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quinta-feira, 31 de março de 2016

Quem tem medo de Deus? O Ocidente entre cristianofobia e o retorno do fundamentalismo religioso

Dados, análises e reflexões no Sétimo Relatório sobre a Doutrina Social no mundo, aos cuidados do Observatório Internacional Cardeal Van Thuân


Christian Women In Kurdistan - Acs Italia
Os atentados de Paris e Bruxelas, apesar de monstruosos, são somente o último episódio de uma guerra internacional assimétrica e não convencional que coloca no cenário o elemento religioso, embora deformado e manipulado, de modo perturbador.

Mas, quem está por trás? Qual é o objectivo final? Como é possível que a Europa pareça indefesa como nunca antes? São somente algumas das perguntas que inspiraram o novo Relatório Anual do Observatório Internacional Cardeal Van Thuan sobre a Doutrina Social da Igreja no mundo em distribuição nos próximos dias pelas livrarias italianas, editora Cantagalli, totalmente dedicada à revitalização socio-política dos fundamentalismos religiosos dos últimos anos (cfr. G. Crepaldi – S. Fontana, Settimo Rapporto sulla Dottrina Sociale della Chiesa nel Mondo. Guerre di religione, guerre alla religione, Cantagalli, Siena 2016).

Os fenómenos observados pelos estudiosos do Observatório são de dois tipos: por um lado, detecta uma situação real e verdadeira de “cristianofobia” (para lembrar uma expressão já introduzida no magistério papal de Bento XVI), tendencialmente sistémica, em escala global: há, ou seja, uma caça ao cristão difundida e praticada a nível planetário, pelos motivos mais variados, que – caso não seja interrompida – com esta média de vítimas corre o sério risco de passar para a história como a mais crenta de todas. Por outro lado, não passa praticamente um dia sem que o Papa Francisco lembre que hoje existem mais mártires do que no Império Romano.

Por isso, no entanto, a comunidade internacional – tanto a nível institucional, quanto dos meios de comunicação – ainda não produziu uma reflexão culturalmente adequada. Talvez estejamos chocados pelo último massacre terrível (como o caso das quatro pobres freiras de Madre Teresa massacradas no Iémene há poucos dias), mas, passado o eco do momento, tudo volta como antes sem que a grandeza dos fatos em jogo (pense-se também no caso incrível de Ásia Bibi ainda na prisão e na condição de milhões e milhões de cristãos no País, como o Paquistão, a Nigéria, o Sudão, a Eritreia, o Iraque, o Afeganistão e toda a Península Arábica) dê origem a uma séria tomada de consciência da gravidade da “catástrofe humanitária” em andamento, para usar as palavras até mesmo das ONG mais laicas presentes há tempo nas áreas de crises citadas.

Por outro lado os autores – coordenados pelo presidente e fundador do Centro-estudos, o arcebispo de Trieste, Dom Giampaolo Crepaldi, ex-secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz e do Director, o professor Stefano Fontana, há anos dedicado ao estudo jus-filosófico dos processos de secularização – apontam que, nesta guerra global não declarada à presença cristão, corresponda no Ocidente, e na Europa especialmente, portanto no berço do cristianismo, uma especular e não menos violenta, ‘guerra à religião’ tout-court. Uma guerra que também desafia a missão da Igreja de várias maneiras, expulsando firmemente os símbolos da fé dos lugares públicos, ridicularizando os seus representantes na cultura da comunicação e na arena política, usando até das leis do Estado para impedir as últimas resistências (impedindo, por exemplo, o exercício da objecção de consciência nos casos com implicações bioéticas ou começando uma obra de laicização em massa nas escolas).

Trata-se, neste caso, de outro tipo de guerra, que se combate em um nível cultural-propagandístico e no nível jurídico-político, de natureza ‘silenciosa’, e que aparece pouco porque não faz mortes no sentido físico, mas a longo prazo tem um efeito não menos devastador em todas as comunidades religiosas que vêem as suas presenças nas praças públicas sempre menos tolerada e aceita, como se o crente – pelo facto de ser crente – não fosse uma parte plenamente representativa da comunidade civil.

Para sair disso, os estudiosos desejam um retorno forte da razão, livre finalmente de todo preconceito ou estereótipo anti-religioso, e uma re-descoberta daquele direito natural que desde sempre, muito além das simples diferenças étnicas, linguísticas e geográficas continua a ser a medida de avaliação mais confiável para avaliar a bondade e a idoneidade da religião na vida pública dos povos. Imaginar uma civilização sem religião é pura utopia – nunca na história existiram civilizações assim, muito pelo contrário – mas é também verdade que só a religião verdadeira, Revelação de um Deus que ama e se preocupa por todos os aspectos da vida do homem, produz uma real civilização, ou seja, um desenvolvimento que seja harmonicamente material, humano e espiritual.


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