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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Guardado Está o Bocado…

Há alguns anos atrás, comprei em Nova Iorque uns óculos de sol. Na altura estava acompanhada pela minha irmã que gostou tanto deles que comprou uns iguais para oferecer à nora. E os anos foram decorrendo… Fui passar mais um fim-de-semana à Vila de Mafra, onde infelizmente, na sexta-feira, perderia os meus óculos de sol. A minha sobrinha que me acompanhava referiu imediatamente: “Não se preocupe, tia, tenho uns oferecidos pela sua irmã que não me serviram. Pode ficar com eles.” Olhei para os óculos oferecidos pela minha sobrinha. Reconheci-os. Com saudade recordei o momento vivenciado aquando da sua aquisição, tendo exclamado: “Guardado está o bocado para quem o há-de comer!” Na realidade os desígnios de Deus são insondáveis. Sentia um pouco como se a minha irmã tivesse regressado, espero que desde o Céu, para suprir uma necessidade. E durante todo o fim-de-semana a sua memória esteve presente, sobretudo no sábado, em virtude de nos ter sido oferecido um almoço de família, na Praia das Maçãs, em casa de uma tia sua por parte do marido. Há muitos anos que não tinha tido oportunidade de confraternizar com a dona da casa. Só nos cruzámos em diferentes momentos, alguns bem tristes.

Mas este seria um momento diferente, de alegria, de boa disposição, de partilha, de recordações, de reencontro de vários familiares. A moradia era fantástica, com uma vista panorâmica sobre o oceano a perder de vista, num dia de calor, com o mar e o céu vestidos de tons azul, contrastando com o verde do jardim. A dona da casa recebeu-me de braços abertos, com um abraço caloroso e sentido que me emocionou, exclamando: “Como é a primeira vez que aqui vem, hoje vai ser a rainha da casa”. E assim foi. Terminámos a tarde à volta de uma camilha, com um enorme bule de chá com bolinhos de canela e nozes. Apreciei mesmo, a não esquecer jamais o excelente acolhimento e integração no seu seio familiar. 

Era bom que fosse sempre assim em todos os momentos. Mas sabemos que na vida, vivida como se deve viver, com todas as suas exigências, nos encontramos com a Cruz que se deve levar em seguimento de Jesus, porque na meta está a Vida Eterna. À luz dessa vida eterna é que deve ser avaliada a vida presente; esta não tem um caráter definitivo nem absoluto, mas é transitória, relativa, um meio para se alcançar aquela vida definitiva no Céu. S. Josemaria, em Caminho, 279, refere: “Tudo isso, que te preocupa de momento, é mais ou menos importante. O que importa acima de tudo é que sejas feliz, que te salves”. Recordei também as palavras de Jesus: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Porque quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por causa de Mim, salvá-la-á. “Pois de que serve ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” 

Ao final do dia, ainda houve algum tempo, para se assistir ao espetáculo, muito participado, de vídeo-mapping no ano em que se celebram os 300 anos do lançamento da primeira pedra do Real Edifício de Mafra, tendo-se transformado a sua fachada numa enorme tela de projeção, onde se reviveram alguns dos acontecimentos que tiveram lugar durante o tricentenário, o que muito agradou à maioria dos presentes, felicitando a organização pela concretização desta iniciativa e pelo sucesso alcançado em prol da divulgação do património cultural / histórico nacional e, se me permitem, do orgulho de se ser mafrense. Na realidade o Palácio Nacional de Mafra constitui uma maravilha na sua arquitetura, escultura, pintura, biblioteca, digna de ser amplamente divulgado, este Palácio/Convento/Basílica de Nossa Senhora e de Santo António/Tapada, configurados numa realidade única, onde se passou parte da nossa história destes últimos 300 anos, facto que merece ser dignamente relevado e celebrado.

Termino este artigo recordando uma oração de S. Francisco: “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado; compreender, do que ser compreendido, amar do que ser amado. Pois é a dar que se recebe. É a perdoar, que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna”.

Maria Helena Paes





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