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sábado, 30 de dezembro de 2017

Era véspera de Natal

Era a véspera de Natal. Resolvi dar um passeio com a minha irmã. Queríamos ir até ao centro da Vila. Era nossa intenção ver o presépio bem como fazer uma visita ao Santíssimo. Tudo estava pronto em casa, unicamente faltavam os pormenores de última hora. Restava-nos aguardar pela chegada do Menino Jesus e também da família que vinha passar a consoada em nossa companhia. Graças a Deus, conseguiram ultrapassar-se com sucesso todos os imprevistos de última hora, apenas restou uma otite que me surgiu entretanto. Tinha assim conhecimento que pelos motivos de saúde expostos, seria impossível participar na Missa do Galo, como tanto gostaria. A vida tem destas coisas, o melhor mesmo é aceitar. Enquanto caminhava com a minha irmã, num dia soalheiro e frio, passámos por um pequeno jardim. No meio da verdura existente havia um único botão de rosa, ainda por desabrochar. Penso que seria vermelha. Por analogia, trouxe-me ao pensamento o novo ano que se aproximava a passos largos. Também ele ainda por desabrochar. Quisera antevê-lo, mas não possuo esse dom. Só sei que um ano novo, exigirá uma luta nova. Dominus Deus, Deus Meus, tudo parece estar encadeado. Os ciclos sucedem-se, nem sempre são iguais, mas todos têm um fio condutor. Dois mil e dezassete anos depois do nascimento de Jesus! É essa a nossa estrela que nos guia e ilumina através do tempo. Agora chegou o tempo de fazer um balanço do ano que finda, corrigirmos o que entendemos que não está bem e prepararmo-nos, o melhor possível, para os novos desafios que certamente irão surgir. Se possível, que não nos encontre desprevenidos, mas sim fortalecidos. Há algum tempo uma amiga referia: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo”. Segundo este critério, possuímos na realidade, uma enorme responsabilidade: elevarmo-nos, elevando assim o mundo.

Ao meu pensamento veio novamente o botão de rosa ainda fechado. Vai começar a abrir lentamente, até se tornar por certo numa belíssima rosa brilhando em todo o seu esplendor e perfumando o ambiente com odor suave, que mais se pressente do que se sente. Talvez, quem sabe, venha a adornar algum altar ou algum lar de família. Mas se tal não acontecer e permanecer no jardim sem ser colhida, ficará a contemplar o céu, os dias e as noites que se sucedem indubitavelmente. Verá as estrelas, a lua, o sol, a chuva, o frio o calor, tudo o que a natureza tem para oferecer. Espero sinceramente que não seja pisada por alguém, que venha a cumprir a missão para a qual foi criada, através dos diferentes ciclos de vida. “Olha, rosa, sabes que te comparo com o ser humano? De algum modo, almejo que nasça, cresça e viva sem grandes sobressaltos, em paz, harmonia, com grande generosidade, atento ao próximo.

Não, rosa, não sou sonhadora. É bom querer o melhor para a sociedade! Temos a sorte de ter um Deus justo e misericordioso, que a todos acolhe e que tudo perdoa. Também o anjo, ao proclamar o nascimento do Salvador, disse: ”Paz na terra aos homens de boa vontade”! O que falha então, rosa? Será que os homens que não têm boa vontade, não querem o diálogo, a justiça, a paz, a harmonia, que triunfe o amor e a solidariedade entre os seres humanos, e antes desejam a guerra, o ódio, os atentados, com todo o sofrimento e a injustiça que acarreta? “Coração, coração na Cruz”.

Meu Jesus, que hoje nasces, ainda tão pequeno, ajuda a transformar os homens que não têm boa vontade, a pacificá-los, concedendo-lhes um coração justo, reto, humilde e piedoso, que se comovam ao ver um sorriso alegre no rosto de uma criança, e esqueçam os maus tratos, o abandono, a miséria, a doença, a guerra. Bem sei que necessitas da ajuda dos homens de boa vontade. Às vezes, penso que o progresso, trouxe também consigo, para além das coisas boas, outras que não são de todo boas, mas sim, causadoras de um enorme sofrimento, por vários motivos. Na realidade, julgo que esses andam um pouco “distraídos”, com uma vida extremamente agitada, onde a pressa, a concorrência imperam, faltando-lhes tempo para meditar nos acontecimentos e procurar soluções para o que está mal à sua volta. Menino Jesus, sei que assim se perdem os valores, se vai facilitando a vida em prol de uma falsa estabilidade económica e financeira. Jesus, como orientar as pessoas, envolvidas neste círculo vicioso, onde tanta coisa falha a diferentes níveis?

Como o Santo Padre referiu numa das suas mensagens de Natal: “Como a Virgem Maria e São José, como os pastores de Belém, acolhamos no Menino Jesus o amor de Deus feito homem por nós e comprometamo-nos com a sua graça, a tornar o nosso mundo mais humano, mais digno das crianças de hoje e de amanhã”. Disse ainda o Papa que Jesus é o mediador e reconcilia não só com o Pai, mas também com as pessoas porque “é fonte de amor”. Abre para a comunhão com os nossos irmãos removendo todo o conflito e ressentimento. Os ressentimentos são maus, magoam e Jesus remove tudo, faz-nos amar uns aos outros. O Santo Padre enfatizou ainda a necessidade de se pedir a Jesus que ajude a assumir essa dupla atitude de confiança no Pai e de amor ao próximo, isto porque transforma a vida, tornando-a “mais bonita e frutífera”.

A finalizar dirijo-me novamente ao botão de rosa fechado, almejando que, quando vier a desabrochar, os homens tenham ouvido as palavras do Papa Francisco. Deu resposta aos meus pensamentos. E à noite, quando o Menino já se encontrar no presépio, vamos seguir as suas orientações pedindo-lhe mais confiança no Pai e mais amor ao próximo. Certamente, ajudará e muito, a resolver os inúmeros conflitos existentes. Santa Maria, Rainha da Família e da Paz, Rogai por todas as famílias neste Natal, ajudando assim a alcançar a almejada vida “mais bonita e frutífera”, neste novo ano que se aproxima.

Maria Helena Paes



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