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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Preferiria que não houvesse independência na Catalunha

Entrevista exclusiva a D. Pedro, bispo-poeta que se apaga em Mato Grosso, Brasil
Religión Digital = José Manuel Vidal, 26 de Setembro de 2017



(José M. Vidal, São Felix do Araguaia-Brasil).- Foi sempre como um junco pequeno e delgado, mas com saúde de ferro e nervos de aço. Hoje, com 89 anos, D. Pedro Casaldáliga (Balsereny, 1928), o bispo-poeta dos marginados, continua a ser um junco, mas dobrado pelo Parkinson. Na cadeira de rodas administra seus silêncios e economiza suas palavras, que, de vez em quando, voam como dardos proféticos: lacónicos e justos…

D. Pedro, gosta de receber visitas?
Algumas, sim

Como catalão e Premio de Catalunha, que opinião tem de processo?
Vamos ver o que se passará com a independência. Preferiria que não houvesse. Há pessoas sensatas que irão encarar a coisa de forma diferente. Não é um processo natural. Não tem sentido.

Conheceu Tarancón?
Sim, quando eu era seminarista em Barbastro e ele, bispo em Solsona. Foi una figura digna e com vocação de intermediário naquele momento difícil em Espanha.

De onde lhe vem a esperança e a força apesar de tudo?
Contando com alguém.

Quem é esse alguém?
Só podia ser ELE.

Quem alimenta a sua esperança?
A Ressurreição de Cristo.

Se pudesse mudar uma só coisa no mundo, qual sería?
Que todo aquele que tenha poder se ponha no lugar certo: a vida.

E que mudaria na Igreja católica?
Poria o poder nas mãos do povo. Ao contrário, se torna num problema. Na Igreja, o essencial é dar a vida pelos outros e a dedicação evangélica às Bem aventuranças.


Teve problemas com a Hierarquia?
Sim, tive.

Que fez; e que fazer nesses casos?
Continuar firmes ao lado dos pobres e dar testemunho sempre.

Mandaria abrir os templos durante as 24 horas?
Sim para que o povo entre, durma, coma e reze, se quiser.

Um conselho para os jovens
Que sigam, sendo rebeldes, com esperança, apesar da desesperança. E sempre ao lado dos pobres e excluídos. Temos andado anos a falar de consciencialização. Esse tempo acabou. Está na hora de actuar e de responder a chamadas concretas.

Que pensa do Papa Francisco?
É uma bênção de Deus.

E o senhor, como ele, não é uma bênção de Deus?
Todos somos bênçãos de Deus, se estamos na escuta e se apostamos no intercâmbio e no diálogo. Porque o problema é como viver a vida diária no meio deste mundo violento.


Está arrependido de alguma coisa?
De não ter bastante atitude de diálogo.

De que se sente mais orgulhoso?
Da muita gente que segue acompanhando-me na caminhada e de ter entregado a minha vida aos excluídos, aos marginados, aos pequenos.

Seus santos preferidos? 
São Francisco de Assis. (Quando fui a Roma quis ir a Assis ver o padre Arrupe, mas não pude).

E seus poetas?
António Machado, São João da Cruz (“Cântico espiritual” e a “Por diante”), Espriu, Neruda e  Matagal.

Muitas graças, D. Pedro.
De nada. Já falámos. Agora temos de fazer.



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