito, a espiritualidade, a família, o meio ambiente. Enquanto que a nossa cultura corta os âmbitos, a política não tem a ver com a religião, etc. E na cultura indígena tudo é um todo. Na cultura dominante usa-se as coisas, na indígena as coisas são para ser apreciadas, são usadas, mas não destruídas.

ZENIT: Qual é então a pastoral para eles?
Dom Arizmendi: Temos alguns rituais dentro da liturgia, muito típico das comunidades indígenas e os jovens respeitam e vem de longe, mas não se integram. Nosso desafio é o de uma pastoral da juventude indígena apropriada ao seu modo de ser e de pensar. O Papa, neste sentido, nos ajuda a ver este trânsito cultural que está acontecendo, especialmente, nos povos indígenas.

ZENIT: E o que estão organizando para a viagem?
Dom Arizmendi: Eu sugeri ao Papa que pudessem almoçar com ele alguns indígenas, aceitou imediatamente e de muito bom grado. Almoçarão oito índios e os dois bispos do lugar. Um sacerdote, uma religiosa, uma seminarista, uma jovem, um casal de catequistas e um diácono permanente com a sua esposa, todos indígenas.

Nós também propomos todos os detalhes. A mitra que estão fazendo será com motivos indígenas, também o báculo, o que nós temos. Na missa a primeira leitura será em idioma ch’ol; o salmo em tzosil; o Evangelho em tseltal; a oração dos fieis, uma oração comunitária tradicional na qual cada um fala a Deus o que leva no seu coração, uma forma muito comum, cada um no seu idioma. Para o momento depois da comunhão aceitaram uma dança ritual de ação de graças e louvor.

Vamos cantar o Pai Nosso em tzosil. Queríamos cantá-lo em três idiomas: espanhol, tzosil e tzeltal, mas disseram que não, que apenas em um idioma, e escolhemos o tzosil. O mesmo para a leitura do Evangelho. Virão índios de várias partes do México.


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