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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Conquistar o céu através da fé e da esperança

Há uns dias fui tomar chá com uma amiga. Confidenciei-lhe que tencionava escrever um artigo subordinado a este tema. Contudo, ainda não tinha surgido a inspiração de como o iria desenvolver.

Carecia de um exemplo real que ilustrasse bem este meu sentir. De repente veio ao meu pensamento o Cardeal vietnamita François-Xavier Nguyễn Van Tuân, enquanto exemplo de uma vida de sofrimento, fé e de esperança. Ficou decidido. Iria mesmo contar um pouco da sua história. Na minha memória surgiram igualmente as seguintes palavras relativamente à fé: “São tantos os antigos a atestar-nos as grandezas da fé, que se diria uma nuvem a rodear-nos… Fitemos os olhos em Jesus, o guia da nossa fé, que ele leva à perfeição”, e ainda as palavras de Jesus para a mulher que padecia de uma doença há doze anos, que tinha gasto todos os seus bens sem obter qualquer resultado. Cheia de fé aproximou-se de Jesus, tocou-Lhe na capa, dizendo consigo: ”Se eu ao menos Lhe tocar nas vestes ficarei curada”. Jesus notou logo em Si que tinha saído uma força… ”Minha filha, foi a tua fé que te salvou! Vai em paz e fica sarada do teu mal”.

Depois deste enquadramento passo a referir um pouco da vida do Cardeal Van Tuân, que nasceu em Abril de 1928, no Vietnam, numa família de religião católica. Foi ordenado sacerdote em 1953. Esteve preso durante mais de treze anos, nove dos quais numa cela solitária. Durante este período escreveu o livro “O Caminho da Esperança”, um verdadeiro testemunho espiritual. A sua prisão pelo regime comunista teve como base a sua nomeação como arcebispo coadjutor de Saigão em 1975 pelo Papa Paulo VI, dando ênfase de que esta nomeação constituía um “complot” entre o Vaticano e o regime comunista.

Já na prisão Van Tuân referiu que todos os prisioneiros, aguardavam a cada momento a sua libertação. Contudo, o futuro Cardeal decidiu: “não esperarei pela libertação, vou viver o momento presente, enchendo-o de amor”. Durante vários meses esteve confinado a uma cela minúscula, sem janela, húmida, na qual para respirar passava horas, com o rosto num pequeno buraco no chão. A cama encontrava-se coberta de fungos. Os nove primeiros anos foram terríveis: “Uma tortura mental, no vazio absoluto, sem trabalho, caminhando dentro da cela, desde a manhã até às nove e meia da noite, para não ser destruído pela artrose, no limite da loucura”.

Procurava conversar com os guardas que resistiam mas que eram seduzidos pela sua gentileza e inteligência. No início de cada semana os guardas eram substituídos, mas posteriormente ficou uma dupla de guardas fixa, a quem tratava por amigos, porque era esse o ensinamento do Senhor. No ano de 1975, fez sinal a um menino de sete anos, chamado Quang, que regressava da missa às 5 horas, ainda escuro, pedindo-lhe que sua mãe comprasse blocos velhos de calendários e lhos entregasse também de noite. Todas as noites de outubro a novembro de 1975, passou a escrever na prisão, uma mensagem para o seu povo. Todas as manhas o menino vinha recolher as mensagens. Assim foi igualmente escrito o livro “O Caminho de Esperança”. Van Tuân escreveu a amigos a solicitar que lhe enviassem um pouco de vinho, como remédio, para doenças estomacais. Face a este contexto, todas os dias, três gotas de vinho e uma gota de água, eram suficientes para trazer “Jesus na Eucaristia” à prisão. Os pedacinhos de pão, consagrados, eram conservados em papel de cigarro guardado no bolso, com reverência. De madrugada, o futuro Cardeal e os poucos católicos detidos, conseguiam encontrar um meio, para adorar o Senhor escondido com eles.

Van Tuân foi libertado em 1988. Em 1991 deixou o Vietname e foi para Roma, onde tomou conhecimento que o Governo não desejava que regressasse ao seu país. Em 1994, foi nomeado, vice-presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, tendo falecido no ano 2002.

Está em curso o seu processo de beatificação. O Papa Bento XVI referiu-se ao Cardeal Van Tuân, como exemplo de que a oração constitui um modelo de esperança. “Treze anos em prisões vietnamitas; deles nove anos em isolamento: a sua experiência de esperança graças à oração, permitiu-lhe constituir para os homens de todo o mundo, uma testemunha de esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites de solidão”.

Santa Maria, Mãe do Amor Formoso, do Temor, da Ciência e da Santa Esperança, rogai e intercedei por nós, para que nunca percamos a fé e a esperança, mesmo nos momentos mais conturbados, permitindo assim, que um dia possamos conquistar o Céu.

Maria Helena Paes



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