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sábado, 14 de janeiro de 2017

De Fazer Chorar as Pedras

Quando penso na Eutanásia é este, o modo como me sinto, ou ainda melhor, as pedras da calçada choram tanto, que me fazem doer o coração, na impossibilidade de conseguir salvaguardar todos os valores considerados nobres e sagrados.

São Pedro (cfr Sagrada Bíblia, Epístolas Católicas, EUNSA, Pamplona, 1988, págs. 116-117) recorda-nos, que todos os contratempos que nos afligem, não são inúteis. Nas dificuldades e nas contradições, todos os acontecimentos devem ser vistos com um sentimento positivo, que nos obrigam a crescer e a enfrentá-los.

Há algum tempo que sinto alguma necessidade de refletir sobre este tema tão abordado na opinião pública, hoje em dia, ou seja, a Eutanásia. Assim sendo, procurei no íntimo do meu coração situações vivenciadas de grande sofrimento, de profunda dor, versus, a sua vontade de viver apesar de todos os constrangimentos tão dolorosos que atravessavam. À minha memória veio de imediato a imagem de várias pessoas que acompanhei na fase final da sua vida.

Uma delas, com cancro (melanoma) em fase muito adiantada. O seu sofrimento foi terrível, pior do que se possa descrever em qualquer compêndio de medicina. Desde quimioterapia, radioterapia, programas experimentais, uma operação em que o abriram e fecharam, referindo que pouco mais havia a fazer. Ainda assim, olhava para nós com esperança, sem um queixume.

No programa experimental, em que entrou posteriormente, melhorou bastante. O tempo suficiente para se animar, para fazer férias com a família. Mas tudo tem o seu tempo. Uma pneumonia, num doente com poucas defesas, esta doença acabaria por ser fatal. Contudo, até ao último momento, acreditou sempre, que iria sobreviver. Contou sempre com o apoio da família.

Este constitui um exemplo que não é único. Sobretudo, em vários idosos, que também tive oportunidade de acompanhar. Sempre sentiram uma enorme vontade de viver, independentemente da sua solidão, das doenças, entre outros motivos inerentes à sua idade avançada. Com um sorriso nos lábios, recordavam o passado, os bons momentos vivenciados, as relações intergeracionais, referindo que não existia melhor bálsamo, do que o sorriso e o afeto de uma criança.

Da minha parte, enquanto acompanhante destas situações enunciadas, a minha grande preocupação, é precisamente a necessidade de criarmos melhores condições ao nível dos cuidados paliativos, para que estas pessoas, possam ser devidamente assistidas, nesta fase terminal. As famílias também carecem de muito apoio. Frequentemente sentem-se perdidas, sem saberem como agir, como mitigar a dor, bem como sofrimento, do seu ente querido.

Nesta área sim, acredito que se torna, na realidade, uma área de intervenção prioritária com um grande trabalho a desenvolver, em prol do bem-estar de todos, dos doentes e dos seus familiares.

Quando penso na Eutanásia, no meu modesto entender, talvez mal comparado, ocorre-me a ideia da pena de morte. Todos queremos que seja completamente abolida, sendo que, Portugal foi o primeiro país da Europa e do Mundo a abolir a pena capital, sendo o primeiro Estado do Mundo a prever a abolição da pena de morte na Lei Constitucional, após a reforma penal de 1867. Contudo, com a Eutanásia, arriscamo-nos, a que sejam criadas outras “penas de morte”.

Face a este contexto, acredito que vale muito a pena envidarmos todos os esforços, para que quem atravessa um problema de saúde mais complicado, que se encontre mais debilitado, mais fragilizado, em sofrimento numa fase terminal, que seja alvo de todos os cuidados necessários e que as suas famílias sejam devidamente apoiadas. A solidariedade existe para com os que sofrem existe. O nosso amor por estas pessoas deve aumentar face à difícil situação que todos vivenciam, e não o contrário.

Os serviços de saúde a este nível, têm que obrigatoriamente dar uma resposta positiva, criando as estruturas ao nível dos cuidados continuados, para que não se torne necessário, falar da Eutanásia, mas sim de apoiar quem precisa, enquanto seres humanos segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Que Portugal, o país que teve a predileção de Santa Maria, possa constituir aos olhos do mundo, um bom exemplo a replicar, pela positiva. Nossa Senhora de Fátima, fazei que todos compreendam, que a chave da felicidade se encontra no bem.
 

Maria Helena Paes






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