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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Como é que a nossa Sociedade acolhe os mais Idosos?

Recentemente, vi num canal de televisão uma reportagem sobre um lar de idosos que não dispunha das condições mínimas. Fiquei chocada, direi mesmo indignada. Mais uma vez senti necessidade de escrever um artigo sobre o modo como alguns idosos são tratados, desvalorizados, ignorados, descartados, colocados na prateleira. Alguns sofrem mesmo de abandono, de solidão, de maus tratos, de estigmatização. Direi mesmo que parece que existe uma profecia pré-concebida que pretende rejeitar os idosos.

Será que ainda não se entendeu, que a idade da velhice, não é tão diferente assim da meia-idade? A ideia de as pessoas se manterem ativas, contribui para um envelhecimento saudável, ou seja, a continuidade na nossa vida pode ajudar a alcançar um envelhecimento normal.

Dou o  exemplo de um amigo, já com alguma idade que sempre dizia "possuir juventude acumulada". Graças a este seu modo de pensar teve um envelhecimento extremamente ativo, sempre disponível, depois de reformado, colaborando em causas sociais. Constituiu um exemplo de vida pela sua alegria, afeto, disponibilidade, vontade de fazer o bem. E assim foi até ao último momento da sua vida.

Penso que deve existir a oportunidade de desenvolver alguma atividade enquanto a vida o permite. Vejamos o caso do realizador Manoel de Oliveira que trabalhou até quase ao último momento, tendo falecido com 106 anos. Há alguns dias uma amiga, que continua a desenvolver a sua atividade numa área extremamente necessária, ao questioná-la sobre a sua idade, foi com algum espanto, que a ouvi dizer que tinha algum receio de a mencionar. Podia prejudicar o trabalho que desenvolvia, se tivessem conhecimento da sua idade avançada. Pensei interiormente que deveria ser justamente o contrário. Devia sentir-se orgulhosa por já ter alguma idade e manter-se ativa. A sociedade devia agradecer-lhe por esse facto. Lá está novamente, o preconceito da idade! Temos muitos mais exemplos, entre eles, o da Madre Teresa de Calcutá, Premio Nobel da Paz, o Papa João Paulo II, que vimos manter a sua atividade com um esforço enorme. Que belos exemplo de fé, de força interior e de coragem. Hoje em dia são Santos venerados, e exemplo para todos.

Mas claro que nem sempre é assim. Temos de reconhecer que existe uma grande diversidade entre os mais idosos. Na realidade, constitui uma das características do envelhecimento. Só reconhecendo este facto se pode compreender os dois extremos. A fragilidade, bem como a força existente nos mais idosos. Enquanto idosos, são os mais ricos em conhecimento, em experiência de vida, mas também podem ser os mais pobres ao nível da saúde. Podem ser igualmente os mais privilegiados ou os mais fracos, vulneráveis, com deficiências motoras e psíquicas. Podem ser génios ou nem por isso. Toda esta panóplia de situações é o que torna o envelhecimento tão especial e diferente. Cada caso, é um caso! 

Esta diversidade exige respostas distintas. Posto isto, urge mobilizar o Estado, a Sociedade e as Famílias para o desenvolvimento de soluções adequadas, para a criação de estruturas de saúde que possam colmatar as enormes lacunas existentes.

O envelhecimento global sem paralelo na história humana assim o exige. As projeções das Nações Unidas concluem que entre 2015 e 2030, o número de pessoas de idade no mundo apontam para o crescimento significativo de pessoas idosas. Apesar de se ter testemunhado um aumento do interesse pelas questões relacionadas com o envelhecimento, precisamos de acompanhar este momento, no sentido de assegurar a visibilidade das pessoas idosas na implementação dos objetivos das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, que entre outros pretende terminar com a pobreza em todas as suas formas relevantes para as pessoas de todas as idades, dando enfase, às estatísticas que referem os baixos números de pessoas de idade que não auferem qualquer pensão ou aqueles que recebem pensões desadequadas e que vivem perto ou abaixo do limiar de pobreza. Refere ainda a necessidade de tornar as cidades e as estruturas humanas inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis para pessoas de todas as idades, particularmente para os mais idosos com o objetivo de melhorar a participação económica, social e política bem como a inclusão social. Se todas as pessoas envolvidas no desenvolvimento da Agenda 2030 no sentido de assegurar que “ninguém fica para trás” estamos perante uma oportunidade única de “mainstreaming” do envelhecimento das pessoas idosas.

Maria Helena Paes



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