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sábado, 23 de abril de 2016

O mundo ainda não reconheceu os crimes do comunismo e “não é possível existir misericórdia e perdão sem justiça”

Apresentado na Gregoriana com Mons. Vasil o livro “A Igreja Católica e o Comunismo na Europa Central e Oriental e na União Soviética”


Università Gregoriana - ZENIT FC
Anteontem, durante a audiência geral, o Papa Francisco conheceu pe. Ernest Simoni, sacerdote albanês que passou 28 anos na prisão, de 1963 a 1990, perseguido pelo regime comunista de Tirana, pelo simples fato de ser um padre.
Foi um encontro intenso, gestos de emoção do Papa revelaram uma ferida ainda aberta no corpo da Igreja. De fato, não é possível esquecer a dor sofrida pelos religiosos e também por tantos fieis durante o século passado na Europa centro-oriental e na então União União Soviética.

A figura do pe. Simoni é o paradigma de uma heróica perseverança dos cristãos que enfrentaram-se até mesmo com o martírio com tal de não renunciar a sua fé perante a foice e o martelo. Experiência deste tipo, que viveu na própria pele mons. Cyril Vasil, eslovaco, actual secretário da Congregação para as Igrejas Orientais.

Ontem, o prelado falou na Pontifícia Universidade Gregoriana, na apresentação do livro A Igreja Católica e o comunismo na Europa Centro- Oriental e na União Soviética (ed Gabrielli – 2016), escrito por Pe Jan Mikrut, professor na mesma universidade.

Filho de um sacerdote da Igreja greco-católica da Eslováquia, Mons. Vasil conheceu dentro das paredes do lar os sofrimentos da perseguição comunista que, na antiga Checoslováquia, teve seu pico em 1950, com a supressão de todas as ordens religiosas.

O jovem padre Cyril Vasil expatriou-se ilegalmente da Checoslováquia em 1987, já que as autoridades negavam a permissão para deixar o país. Sobre ele caiu uma pena de dois anos de prisão, que acabou juntamente com o fim do regime dois anos depois.

Perante os olhos do secretário da Congregação vaticana desfilam ainda as imagens de sofrimento provocadas pelo regime comunista. Episódios que, porém, reflectiu mons. Vasil, são percebidos pela opinião pública ocidental de forma diferente, mais brando, com relação a como se percebe a ditadura nazista.

“Embora saibamos que o comunismo – observa Mons. Vasil – tem causado mais vítimas e tem demonstrado maior eficácia totalitária tendo demorado mais tempo” O prelado explica esta diferença de julgamento com o fato de que “em alguns influentes ambientes ainda existem traços ideológicos”, por isso “esta história se entrelaça ainda com o presente”.

Uma história, de fato, que começou com o final da segunda guerra mundial e na sequência da divisão de esferas de influência determinadas pelos vencedores de Yalta. Mons. Valil explicou que os regimes comunistas começaram imediatamente a identificar a Igreja Católica como inimiga, em quanto que “representante da fé, que supera a dimensão exclusivamente material do homem”.

Neste contexto, o sacerdote era particularmente indesejável. O voto de castidade que desvinculava do liame familiar, o voto de pobreza que o torna incorruptível e especialmente a obediência a Deus são aspectos inconciliáveis com a pertença a um regime totalitário.

Mons. Vasil traçou um unívoco modus operandi das autoridades comunistas em vários países da Europa Central e Oriental. Antes de tudo, fazia-se uma alienação da Igreja Católica por parte da opinião pública, apresentando-a como uma expressão da burguesia que se enriquecia às custas do povo, bem como uma aliada “dos imperialistas belicistas ocidentais com a intenção de invadir o bloco socialista”.

Esta primeira abordagem foi possível graças a “ocupação dos meios de comunicação e dos meios de produção”. Mons. Vasil recorda que a Igreja era privada de toda possibilidade de comunicar livremente.

“Havia, em seguida, uma aspecto desta perseguição – acrescentou o prelado – que era a limitação do culto”. Mons. Vasil explicou que este processo acontecia muitas vezes de forma subtil: “sob um verniz de liberdade de culto, escondia-se uma forte limitação”. De que maneira? “Através de acções para intimidar o clero, favorecendo eclesiásticos menos capazes ou mais coniventes, infiltrando agentes secretos sob o disfarce de sacerdotes”.

A ferida aberta, produzida pelo comunismo à Igreja, sugere a mons. Vasil uma questão filosófica: “Qual relacionamento deve haver entre a justiça histórica e o perdão?”. Tendo em conta que “uma sincera admissão de culpa, na percepção comum do povo, não aconteceu nem na Europa Ocidental nem nos Países protagonistas destes eventos”, não existem os pressupostos – segundo ele – “para um verdadeiro perdão”.

A ideia de Mons. Vasil “certamente não é uma chamada para ser vingativos e sanguinários”, mas sim a consciência de que “não é possível existir misericórdia e perdão sem justiça”.

Para consertar a relação entre estes dois elementos, o prelado recordou a necessidade de abandonar os critérios puramente humanas. “Quem é que traça um eixo cartesiano para determinar onde termina o mal e onde começa o bem?”, perguntou-se. “Se tivéssemos que consideram que é só o homem que o traça –afirmou – este eixo seria flutuante”.

Oscilações muito perigosas. De facto, “as filosofias que declararam a autonomia total do homem e a sua suposta capacidade de alcançar os ideais absolutos, ou em nome de uma classe social ou em nome de uma pertença racial, levaram a humanidade à beira do abismo”, disse Mons. Vasil. E os riscos também estão presentes na nossa época, já que não faltam “tentativas de alterar a antropologia humana por meio da eutanásia e eugenia”.

Daí a sua observação de que “a correspondência real para a verdade está fora do nosso alcance sozinho.” Aprofundar as raízes cristãs que estão nas terras do Leste Europeu pode ajudar a entender e viver esse assunto.

Vasil disse que São Cirilo e Metódio, evangelizadores dos povos eslavos, “trouxeram consigo o Evangelho e a lei”, cujo primeiro artigo diz que “antes de qualquer direito, é necessário falar do direito divino”. Além disso, a fim de cumprir o nosso desejo de justiça, devemos nos voltar àquele Juiz que conhece o segredo dos corações e que quer levar à reconciliação. Só assim poderemos dirigir o olhar ao passado da Europa centro-oriental sem sofrer a dor de uma ferida ainda aberta.


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