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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Visita à “Exposição Madonna” Tesouros do Museu do Vaticano no Museu de Arte Antiga

Uma amiga muito especial, convidou-me para tomar um café antes de partir para férias. No decorrer da conversa, comentou a existência de uma exposição temporária no Museu Nacional de Arte Antiga denominada “Madonna” na qual eram exibidos alguns dos Tesouros do Museu do Vaticano. Tinha mesmo conseguido despertar a minha curiosidade. Não podia de todo deixar passar esta oportunidade de ver passagens da vida de Maria e de me sentir como se estivesse nas salas da Pinoteca Vaticana. Posto isto “Duc in Altum”. Agendei de imediato uma visita guiada. Quando cheguei ao Museu tive imensa sorte em arranjar um lugar mesmo em frente, debaixo das árvores podendo usufruir de uma vista panorâmica belíssima, num dia soalheiro, com o rio e o céu em tons de um azul sublime, o Cristo-Rei de braços abertos parecendo a todos querer acolher, a ponte sobre o Tejo parecia ainda mais bonita no seu tom avermelhado contrastando com o resto da natureza, em particular, com o verde do jardim onde me encontrava. Como cheguei cedo, ainda houve tempo para tomar um café nos jardins do museu, rodeada por peças de arte. Aproveitei este momento para dedicar algum tempo à leitura da brochura que me tinha sido facultada aquando da aquisição do bilhete, a qual referia:

“A figura da Virgem Maria, a rica e copiosa iconografia gerada pelo culto mariano ao longo dos séculos, é o tema crucial que convoca e liga as obras reunidas nesta exposição: um projeto que assenta numa feliz e generosa cooperação entre os Museus do Vaticano e o Museu Nacional de Arte Antiga, no ano do Centenário das Aparições de Fátima. O percurso da exposição faz-se segundo uma progressão no tempo… tendo em conta a presença de numerosas e muito significativas pinturas, do século XIV ao século XVIII, provenientes dessa extraordinária coleção”... Já contextualizada, com uma enorme curiosidade, comecei a visita guiada, sabendo de imediato que seria extremamente difícil sintetizar num artigo tão rico e vasto património dedicado à Virgem Maria, pelo que irei referir, apenas algumas dessas obras. As primeiras representações surgiram na arte das catacumbas romanas durante o século III, ou em relevos de sarcófagos, já no século seguinte. Tive oportunidade de apreciar algumas peças dessa antiguidade tardia que exprimiam a devoção mariana das primitivas comunidades cristãs de Oriente e Ocidente, entre elas, um fragmento em tecido de rara beleza, século VII-IX, que mostrava a Virgem da Anunciação em Majestade. Chamou-me a igualmente a atenção um imponente pluvial do século XIII que constituía um autêntico cântico laudativo a Maria, rodeada de uma corte celeste de apóstolos, mártires e anjos. 

Passámos para outra sala na qual se abordava o triunfo da Madonna na pintura dos séculos XIV e XV, relatando as histórias da sua vida sendo que, em Siena, Bolonha ou Florença, ciclos de pintura mural, novos retábulos e painéis de devoção privada, acolhem toda uma profusa iconografia mariana. Admirei profundamente emocionada a obra de Frei Angélico: a Virgem com o Menino datada de 1435, pintada sobre madeira com fundo dourado revelando assim toda a beleza da tradição dos ícones bizantinos. A certa altura foi referido que a cor do manto de Maria é o azul, tendo o lápis-lazúli, desfrutado de grande popularidade na antiguidade tardia romana e no mundo bizantino. O azul brilhante, pela sua beleza, foi associado à realeza, tendo sido utilizado por muitos dos pintores a óleo na época do Renascimento, apesar do seu alto custo. Passámos seguidamente para a sala dedicada ao Renascimento em que o fundo dourado dá lugar à paisagem. Tudo é rigor. Nesta época Maria seria figurada por dois dos maiores artistas. Rafael e Miguel Ângelo. Rafael encontra-se representado com a admirável predela do retábulo encomendado por Madalena Oddi em 1502, que criou a imagem clássica e ideal da Madonna para muitos artistas dos séculos seguintes. Miguel Ângelo, encontrava-se representado com a reprodução da famosíssima Pietà existente na Basílica de S. Pedro em Roma. De uma perfeição inigualável, de uma beleza ímpar, mesmo de cortar a respiração: a Mater Dolorosa, acolhe no seu regaço o corpo inanimado de Jesus. Mesmo sem palavras! A representação de Maria, apesar do sofrimento que dela dimana, é de serenidade, de apaziguamento, de tranquilidade total.

Ficaria ainda impressionada com a beleza de uma doce e delicada representação da Virgem com o Menino, da autoria do pintor Van Dyck, a qual reflete toda uma emotividade comovente plena de doçura e delicadeza. Não posso deixar de referir também outro quadro impressionante de Federico Barocci “Madonna delle Cicliegie” (Vigem das Cerejas), uma das pinturas mais copiadas do século XVII. 

A iconografia mariana na arte religiosa dos séculos XVII e XVIII, é de tal modo abrangente, multifacetada e proselitista que se pode sintetizar como o “Triunfo da Madonna”. A Reforma Católica abriu caminho para a recuperação de temas e episódios do reportório iconográfico mariano antecedente, tornando-o mais rico, com novos sentidos, tomando como fulcro a figura ou o Sagrado Nome de Maria. A Imaculada Conceição deverá ter sido a representação mariana mais difundida e. Por outro lado, as místicas visões marianas dos santos constituíram outro grande filão da nova iconografia.

Esta exposição temporária sobre representações da Virgem Maria constituiu um verdadeiro um verdadeiro repositório muito bem conseguido. Apesar de a ter visto toda, devo concluir aqui, sob pena de o artigo ficar grande demais. Resta-me agradecer aos organizadores os excelentes momentos que tivemos oportunidade de usufruir. Continuem com este trabalho em prol da divulgação da cultura e, em particular, das obras dos artistas que nos precederam. Um grande bem-haja reconhecido.

Concluo com uma invocação a Santa Maria, Esperança Nossa, Rosa Mística, Porta do Céu, Causa da Nossa Alegria. Virgem gloriosa e bendita, rogai por nós, para que sejamos dignos das promessas do Teu Filho, Jesus.

Maria Helena Paes






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