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quinta-feira, 12 de maio de 2016

No fim, o princípio.

Estou com 39 semanas de gravidez. Prestes a rebentar e super, híper, mega cansada. Sinto-me altamente pesada e já pouca roupa me serve. Com 37 anos e cinco filhos, tendo o mais velho 9 anos, nesta altura, o único pensamento que consigo ter é que isto de estar gravidíssima já não é nada como antigamente (tipo, como foram as primeiras- como diria o meu filho mais velho que, agora, anda com a mania do “tipo”).

Nas últimas semanas, tenho pensado muito em vir aqui escrever, mas sempre surge uma roupa para passar ou um jantar para preparar e o sono, muito sono. Já se vê, que não consigo escrever nada.

Contudo, não queria partir para a maternidade (a qualquer momento), sem falar do livro que estou a ler e que, parece-me, pode ajudar muita gente, pela sua clareza e pela ternura e doçura das suas palavras.

Só o título já diz muito- “A Alegria do Amor”. Logo no início, o Papa Francisco recorda-nos o facto da Bíblia ter muitas referências a famílias, a gerações que se sucedem umas às outras, a crises familiares. E o sentido é sempre bem demonstrado- o bem da família origina o bem de toda a comunidade- “Possas contemplar a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida, e chegues a ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.” (Sl. 128).

Mais à frente, o Papa relembra que Jesus gostava muito de ir a casa das pessoas, de as visitar e de comer com elas. Ao ler estas palavras, sinto a ternura imensa que elas transportam. A nossa casa é o nosso espaço de vida em família, uma espécie de ninho, ao qual Jesus dá toda a importância. Em família, em casa, as pessoas não são números, não são clientes, não são utentes. Em casa, em família, cada pessoa é uma pessoa, especial, única, que todos reconhecem ao mínimo sinal, ao mínimo som.

Ainda que esta beleza fale por si só, este ideal não é abstrato, não é só para alguns e, acima de tudo, não é compatível com tudo, porque a verdade não é relativa, porque o bem não depende do juízo de cada um, o bem e o mal não são sinónimos. Para além disso, as relações que se estabelecem na família não são passíveis de ser descartadas, não se ligam e desligam numa tecla, não são compatíveis com uma mentalidade narcisista do ser gira, elegante e bem-sucedida, porque sim, porque me apetece, porque eu quero.

O perigo de todo este discurso é o de soar a déjà vu, o de parecer old fashioned e altamente ultrapassado porque “isso era antigamente!”. A proposta é déjà vu porque, se, certamente, todos conhecemos casamentos desfeitos, também é verdade que todos conhecemos algum casal que se manteve unido nas intempéries e que aprendeu a amar no perdão e na exclusividade. Não nos deixemos levar pela conversa do “fora de moda”, porque a moda serve para nos fazer felizes e não o contrário, pelo que nós ditamos a moda, mediante aquilo que queremos para as nossas vidas, mediante aquilo que fomentamos nas vidas que nos rodeiam.

“A força da família reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar. Por muito ferida que possa estar uma família, ela pode sempre crescer a partir do amor.” (pág. 39)

Continuarei certamente a falar deste livro porque ainda nem vou a meio na leitura, mas não quero terminar sem contar a forma impressionante como o Papa nos fala da vida e dos filhos. Os filhos pedem para nascer no amor porque são uma dádiva tremenda na vida dos seus pais, porque não vêm de fora para dentro, mas nascem de dentro, do amor entre o marido e a mulher, para fora, para o mundo. E educar é ajudar a ser livre no mundo.

Claro que tudo isto já foi dito muitas vezes, ao longo da história da igreja. Claro que, para muitos, soa a conhecido e repetido, mas importa voltar a dizer tudo o que for para bem. O bem tem de ser repetido e replicado, dito e cantado, sussurrado e gritado, porque o bem leva à felicidade individual e coletiva. Porque, no fundo, no fundo, todos queremos ser verdadeiramente felizes, o que não quer dizer permanentemente felizes, nem inconscientemente felizes.


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