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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Saída de emergência – Livros e exemplos para quebrar a rotina

A medicina é a arte do saber em que o homem - o médico – olha para o Homem com outros olhos e o sente com outro coração.

(Na medicina sempre existiram pessoas que se dedicaram ao próximo de forma abnegada, sem outro desejo que não o de melhorar a sua arte, dando apoio nas horas mais terríveis de qualquer ser humano, como a falta de saúde e o sofrimento físico, psicológico e social.

Entre este incontável número de pessoas extraordinárias, sobressaíram algumas que adicionaram à arte médica outras faces do prisma complexo que é o ser humano. E que foram, para além disso, mestres na pintura, escultura, poesia, música, literatura, política, filosofia, história ou na defesa intransigente e corajosa dos direitos humanos. São verdadeiros príncipes, que representam exemplos para analisar, admirar e seguir.

Para lá da medicina, estes príncipes desenvolveram artes e dedicaram-se ao estudo e implementação das ciências humanas, ou envolveram-se em política. Alguns fizeram um pouco de tudo, são vidas admiráveis, plurifacetadas, sofridas. As decisões que tiveram de tomar podem parecer ”pacíficas”, vistas à distância, mas terão certamente sido fruto de grandes inquietações e de um enorme esforço e empenho pessoal.

Foram príncipes, atributo cada vez mais raro neste mundo que parece quase cultivar a cupidez e a ignorância, mostra ser pouco reflexivo e em que os valores do bom senso, saber esperar, escutar, argumentar e aceitar ideias de outros ou, mesmo não o fazendo, respeitar e existência de outras ideias, parecem não estar cotados em nenhum índice´” económico” de uma qualquer agência de rating). *

*In: PRÍNCIPES DA MEDICINA de Mário Cordeiro, médico pediatra.

Neste livro o autor revela-nos com serenidade e minúcia, o percurso de vida e a obra de alguns dos mais fascinantes e inspiradores médicos da História, pessoas extraordinárias desde o egípcio Imothep, século XXVI a. C. até aos nossos dias. 

Num cadente fluir, põe-nos a descoberto profissionais que o foram de alma e corpo, para além das vicissitudes inerentes aos tempos, aos recursos disponíveis e aos reveses que a saúde e a doença vão sulcando no paciente e no clínico. 

Não há doenças, há doentes, pois o ser que padece a doença é único nas suas circunstâncias pessoais, políticas, económicas e sociais pelo que os seus padecimentos físicos, psíquicos ou morais, poderão ser semelhantes mas nunca iguais aos de outros homens.


Porém, todos sentiam e sabiam que ciência sem consciência é a ruína da alma, tinham em comum o amor à arte, a paixão pelo saber e o desvelo de minorar o sofrimento do paciente, do ser humano no seu todo, ainda que fragilizado pela dor, solidão, abandono ou indiferença.

Recentemente, aquando da sua morte, o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos recordou o Professor Daniel Serrão como “um dos Príncipes da Medicina portuguesa, uma figura de referência no campo da Ética e da Medicina, um exemplo e uma referência para os médicos e para a sociedade civil”.

“Sou profundamente optimista! A vida é bela e pode ser sempre vista como bela mesmo quando está um pouco escurecida. Cada um tem de ser autêntico consigo próprio e com os outros! Toda a hipocrisia desgraça a beleza da vida. Cada um tem de se sentir bem consigo próprio e com os outros e esta tem de ser uma relação de autenticidade. (…) Muita gente pensa que é preciso ter muito dinheiro para ter uma vida bela ou boa. Um conceito de vida boa ou bela, mas mais de vida boa, é aquele que permite um sentimento de bem-estar consigo próprio, com os outros e com o mundo! Desde que se sinta bem interiormente, a vida é boa! Mesmo que tenha dificuldades económicas, financeiras, profissionais, familiares ou outras, mas tem de fazer sempre esse esforço para que a sua visão da vida seja uma visão positiva! 

Eu considero ter uma vida boa e quero vivê-la até ao momento da morte! (…) Porque é a ambição desmesurada que torna tantas pessoas azedas, agressivas e infelizes“ e “O tempo da morte é de uma riqueza formidável”.

Que estas simples e sábias palavras do Professor sejam um alento e um estímulo para todos os que exercem a nobre profissão/missão de tratar, curar e aliviar os males físicos, psíquicos ou morais de todos os seus pacientes, sempre seres humanos em sofrimento, na certeza de que “com a morte de cada homem termina um universo cultural“ Daniel Serrão

Maria Susana Mexia







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